Era como perseguir um fantasma formado de névoa. Os dias correndo impiedosos equivalente às areias apressadas de uma ampulheta rachada, comungando para que o desespero da major Isidora surgisse em um crescendo rasante. A chuva repentina em nada ajudava na patrulha, e o terreno escorregadio do desfiladeiro tampouco. Os cavalos da Guarda Real percorreram uma grandíssima e estafante distância da cidade de Florença para o bosque. E nenhuma pista sequer do dono da flecha que feriu Lorenzo.
— Entraremos no bosque, rapazes — Isidora dissera, montada em seu alazão. — Quem tem medo, faça agora meia-volta e abrace a vergonha de ser conhecido como um covarde.
Todos os homens da Guarda Real a seguiram.
— Posso parecer um debole — comentou um dos guardas, — mas esse lugar arrepia-me a espinha.
— Tens medo de algumas árvores de galhos secos, soldado? — a major voltou-se ao soldado que sussurrava.
— Esse lugar, major, é deveras assustador. Parece que a qualquer instante, almas penadas atadas com correntes puxarão meus pés.
— Então, tens medo de fantasmas?
Após a breve indagação, a major conseguira arrancar risadas da tropa.
— Não, senhora — o soldado amedrontado respondera, encolhendo os ombros.
— Temo mais às ações dos vivos que aos mortos.
Quando cerrou os lábios (no mesmo instante em que um raio rasgou os céus), os homens da Guarda Real avistaram um amontoado de lama rastejando-se em direção à eles. O monte de lama rastejante emitia gemidos agoniantes de dor e lamúria.
— É o demônio! — gritara o soldado da primeira fileira.
— Eu não avisei? — falara perplexo o soldado que antes benzia-se. — Esse lugar deve ser amaldiçoado.
Os soldados prepararam-se com as espadas, concentrados em apunhalar a criatura grotesca. Isidora descera do cavalo, desembainhando a rapieira, incrédula por ver algo tão inexplicável. O monte de lama continuava a rastejar-se, desta vez em direção a major Isidora. A criatura, clemente, tocara a bota da major, gemendo em agonia. Assim que cabeça da criatura levantou-se, Isidora deteve-se.
— Esperem! — Isidora ergueu a mão aberta. — Não avancem as espadas.
Ajoelhou-se, tocando o rosto da criatura que gemia, retirando o máximo de lama e folhas secas que permitia.
— Ajude-me... — a palavra brotou com dificuldade dos lábios lamacentos.
— Oh, meu Deus.
E a criatura de aparência maléfica e sons agoniantes revelou ser um homem de aparência muito debilitada. Apoiou-o nos ombros, sujando-se com a lama do corpo do homem surrado, colocando-o sobre o seu alazão.
— Precisamos ajudá-lo — Isidora dissera à tropa. — Esse homem está muito machucado. Necessita de cuidados médicos urgentes.
Os soldados assentiram, seguindo a major cuja nova missão obstruíra seu caminho.
— Por favor — pediu Isidora, — diga-me o seu nome.
— Ru-Rubens.
— Fique comigo, Sr. Rubens. Não o deixarei padecer, juro por minha vida e por meu código de honra como major.
Cavalgaram muito, sob uma forte tempestade capaz até mesmo de encharcar os ossos, quando Isidora avistou, encravada entre as montanhas, uma choupana pequena levantada com tábuas de madeira. Tratava-se de uma pousada. Descera do cavalo e ordenou aos seus homens para que a seguissem. Dois dos soldados apoiaram Rubens, descendo-o com cuidado da sela do cavalo. Carregaram-no sob as gotas de chuvas que caíam com força dos céus.
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BRAVURA
Historical Fiction"- Quero que seja um Assassino. O coração do pequeno menino parecia não caber no peito mediante a tamanha aflição, diante do questionamento do misterioso senhor. - Como disse, senhor? O garoto escutara perfeitamente o que o vecchio dissera...