O tempo desvanecia em persistir como a fumaça dos incensos. Outrora, Vincent surgira na guilda como um menino assustado, receoso em obedecer as missões ou machucar pessoas. No entanto, quase perto de completar dezessete anos, praticamente um homem, Vincent compreendia que aquele mundo, o mundo que fora de seu pai, agora era parte de sua vida. Estava conectado em cada membro de seu corpo, por tênues linhas vermelhas.
Vincent permanecia sobre o desenho de um grande sol, com um dos joelhos no chão, e a outra perna dobrada com o braço repousado sobre ela. Diante dele, cinco pessoas trajando mantos escuros, e entre eles estava Ghalib, sentados atrás de mesas altas, semelhante aos juízes, somente a observar o mentor conduzindo o ritual. Eram conhecidos como Anciões, Assassinos idosos que conduziam rituais de iniciação dos jovens. Eram eles, quem decidiam o destino dos combatentes. Todos os respeitavam por sua sabedoria e experiência de vida.
A luz das velas nos candelabros deixava toda a biblioteca com uma aparência umbrosa e nada convidativa.
— Por honra e por glória — Harrington andejava de um lado para o outro dando meia-volta e retornando —, é nisso que acreditamos. Todo homem, ao completar seus quatro anos de treinamento, deves passar por esta formalidade. — concluiu em um sorriso sóbrio.
Quatro longos anos, sendo testado de todas as maneiras.
O rapaz volveu a atenção para o vitral da biblioteca, acima da cabeça dos Anciões, enquanto Harrington continuou a falar sobre a jornada dos Assassinos. Nem ao menos recorria ao grande livro aberto sobre o suporte de madeira, pois todas as informações permaneciam na mente do vecchio.
— O Clã surgiu no Egito Antigo, quando Abiel, um escravo hebreu, cansado das injustiças resolvera criar um grupo de justiceiros sem nome.
Cercado por tantas estantes com livros e pergaminhos históricos que exalavam um cheiro de bolor, Vincent queria ao menos que os raios da lua cheia que atravessavam o vitral, tocassem seu rosto. O mentor fizera questão de arrastar sua iniciação por horas.
A noite estava bela. Propícia para admirar as estrelas. Certamente, Esmeralda iria gostar da ideia.
Ah, Esmeralda Anore.
Somente por lembrar o nome da donzela de olhos esverdeados, as mariposas no interior de Vincent agitavam-se, loucas, dentro de seu estômago, seguindo por suas mãos que começavam a suar.
Conversavam bem pouco, agora que Esmeralda ocupava-se no Templo, com as tarefas que a tornariam uma sacerdotisa por completo. De vez em quando, Vincent cruzava com Esmeralda pelos corredores da guilda. Apenas trocavam demorados olhares silenciosos. Eram códigos trocados pelos jovens, desvendados apenas por eles.
— Sob os pilares da justiça e da irmandade, o Clã dos Assassinos estabeleceu-se, e... Vincent, tu não estais prestando atenção! — o vecchio cessou o falar, fitando o discípulo.
— Desculpe, senhor — Vincent arrumou a postura desconfortável. Sua perna estava começando a dar câimbras.
Era impossível prestar atenção no que Harrington discursava, quando sua mente o lembrava da doce figura de Esmeralda. Vincent queria sair daquela biblioteca claustrofóbica e pouco iluminada e apreciar a noite junto à ela.
Após o longo discurso, assim que Harrington terminara, a voz da Anciã irrompeu pela biblioteca. Era um timbre manso, como a brisa, e repleto de autoridade.
— Beberás do cálice que muitos beberam. Sentirás, o que muitos sentiram. Verás com teus olhos, o que outras orbes já contemplaram. — dissera a Anciã.
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BRAVURA
Historical Fiction"- Quero que seja um Assassino. O coração do pequeno menino parecia não caber no peito mediante a tamanha aflição, diante do questionamento do misterioso senhor. - Como disse, senhor? O garoto escutara perfeitamente o que o vecchio dissera...