Uma voz infantil e angelical soou, irrompendo pelo campo de margaridas.
— Vovó, achei uma borboleta — dissera uma menina de gentis olhos vermelhos, com covinhas formadas pelo sorriso meigo. Seu ondulado cabelo castanho acompanhava a brisa. Tinha nas mãos uma borboleta azul.
— Estou vendo, minha netinha. — replicou uma senhorinha de cabelo branco e rosto parecido com uma ameixa seca. — Agora solte-a, para que voe livre.
Vincent coçou os olhos, boquiaberto. Era Natasha e Nina. Sua irmã estava viva e ainda era uma pequena de seis anos de idade. E a sua avó continuava do jeitinho que ele recordava-se.
— Nathas... — interrompeu-se ao olhar para o outro lado do campo de margaridas.
Por pouco, Vincent não chorou.
Era Enna Bellini, sua mãe. Tão linda e serena. Para Vincent, sua mãe era uma mulher tão bela e bondosa que nem mesmo a formosura de uma rainha chegava a vossos pés.
— Meu filho. Estás tão grande. — Enna aproximou-se do rapaz sentado ao chão.
— Vince cresceu mais do que eu! — Natasha cruzou os braços, fingindo estar com raiva. — Eu nasci primeiro! Não é justo!
— Meu neto está um verdadeiro rapagão! — Nina tecia agilmente uma coroa de margaridas.
Levantando-se da erva verdejante, Vincent ainda encarava pasmo, aquelas figuras do seu passado. Não era possível!
— Vincent, estou tão feliz por tu estar aqui. — Enna repousou ambas as mãos sobre o rosto do filho. E suas mãos estavam frias.
Beijara a testa do rebento, fazendo os cabelos roçarem sobre o rosto de Vincent, instigando-o à soltar as lágrimas, por conta da emoção daquele momento.
Sua família estava viva. Não precisava de mais nada.
Um estrondo ressoou nos céus e o manto que era azulado tornou-se vermelho como o sangue. Um vento forte soprou na campina, murchando as margaridas. Natasha dera um grito estridente, agarrando-se à avó, e Nina estava tão assustada quanto a menina.
E, então, Enna virou-se para o filho com os olhos alarmados.
— Vincent, fuja!
Vincent acordou de supetão, com o rosto muito suado e com o corpo todo trêmulo. Arfou, em uma vã tentativa de voltar a respirar normalmente.
Era tudo um sonho. Sua amada família, continuava morta. Fora enganado por um sonho tão real... Fora transportado para a fleuma de um belo sonho que tornou-se um cruciante pesadelo.
A primeira coisa que deparou-se foram as paredes de seus aposentos, revestidas em barro, e a janela, que era apenas um buraco na parede com dois pedaços de pau, formando uma cruz. Era o seu local de descanso. Pequeno, com chão de terra e com cheiro de incenso. Seu leito era feito de palha, cobrindo uma tábua dura que lhe servia como cama.
O rapaz sentou-se na beira da cama, friccionando as mãos no rosto. Sua mente trabalhava devagar e logo tornou-se clara como água. Fitou as palmas das mãos, muito calejadas, e os braços com cortes de lâmina. A memória retornou com rapidez.
Rememorou-se dos acontecimentos anteriores.
Residia em Jerusalém, na guilda dos Assassinos, no atual momento, juntamente à Harrington pois ainda era um foragido da justiça. Como Vincent poderia esquecer daquele calor infernal, que o acompanhava por cinco meses ou dos treinamentos insanos das quais era submetido?
VOCÊ ESTÁ LENDO
BRAVURA
Ficção Histórica"- Quero que seja um Assassino. O coração do pequeno menino parecia não caber no peito mediante a tamanha aflição, diante do questionamento do misterioso senhor. - Como disse, senhor? O garoto escutara perfeitamente o que o vecchio dissera...