Capítulo 49

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— Está tudo bem — Mileide continuava a correr de mãos dadas à Naomi. — Não deixarei que a machuquem.

Os gritos de batalha dos Assassinos contra os Illuminatos aos poucos cessavam, envolvendo todo o ambiente em um silêncio cruento e desestabilizador. Decerto os servos da luz recuaram perante o poder e destemor dos adversários.

Um som sufocado escapou da garganta de Mileide quando sentiu uma grossa mão agarrar-lhe o pescoço, apertando com uma força descomunal. Levou as unhas afiadas para o rosto disforme do homem, arranhando-o, indômita, tentando salvar-se daquele aperto infernal.

Os olhos semicerrados fitavam a garota silenciosa que contorcia-se na outra mão do gigante de aparência disforme. Mileide observou com grandessíssimo espanto quando uma lâmina prateada embebeu-se do sangue do titânico transpassando-o desde o dorso até aparecer em seu tórax. Gemeu, agonizado. Foi morto pela espada do Assassino loiro. Soltou as garotas, que caíram das mãos do gigante a fitá-lo derrubado.

De repente, Naomi correra para os braços do Assassino, apegando-se à ele. Jervaise abraçava Naomi, agarrando-se à ela como se fosse sua ponte de salvação.

— Noemi? — indagou, repousando a mão no rosto delicado da garota.

Negou.

— Naomi...

Assentiu com os olhos marejados.

Jervaise apertou-a, outra vez, contra o peito. Era bom sentir o calor dela outra vez. Os dedos da garota de túnica tatearam a faixa que cobria o olho do Assassino. Arqueou a sobrancelha, muito confusa.

— É uma longa história — explicara o loiro.

Jervaise dirigiu sua atenção à Mileide.

— Ei, garota, como te chamas?

— Mileide — respondeu, ofegante a massagear o pescoço. — Da casa dos Amadeo.

Reparou nas vestimentas daquela pobre criatura e muito apiedou-se. Trajava um espartilho e uma saia longa em farrapos. Mas o olhar daquela menina muito lhe chamou a atenção. Era sisuda como se dentro dela, dentro da casca de garota frágil, houvesse uma lutadora.

— Sabes lutar, Mileide?

Mileide assentiu muito seriamente.

— Pegue isto — retirou do Illuminato morto sua aljava e arco. — Vais precisar! — jogou para ela.

Mileide tinha a intenção de avisá-lo que pouco ou nada sabia sobre arco e flecha. Mas Jervaise estava longe, de mãos dadas, à garota silenciosa. 

Determinada, Mileide passou a aljava ao redor do magérrimo corpo. Agarrou a saia longa, de tecido gasto e sujo e rasgou a barra, encurtando-a assim facilitando quando fosse correr. Aventurou-se pelos corredores com paredes de pedra escura e úmida da fortaleza e em seu pensamento concretizava-se uma pequena flama de esperança de que talvez Vincent Blackheart estivesse vivo.

— Aprenderei a ser forte — sussurrara, subindo as estafantes escadarias de pedra. — E agora por ti, serei valente.

O olhar cruel do seu algoz o fitava, como se adentrasse a mais profunda masmorra de sua alma. Vincent levantou-se devagar. Não dar-se-ia por vencido. Analisou a face de feições delicadas do rapaz vestido de Grande Mestre à sua frente. Os olhos castanhos, da cor da terra molhada, a boca desenhada em uma curva de deboche mostrando seus dentes brancos e perfeitos, os cabelos lisos em tom da neve que caíam sobre os ombros... Seria tudo uma ilusão por conta do ópio nas veias de Vincent? Ou seria tudo aquilo real?

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