Capítulo 32

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Haviam inúmeras tarefas a serem feitas. Naquela manhã, em especial, Mileide encarregar-se-ia de despertar Tarsila. Já passava da terceira hora da manhã e Tarsila acomodou-se em suas cobertas. Para Mileide, a prima não parecia tão entusiasmada com o casamento com o herdeiro do trono. Outrora, Tarsila dissera que o príncipe era o amor de sua vida e elogiou seu comportamento agradável, no entanto, mantinha-se quieta, por vezes indo cavalgar para longe das terras da mansão, sempre a chegar em seu lar exausta e com as bochechas em rubor.

— Acorde, querida prima. — falara Mileide muito docilmente.

A garota aconchegada em seu leito sequer aparentava estar viva. Tomando outra atitude, Mileide afastou as pesadas cortinas, permitindo que o sol banhasse os aposentos da sonolenta filha do duque. Incomodada com os petulantes raios solares, Tarsila virou-se na cama, ficando de bruços. Murmurou algo incompressível — por certo, uma obscenidade —, tratando de esconder a face sobre os inúmeros travesseiros de plumas. Os cabelos, mui grandes, caindo para fora da cama.

— Por favor, Tarsila — Mileide suavizou a voz, temendo dar uma repreensão na prima. — Precisas estar pronta para mais uma prova do vestido de casamento. A costureira estar a sua espera. Deves tomar o desjejum desta manhã e cumprir seus compromissos de noiva.

— Outra prova de vestidos? — questionou, monotonamente. — Que coisa mais enfadonha. Estou exausta disto tudo. Mal vejo a hora deste maldito dia, deste maldito casamento chegar.

Mileide sobrepôs ambas as mãos sobre a boca, em espanto. Tarsila amaldiçoava o dia de seu matrimônio. Mileide meneou a cabeça várias vezes. Se fosse seu casamento, ela jamais diria tais coisas. Ao contrário, se o príncipe fosse seu noivo, o amaria com toda a sua alma. Mas ao que aparentava ser no caso de Tarsila, a noiva estar enjoada do noivo e do casório.

— Bom, minha prima, foi o que a duquesa me dissera para que te aprontes para a prova de vestidos. — Mileide consentia, esfregando a mão direita no antebraço esquerdo. Massageava as marcas de arranhão na pele. Resultado da coação de Brígida.

Tarsila não mexia-se na enorme cama, e aparentava emitir um ronco abafado pelos travesseiros. Mileide, rezando para não perder a paciência, andou até ela e puxou as cobertas.

— Tarsila, por favor lhe peço que acordes. — Mileide estava quase a implorar. Por pouco não confessara que temia ser castigada pela duquesa.

— Deixe-me dormir, Mileide! — ralhou, tateando o colchão, miseravelmente tentando recuperar as cobertas. — Se mamãe quiser, ela pode fazer a prova de vestidos no meu lugar.

— Isto não posso dizer para a duquesa. Ela ficará muito brava caso não obedeças.

Passeou os olhos pelo quarto, em busca de outra estratégia para tirar Tarsila da cama. Olhou para a bandeja com o desjejum sobre o aparador — uma tigela de mingau de aveia —, e tratou de levá-la para a prima.

— Trouxeram o teu café da manhã — Mileide tratou de levar a comida até a prima. — Creio que deves alimentar-te. O desjejum é a refeição mais importante do dia.

Assim que Tarsila sentiu o cheiro do mingau, de modo histérico levantou-se do leito, empurrando a bandeja das mãos de Mileide, fazendo a tigela de porcelana quebrar-se, espalhando mingau sobre o chão.

— Tarsila! — Mileide fitava-a assustada. O coração pulando em pânico no peito. — Por que fizestes isto? Estás louca?

Per l'amore di Dio — Tarsila tapou a boca com as mãos.

— O que deu em ti, Tarsila? — Mileide recolhia os cacos de porcelana, colocando-os sobre o avental. — Se não queria alimentar-se, bastava dizer.

— Esse maldito cheiro desse mingau — Tarsila falava, nauseada. — Quase fez-me vomitar. Não suporto não olhar para comida, sem sentir vontade de regurgitar.

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