— Precisa dizer a eles, Dracone — Mileide agarrava os ombros do cavalariço. — Eu lhe imploro. Diga para os soldados da guarda do príncipe que Vincent é inocente.
Dracone olhava compungido para a garota que lhe balançava os ombros de forma insistente.
— Escutei que os guardas o prenderam — Mileide continuou. — Não quero ficar parada de mãos atadas.
O rapaz afastou as mãos de Mileide de seus ombros, sem tirar os olhos vidrados do chão. Os cabelos mui maltratados caindo sobre o rosto sujo, dando-lhe a sublime expressão de sofrimento.
— Diga a eles que Vincent não fez nada disto! — a voz de Mileide soara alta. — Ele não matou ninguém, Dracone!
Enfim, o cavalariço tivera coragem de olhar para ela. Mileide fitava o olho de vidro do rapaz, um violeta tão fosco e estático que lhe causava um imenso desconforto.
— Por que o defendes? — Dracone deu de ombros. Claramente, sofria pela morte de Tarsila. — Por que importa-se tanto com o Sr. Ryder?
— Porque Vincent é meu amigo e seu também!
— Meu amigo? Para onde ele foi quando a filha do duque atentou contra a própria vida? Ele é um atalaia, não é? Por que não salvou a Srta. Tarsila? — do olho castanho de Dracone fugiu uma lágrima. — Não duvido nada que ele tenha causado estas mortes.
— Não creio que está dizendo este tipo de coisa — Mileide afastou-se, dando três passos para trás, furiosamente abalada com o que Dracone dizia.
— Além disso, o Sr. Ryder sempre saía escondido da mansão — Dracone rebateu. — Precisamos levar em conta...
— O quê? Não acredito que estais a falar desse modo! — exasperou-se. — Estás dizendo que Vincent é um sicário? Como podes acusar alguém desta maneira tão cínica? — empurrou-o.
Assim que foi desferido o empurrão contra Dracone, moedas de ouro escapuliram dos bolsos furados do rapaz. Na dada ocasião, Mileide entendera tudo. O cavalariço havia se vendido.
— Por favor, não entenda-me errado...
— Que tipo de homem és tu, Dracone? — Mileide alterou-se. — Deixou ser comprado por um punhado de moedas?
— A senhora Brígida ameaçou-me. Ela escutou quando a major informou ao duque de um possível Assassino entre nós. Disse-me para não ficar a favor do atalaia ou eu sofreria uma gravidade — Dracone esfregou o pulso abaixo dos olhos, enxugando as lágrimas de arrependimento. — Eu só temi ser castigado, senhorita. Sou um pobre infeliz desgarrado.
— Isso significa que não vai ajudar-me — não fora uma pergunta, mas a conclusão que Mileide dera a falação do rapaz.
— Não me tenhas por covarde, senhorita.
— Não és um covarde — respondera, vendo a face do rapaz transformar-se em alívio. — És pior do que isso.
Mileide montou no cavalo, muito decidida em ajudar aquele que tinha por amigo. Saiu em plena escuridão, sem ao menos olhar para trás o cavalariço que chorava de maneira desconsolada seu grande erro.
O vento cortante assobiava nos ouvidos de Mileide. O trotar do cavalo era ágil sobre a trilha de pedras inconvenientes. Desviava-se de árvores e obstáculos no caminho. A capa agitava-se atrás dela e o capuz servia-lhe bem, cobrindo o brando rosto. Cavalgava direto para a masmorra de Florença, um local tenebroso que nenhuma donzela jamais sentiria vontade de entrar ou mesmo passar pelos arredores.
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BRAVURA
Historical Fiction"- Quero que seja um Assassino. O coração do pequeno menino parecia não caber no peito mediante a tamanha aflição, diante do questionamento do misterioso senhor. - Como disse, senhor? O garoto escutara perfeitamente o que o vecchio dissera...