"Caminho nas sombras, para servir à luz."
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Mileide tentava esquecer, ou ao menos, ignorar todos os nomes pejorativos o que a duquesa lhe nomeava. Todavia, seria impossível ignorar a dor cortante em seu dorso, proveniente das intermináveis chicotadas. Ela nada dissera ao duque, por ter uma vaga certeza de que Benito não a protegeria. Ora, seu tio estava velho e preso à uma cadeira de rodas. Além do mais, era totalmente submisso às vontades da esposa cruel. Não haveria ninguém para proteger Mileide da ira vindoura de Brígida Amadeo. Sentia que, mais cedo ou mais tarde, a duquesa impiedosa encheria seu corpo de hematomas.
Dormia com as galinhas, o que fazia acordar coberta por penas e com dores nas costas. A duquesa divertia-se demasiado com estas humilhações. O pior de tudo para Mileide, foi o quão dificultoso tornou-se fugir da mansão. O duque parecia aumentar o número de vigilantes uniformizados dia após dia. Vigiavam as entradas e as saídas, sem cessar.
Naquela manhã de primavera, Mileide foi designada com a tarefa difícil e enfadonha em escolher vestidos para a prima aborrecida. Tarsila experimentava um por um, sempre a reclamar de algum detalhe insignificante. Reclamava das fitas, dos apertados corpetes ou do tecido da roupa que era velho e fora de moda. Lançava as vestes do baú, deixando o chão do quarto abarbado de roupas.
— Em Paris, as pessoas transpiram moda — dissera Tarsila. — Sou obrigada a desfilar pelas ruas, vestida em trapos! Sou a filha do duque de Florença, e não uma bastarda de um capataz! E tampouco sou uma criada!
Olhou de chofre para Mileide, que mantinha um sorriso doloroso no rosto.
— Perdoe-me, prima, se a ofendi. — Tarsila mordeu o lábio inferior.
— Não ofendeu-me, Tarsila. — esfregava a mão direita no antebraço esquerdo.
Estava magoada. Sem intenção, Tarsila a magoou. Mas preferiu dar o assunto como enterrado.
"Claro que está perdoada... Você é como uma irmã para mim..."
— Meu príncipe logo estará chegando! — Tarsila retornou a reclamar sobre as vestimentas. — E nada tenho para vestir!
Mileide observava-a andar no quarto de um lado a outro. Nunca a viu com uma personalidade tão arisca e birrenta. Assemelhava-se à uma criança pequena e mimada que chora a fim de ter doces. Apanhou um outro vestido do baú e logo julgou-lhe lindo, com seu pálido azul e saias com bordados que remetiam a desenhos de rosas vermelhas. Tarsila ficaria linda naquele vestido.
— Experimente este aqui, minha prima. — ofereceu o vestido à ela. — Lhe garanto que ficarás linda com ele. — sorriu terna.
Tarsila andou até o biombo, experimentando o vestido atrás dele. Saiu detrás do biombo envolta de um tecido azul celestial.
— Estás linda, minha prima.
— Ainda acho este vestido um tanto antiquado. — rodopiava frente ao grande espelho, a fim de vê-lo melhor.
— Essa cor combina com teus olhos. Deverias usá-lo em uma ocasião especial.
— Tens razão, Mileide. Já que minha adorável prima insistes, irei usá-lo na chegada do meu príncipe, apesar de querer a visita urgente de um alfaiate. Agora, fique à vontade para escolher qualquer vestido meu, para que seja teu.
— Falas a sério?
— Claro que sim. Ajudastes-me a escolher minhas vestes, agora quero que escolha as tuas.
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BRAVURA
Historical Fiction"- Quero que seja um Assassino. O coração do pequeno menino parecia não caber no peito mediante a tamanha aflição, diante do questionamento do misterioso senhor. - Como disse, senhor? O garoto escutara perfeitamente o que o vecchio dissera...