Sons de passos. Os sons de seus passos era a única coisa que a jovem ouvia. E talvez, as batidas de seu agitado coração.
Caminhava apressada sobre a ampla esplanada de mármore que era o chão do palazzo. Sua postura permanecia firme, com os braços colados ao corpo e a cabeça erguida, resoluta, tendo o rosto coberto pelo tricórnio azul em cuja aba existia uma pluma branca.
Aquela era Isidora DiFerrazo. Tão nova e portando uma importante e arriscada função. Em tão pouca idade, era major da Guarda Real de Roma, e por conta disto, tinha o dever, a difícil obrigação, de pôr sua vida em risco para proteger a vida do herdeiro do trono.
Isidora caminhava de cabeça erguida nos corredores do palazzo, rumo à sala do trono. O coração não parecia caber dentro de sua caixa torácica, martelando impulsivo. Culpou até mesmo o apertado espartilho, cujos cadarços passados firmemente nas barbatanas metálicas poderiam estar contribuindo para a sua falta de ar.
Não. Era culpa de seu agitado coração mesmo.
Passou pelos sentinelas, que em sinal de respeito à major, inclinavam a cabeça descruzando o "xis", na entrada da sala, feito com as lanças. Sabiam quem era Isidora DiFerrazo, mesmo que seu rosto estivesse quase escondido pelo tricórnio.
— Major! — os guardas a saudaram.
Isidora sentia uma flama de poder quando tais sentinelas, incluindo os civis, tratavam-na com tamanha cortesia. Tudo isto, por conta de sua posição. Levava tal título com grande orgulho, e assim como todos os soldados da Guarda Real, que serviam à Coroa.
Como entrara naquela vida? Era uma longa história. Tudo começou com o general Gerânio DiFerrazo...
Óbvio que o general não era seu pai biológico. Gerânio DiFerrazo achara Isidora, ainda bebê, em uma cesta de vime perto dos bastiões do palazzo. "Seu pequeno milagre", era como sempre chamava-a. Isidora não chegara a ser acalentada pela mãe adotiva, pois esta morrera, acometida de tuberculose. Para a desgraça maior do general, Hortênsia estava grávida. Duas vidas inocentes encerradas pela maldita doença. Criar Isidora, segundo Gerânio, fora seu maior prêmio. Saíra do fundo do poço ao contemplar o sorriso terno da bebê na cesta.
Nunca culpe tua mãe biológica, era o que Gerânio costumava dizer. A vida é dura para todos, talvez ela seja jovem ou tola demais para cuidar de ti, Isidora.
Todavia, nunca mais escutaria a voz do pai a contar tal história. Seu pai fora atingindo por uma flecha envenenada, e morrera antes do socorro chegar. Isidora era bem pequena quando tudo ocorreu.
Por conta deste triste acontecimento, Isidora quis tornar-se parte da Guarda Real e honrar a memória de Gerânio. Não ficara desamparada com a morte do pai. As criadas do palazzo cuidavam bem da menina, que crescia com os modos de um garoto, muito rebelde e cheia de energia.
Em umas de suas aventuras, quando subira na macieira para apanhar maçãs para seu cavalo, acabou caindo e machucando os joelhos. Fora quando um menino, que por ali passava, se voluntariou para tratar de seus machucados. Naquele dia, ela conheceu Lorenzo, e mesmo o príncipe sendo uma criança na época, Isidora encontrou calor em seu sorriso. Naquele dia, jurou protegê-lo e sempre estar ao seu lado.
A major adentrou a sala do trono, sem tirar os olhos do rapaz que estava a pintar em uma tela com respingos em amarelo sobre um tripé. O cheiro de tinta emanava pelo cômodo, tornando todo o lugar como se fizesse parte de um sonho distante e feliz. Assim que vira a jovem de semblante sério, o príncipe Lorenzo abriu um sorriso largo para Isidora.
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BRAVURA
Historical Fiction"- Quero que seja um Assassino. O coração do pequeno menino parecia não caber no peito mediante a tamanha aflição, diante do questionamento do misterioso senhor. - Como disse, senhor? O garoto escutara perfeitamente o que o vecchio dissera...