Capítulo 40

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     🚨AVISO: O CAPÍTULO CONTÉM DESCRIÇÕES FORTES, QUE PODEM SER PERTURBADORAS PARA ALGUNS LEITORES.🚨


Mileide acordara assustada naquela madrugada. Enxotou as muitas galinhas que dormiam sobre ela, retirando as penas que ficaram presas em seus cabelos. Atentou-se aos barulhos de choro e gemidos que vinham além da porta de madeira do galinheiro.

Acendeu a lâmpada a óleo e saiu do galinheiro. Passou um dos braços ao redor do abdômen, tremendo pelo frio da madrugada que a camisola de tecido desgasto não conseguia protegê-la.

— Há alguém aqui? — o coração espremendo-se em medo.

Coragem, Mileide. Uma voz ecoava dentro dela. Já enfrestaste a fiera, não há mais nada a temer.

Levantou a lamparina e retornou a questionar.

Rodeou o velho celeiro, e encontrou, atrás dos barris com cevada, o atalaia, de torso desnudo com a testa encostada na parede externa de madeira do celeiro. Vincent soluçava. Mileide aproximou-se em silêncio. Era a primeira vez que contemplava o jovem a demonstrar alguma emoção. Sempre o vira tão rígido e estoico, que vê-lo chorando, daquela forma, doía seu coração.

— Vincent... — chamou, carinhosamente. — Está tudo bem?

Mileide ajoelhou-se diante do rapaz, e na luz da lamparina, vislumbrou as mãos dele.A moça muito preocupou-se. Apanhou ambas as mãos do rapaz, notando os cortes brotando o líquido rubro. Jogada na grama, perto dos joelhos de Vincent, uma adaga ensanguentada. Parecia que estava castigar-se. Ele ferira suas mãos. Apresentara o estranho comportamento de novo. Antes, jogou-se do alto daquela cachoeira, e agora, apresentava cortes nas mãos. 

— Por que te flagelastes deste jeito?

— Porque há um monstro em mim — arquejou. — E esse monstro precisa ser domado.

— Pares de falar bobagem — apoiou-o nos ombros. — Vamos entrar. Temos de cuidar destas feridas. Chamarei Dracone e...

— Não! — Vincent impediu-a de terminar a frase. — Não chame ninguém.

— Não chamarei Dracone, mas tem que permitir que eu cuide de ti.

Vincent assentiu. Uma sombra cobrindo o rosto pálido.

Entraram no velho celeiro, e Mileide repousou o rapaz na cama. Apanhou uma vasilha de barro e encheu com água pura. Lavou os cortes na mão de Vincent e em seguida, enfaixou-os com cuidado. Enquanto enfaixava a mão direita do jovem, Mileide não pode deixar de perceber que Vincent a olhava. Um olhar tão abatido que machucava. Fora isso, o rapaz estava com o tórax exposto e naquela perfeição de músculos do peitoral, Mileide viu uma cicatriz enorme. Desviou os olhos, corando muito.

— Sou um monstro... — Vincent falara, baixinho.

A garota parou de enrolar a faixa na mão de Vincent, olhando-o com piedade. Não entendia, céus, por que Vincent estava martirizando-se daquela maneira. Ele havia saído para um jantar e voltado daquela maneira tão anormal. Mileide somente conseguia pensar que o rapaz fora abordado por ladrões no meio do caminho, e pressionado a defender-se, matara os malfeitores.

— Não és um monstro, Vincent — dissera, compassiva.

— Por que tu achas que não sou? Nem mesmo me conheces.

— Não creio que sejas mau.

— Como pode ter tanta certeza?

— Não és mau — afirmou, quase em um grito sufocado. — Não poderás mexer as mãos durante algum tempo. Pode contar que o houve?

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