Capítulo 30

2.1K 588 277
                                    


     Em perigo. O herdeiro do trono, o último dos Sorentino, encontrava-se em perigo. Florença não era um lugar pacífico e tampouco seguro para o príncipe. Deveriam voltar para Roma e confiar sua segurança as muralhas do palazzo. Mas havia o casamento com a filha do duque. A major viu-se entre duas opções: o príncipe deveria se casar apressadamente e regressar o mais rápido possível para sua terra natal, a fim de possuir a coroa de rei, ou adiar o casamento e esperar que toda aquela loucura se dissipasse.

Os Assassinos não irão parar! Não enquanto a cabeça do príncipe estiver empalada em um mastro e essa cidade for consumida pelo caos. A garota estremeceu, sentindo um aperto no estômago. Perdera o pai de uma forma que a devastara por completo. Não perderia Lorenzo também.

Isidora refletiu e decidira falar com Lucius. Se havia uma pessoa que pudesse convencer o príncipe era ele, afinal Lorenzo nutria tal empatia pelo velho, que fazia-o parecer parte da família.

Estava molhada pela chuva, as botas enlameadas, e o corpo cansado pelas longas horas de patrulha.

Quando adentrou a sala de orações naquela noite, Lucius meditava sozinho no momento, em pé, no meio de um grande salão, cercado por inúmeras velas. Entoava sua reza em uma língua estranha. Aquela imagem causava arrepios na major. Desde menina, quando via as missas de Lucius seguido por seus seguidores de manto vermelho, sentia uma espécie de medo afligir em seu peito. Isidora limitou-se a ficar distante e ajoelhou-se longe do velho, tirando o chapéu de plumas da cabeça.

— Necessito falar com vossa pessoa, Sr. Lucius.

Lucius, de olhos fechados, sequer fez o esforço de volver-se e falar com a major, na entrada do salão, posta de joelhos.

— Diga, minha criança — incitou-a a falar. — O que queres?

— Sr. Lucius, eu... — inspirou e respirou, mordendo o lábio inferior. — Peço-te que convença o príncipe a casar-se em Roma — disse sem rodeios. — Ou isto, ou adiar este casamento, até que o responsável pelos ataques seja julgado e preso.

Lucius ficou alguns minutos em sileencio e Isidora pensou que o vetusto estivesse ignorando sua presença e seu pedido.

— Diga-me com sinceridade, pequena Isidora — permanecia preso em sua reza —, o matrimônio de Lorenzo com a senhorita Tarsila Amadeo lhe incomoda?

— Sr. Lucius, e-eu... — engasgou-se com aquele questionamento tão repentino.

— Sei que cresceste com Lorenzo e que ambos eram muito ligados quando crianças... Então, apenas responda-me se este casamento a incomoda.

De repente o ar que ia para os pulmões da major, parou. Seus arregalados olhos âmbares fitavam o piso de mármore com pequenas manchas pretas. Temia responder aquela pergunta de forma superficial a ponto de seus sentimentos serem descobertos.

— Não, Sr. Lucius — dissera, sendo enganada por sua própria mentira. — O casamento do príncipe não incomoda-me. Sei que ele só encontra-se a cumprir o seu dever, para que assim, garanta que a coroa de seu pai não se arruíne com as intrigas políticas.

— E por que tanta agonia em irmos para casa, minha pequena, posso saber?

— Não podes estar falando sério, Sr. Lucius? Acaso não soube que o príncipe foi atacado e ferido com uma flecha?! E eu... — tocou o recente corte na bochecha, uma fina linha escarlate com sangue seco. — uma flecha feriu-me há poucas horas.

— Sim, minha criança, eu fiquei a saber disto.

— E não te preocupas, nobre Lucius? — Isidora levantou-se, quebrando sua fleuma e sua reverência. — Não ficas preocupado caso uma vida inocente seja ceifada neste obscuro jogo de interesses?

BRAVURAOnde histórias criam vida. Descubra agora