Capítulo 46

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— Sim, meus deuses — Malquior disse em tom sombrio. — Esses sons infernais são música para meus ouvidos! — balançava ambos os dedos indicadores como se fosse um maestro cruel.

A horda de Illuminatos avançava na direção da fortaleza. As chamas consumiam a parte de baixo da edificação. E Vincent observava tudo, preso em sua personificação de Espectro. Malquior aproximou-se do jovem, a sussurrar para ele.

— Estais aí, Blackheart? — escarnecia. — Consegues ver o lar de teu amado pai ser destruído por mim?

O Espectro não respondeu.

— Estais ouvindo, Espectro?

— Sim, signore. — respondera.

— Mate todo aquele que ficar em meu caminho.

O Espectro desembainhou Arcanjo, marchando quase de forma orquestral, rumo a cumprir a ordem de Malquior. 

Imagens repetidas e sons intermináveis.

Faça isso.

Gritos dolorosos e tinidos de espadas.

Mate-os.

Cadáveres no chão.

Destrua-os.

O cheiro de enxofre no ar. A espada rasgando a carne dos Assassinos, e o sangue fresco respingando em sua armadura.

Continuava cego, prisioneiro e ocluso dentro de uma densa neblina da qual não conseguia escapar. Tudo ao seu redor era um sonho distorcido e cretino. A espada em sua mão pesava a cada investida. O cheiro de sangue e metal a misturar-se e tornar-se uma fragrância deplorável.

O monstro abrangido em si, emergindo à tona de seus pesadelos, a sensação que lhe deixava sedento por matanças. A mente somente ecoando as palavras de Malquior, enquanto suas veias envenenadas com haxixe e ópio, impediam-no de pensar por si mesmo.

Tu mi servirai, corpo e anima, senza disobbedire e senza mettere in discussione.

Desviou-se do golpe da espada do inimigo, fincando Arcanjo em sua garganta.

Tu mi servirai, corpo e anima, senza disobbedire e senza mettere in discussione.

Um pensamento obscuro e funesto preenchia a mente do Espectro.

"Não vou mais controlar você. Domine-me, meu doce veneno! Faça sofrer, aqueles que me fizeram sofrer! Destrua, aqueles que me destruíram! Farei desta cidade, um inferno de fogo e sangue!"

Caminhava até a câmara do líder do Clã.


Ícaro e Isidora, montados no cavalo, vislumbravam as muralhas da fortaleza. Uma fumaça negra, vinda de dentro da edificação preenchia os céus. O alvorecer estava sendo coberto por nuvens de chuva, e era visível perante os olhos do arqueiro que seu lar fora tomado pelos Illuminatos.

— Maldição. Como isso foi ocorrer? — Ícaro questionava a si mesmo.

— Perdoe-me por não confiar em ti. Fiquei tão angustiada pelo fato de seres um Assassino que até mesmo cogitei que desejas matar Vossa Alteza — Isidora mordera o lábio inferior. — Eu estava errada.

— Todos nós erramos. Miramos em pessoas erradas, tivemos foco em coisas equivocadas. Eu mesmo cogitei que o príncipe pudesse ser um Illuminato. Enganei-me.

— Como farás para resgatar vossos amigos?

— Se conheço bem estes malditos, irão comemorar a queda do Clã, e farão muito de nós, prisioneiros. Irão embebedar-se e irão adormecer. Aproveitarei então, para resgatar meus amigos.

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