Capítulo 29

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A paciência de Jervaise estava absurdamente curta.

— O passarinho já começou a piar? — Jervaise inclinou-se sobre Rubens.

O loiro sacudiu a mão direita, com o sangue escorrendo dos dedos. Os ossos da mão da doíam, e complacência, bom, quase certo de que Jervaise não sabia o que significava tal palavra. Andou até a outro extremo da cela, apanhando da mesinha — que continha desde tesouras a serras e martelos — um pano de veludo, a enxugar os dedos empapados. Ícaro examinava o prisioneiro e o carrasco atentamente, sem opinar, afinal tinha conhecimento do quão irritado ficaria Jervaise caso fosse resolver interromper sua pequena sessão de látego pessoal.

— Ah, este sujeito está cansando-me. Dois dias e tudo que faz é cuspir sangue e sorrir a debochar de nosso Clã. — Jervaise jogou o pano sujo de sangue no canto da cela. — Deveríamos matá-lo. Seria um Illuminato a menos

— Brilhante, Jervaise. Deveríamos pôr tua ideia em prática neste exato momento — Ícaro zombava. — E aposto que tiraríamos relevantes informações de um cadáver, não achas?

— E o que devo fazer? — indagou, impacientemente.

— Torture-o um pouco mais. Uma hora terá de render-se a dor.

Rubens mexeu-se na cadeira, sacolejando os ombros, tentando soltar-se. Uma proeza que não seria feita, pois as cordas que o amarravam estavam deveras firmes.

— Desgraçados! — sua voz saiu alta e rasgada. — Vão se arrepender! Como ousam tocar no escolhido do Grande Mestre, eu, sendo o Cavaleiro Amarelo?! — os dentes de Rubens rangiam. — Vão se arrependem!

— Não lhe disse? — Jervaise apontou para Rubens. — Esse sujeito irrita-me um bocado.

— Como eu disse, Jervaise, continue com as torturas — Ícaro cruzou os braços. Havia um certo prazer na voz do arqueiro.

— Não direi nada! — Rubens gritou. — Nunca irão arrancar nada de mim!

— Apenas seus dentes e seu fígado, caso não fale. — Jervaise provocava.

O loiro enrolou uma faixa na mão direita, e retomou a socar a face de Rubens.

— Conte.

Desferiu um soco.

— Conte, seu inseto!

Mais um soco.

— Conte logo, miserável!

Outro soco.

Uma carne roxa cobria o olho direito de Rubens, obrigando a fechá-lo. A boca, arrebentada, com os dedos da frente dado por falta. O nariz quebrado, jogado de lado, deformando ainda mais o rosto. A face do Illuminato era uma confusão de carne, sangue e hematomas.

— Diga! — Jervaise levantou a voz, impulsionando todo o braço para trás.

— Eu digo! — Rubens choramingou. — Por favor, pare, eu digo tudo.

Um chiado baixo de água escorrendo, semelhante a uma torneira deixada aberta, chamara a atenção de Ícaro e Jervaise. Penderam a cabeça de lado, ao notar que o barulho provinha do Illuminato amarrado à cadeira, e debaixo de seu assento, uma poça de água amarelada havia se formado.

Isso é um Cavaleiro da Seita? — Jervaise apontou para ele, com o semblante tomado pelo nojo. — Ao menos haja como tal.

— Eu digo tudo que sei... — Rubens recuperava o fôlego. — O Cavaleiro que procuram chama-se Florestano DiLeria.

Ícaro aproximou-se do homem fustigado.

— DiLeria era o Cavaleiro Vermelho... Serviu ao nosso lado, quando o Grande Mestre exigiu que matássemos o Assassino que nos atrapalhava. Foi DiLeria quem sugeriu que matássemos a família do Assassino Blackheart, para que assim encerrasse a linhagem maldita do homem dos olhos escarlate — Rubens arfava. — Depois que fizemos o serviço, DiLeria afastou-se da Seita, mas ainda mantínhamos contato. Ele mantém um negócio ilegal em Florença.

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