A escola esperava Vincent, e o garoto não podia negar para si mesmo, o quanto estava nervoso. Suas mãos estavam suadas, deveria ser por conta do excesso de roupas que Gertrudes resolvera lhe vestir. Ele tremia-se e o coração martelava afoito. A sua ansiedade somente contribuía para que ficasse mais nervoso e trêmulo. Encarava o reflexo assustado no grande espelho. Estava com a tez nitidamente pálida, dando mais destaque para seus olhos. Até mesmo seus cabelos estavam tosados, dando uma outra aparência. Parecia mais saudável.
Vincent sentia-se esquisito e, ao mesmo tempo, patético, vestindo suas roupas, que consistia em um chapéu de camurça, calças xadrez, sapatos de veludo com meias que iam até as panturrilhas, camisa branca de algodão cujas mangas eram bem compridas, quase ocultando suas mãos. Trajava, também, um colete preto. Gertrudes deu um toque final ajudando-o a arrumar o laço-gravata em cor vermelha e enrolara, também, um cachecol de lã em seu pescoço. Havia entregue a ele uma pequena cesta que continha alguns pães, maçã e uma garrafa de leite fresco, pois aquele era o seu almoço.
O tempo estava deveras frio.
Ainda estava incerto se deveria ir à escola. Ora, não sabia o que esperava. E se os estudantes fossem agressivos, a ponto de serem hostis com ele?
— Estás pronto, rapaz? — A voz grave de Harrington surgiu, preenchendo o cômodo.
— Acho que sim — Vincent erguera os ombros, quase a encolher a cabeça.
— Meu rapaz, precisas parar com este gesto de sempre dar de ombros. Aprume o peito, ande ereto e não abaixe a cabeça. — Sugeriu, quase ralhando com o menino.
— Tentarei — voltou a dar de ombros.
Harrington bufou, incomodado com a postura curvada e os ombros caídos de Vincent. Mas, precisava de tempo para moldá-lo, lapidá-lo conforme sua sublime vontade, afinal, maus hábitos eram coisas que cravavam na alma e tão cedo iam embora.
— Aqui — repassou para ele uma pasta de couro envelhecido, atada com um laço. — O seu passaporte para uma boa educação.
Vincent não ousou questionar o que carregava em mãos. Naquela pasta haviam certos documentos, tais como certidão de nascimento e transferência de outras escolas, todos forjados por Harrington. Ou isto, ou contar a verdade de que Vincent era órfão e um garoto de rua e vê-lo trancafiado em uma instituição para jovens rebeldes.
Respirando fundo, partiram rumo ao Collegio Toulose.
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O homem sempre tão cavalheiro abrira a porta do coche para o pequeno menino. Acomodaram-se, silenciosos. O coração de Vincent agitava-se em seu tórax, ansioso, temeroso. Havia um aglomerado de emoções rondando dentro do menino, e ele não sabia distinguir se as tais eram boas ou ruins.
— Está nervoso, Vincent? — Harrington perguntara, acendendo as brasas do charuto.
— Um pouco, Sr. Harrington. — Apertava a pasta de couro, fazendo a ponta dos dedos ficarem roxas e as unhas esbranquiçadas. — Não sei como é uma escola. Eu nunca frequentei uma escola antes e... não sei o que me espera... — Podia jurar que estava a sentir o coração na garganta.
— Não sejas tão ansioso. O primeiro dia de aula é sempre o mais difícil. Mas, depois de um certo tempo, tu irás se acostumar.
Harrington falava com tanta firmeza, que deixava o coração do menino mais calmo. Vincent olhara pela janela da carruagem. A brisa fria refrescava o seu rosto, abrasado pela ansiedade. O trotar do cavalos fizera com que os pensamentos de Vincent, voassem para longe. O caminho, formado por uma trilha de pedrinhas e cascalhos, era demasiado encantador, como se tivesse sido retirado de um conto de fadas. As árvores formavam uma imensa sombra, protegendo-os dos limitados raios de sol.
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BRAVURA
Historical Fiction"- Quero que seja um Assassino. O coração do pequeno menino parecia não caber no peito mediante a tamanha aflição, diante do questionamento do misterioso senhor. - Como disse, senhor? O garoto escutara perfeitamente o que o vecchio dissera...