Capítulo 2

9.2K 943 421
                                    


       Barbatana, como agora era chamado o garoto de olhos rubros, percorreu toda a província de Florença com o bando de delinquentes. Todos obedeciam cegamente Tubarão. Roubavam sem pudor os mercadores, muitas vezes, aqueles que mexiam com itens valiosos. Tinham "mãos de pano" quando o assunto era roubar sacos de moedas atados aos cintos dos cavalheiros. Barbatana apenas furtava alimentos. Segundo ele, era uma necessidade. Achava desnecessário roubar moedas de ouro ou bandejas de prata.

      Seguiu o bando por um ano, e já cansava-se de tamanha desordem no pequeno grupo. Detestava os atos de lealdade dos demais para com Tubarão, que nada fazia além de dar ordens e agir como um perfeito patife. Abria a boca somente para falar sobre puttanas e sobre o maldito rum.

      Naquele bando, os membros não tinham direito de usar seu nome de batismo, e eram obrigados a adotar as alcunhas ridículas que Tubarão lhes dava. E isso irritava Barbatana. Ele tinha um nome. 

Todo mundo usa a ti, pensou, até este nome vulgar deram pra ti e aceitastes de bom grado. 

      Posicionado em cima do galho de uma macieira em uma vasta campina, admirava a cidade de Florença. Tinha sentimentos contrários aquela cidade, todavia era difícil não deixar de admirar suas magníficas construções.

— Ei, guri! Tubarão está convocando a sua presença. — Olho de Peixe circulou as mãos ao redor da boca, berrando para o menino no galho.

       O garoto de olhos rubros ficou ereto, e em seguida pulou do galho, caindo com o corpo curvado e as mãos servindo de apoio. Meses andando com aquele infame bando aprendera os truques das ruas. Subia muros, escalava paredes, fugia veloz dos guardas. Eram leis de sobrevivência.

       Tubarão estava assentado sobre um rochedo, repousando o antebraço na perna dobrada, pomposo como um nobre. Bebia o rum como quem tem sede de águas. Mesmo tendo dezessete anos aparentava ter mais. Quem o via, poderia achar que já era um rapaz de vinte e tantos.

      Todos temiam Tubarão por causa de um punhal que fazia questão de exibir na cintura, como um prêmio. Dizia em voz alta e grave que a lâmina daquele punhal matara trinta pessoas. Barbatana sabia que era mentira. Quem tornava-se um verdadeiro facínora, nunca iria revelar que realmente matou alguém na vida.

— Barbatana, venha aqui. — Chamara-o, sinalizando com o dedo indicador.

      O menino andara receoso de encontro ao líder. Seus cabelos castanhos estavam mais longos, cobrindo a nuca e parte da visão. Havia uma bandana preta em sua testa, cobrindo o ferimento do dia anterior, quando Guelra o empurrou fazendo-o estatelar-se no chão, em mais uma de suas brincadeiras agressivas. As roupas — bermuda e camisa de cor encardida — continuavam em trapos, exceto porque agora o menino calçava sapatos, mesmo que com furos nas solas, sem contar nas meias altas e sujas que chegava até os joelhos.

— O que é?— Indagou em uma voz de desinteresse.

       Um estalo seco e alto surgiu na face de Barbatana, e pela força que o tabefe fora desferido em seu rosto, acabara por desequilibrar-se e cair na grama verde e alta. Novamente, agressões físicas. Mais hematomas. No entanto, tais agressões ficavam maiores conforme os meses passavam.

— Esqueceu de me chamar de "senhor", seu verme! — Tubarão cuspiu no chão. — É assim que me tratas? Te dou nome, um abrigo e um par de botas e me tratas como se eu fosse um zé ninguém?

— Tubarão é o nosso rei! — Guelra gritava sarcasticamente.

— Para o inferno, Guelra! — Tubarão bravejou, quase caindo de cima do rochedo.

BRAVURAOnde histórias criam vida. Descubra agora