Capítulo 30

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ELICHA ANGEL
Washington - Seattle

Desço as escadas, ainda confusa com a repentina mensagem do Kyler. Passo pela sala totalmente vazia e desprovida de brinquedos do meu irmão mais novo.

Lucas foi passar o feriado com o pai, e acredito que ele esteja bem feliz longe das situações que me causa quando está aqui. Eu amo o meu irmão, mas as vezes da vontade de guardar ele em uma caixinha.

Se é que vocês me entendem.

Meus pés tocam o piso da cozinha, e eu congelo ao ver a cena à minha frente: Nach está sentado à mesa, comendo um pedaço de bolo que minha mãe claramente fez para ele. Eles conversam como se fossem velhos amigos.

Como sempre, Nach não cansa de vir aqui em casa para jogar conversas fora e, de brinde, me atormentar.

— Bom dia, bela adormecida - ele diz, um sorriso sacana nos lábios.

Minha mãe, ao seu lado, solta uma risada.

— Eu sempre disse que esse menino tinha bom gosto - ela comenta, passando a mão pelos ombros dele. Meus olhos se arregalam.

— O que... o que você tá fazendo aqui? - pergunto, a voz saindo mais aguda do que eu pretendia.

Eu não queria admitir, mas estava morrendo de medo da minha mãe descobrir. Ele iria surtar, e não de uma forma ruim. Mas perigosa. Todos da cidade ficariam sabendo em um minuto.

Ela é apaixonada por ele desde que éramos bebês, ela acreditava que meu destino era ao lado do Kyler, e me achou ainda mais doida quando decidi odiar o garoto.

— Vim tomar café da manhã - ele responde como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Seu sorriso formam covinhas nas bochechas. — E te ver, claro.

Reviro os olhos, mas antes que eu possa responder, meu celular vibra com uma nova notificação. Megan. Meu estômago dá um nó ao abrir a mensagem:

"Tá sabendo da última? Parece que você e o Kyler são o assunto da escola."

Nem precisou a minha mãe saber, nosso nome já estava na boca da metade de Seattle. Holf High School é a maior potência escolar daqui, principalmente no ramo de fofoca, eu acredito que

Estamos fudidos.

— Elicha, olha a boca! A essa hora da manhã e já está proferindo palavrões, que coisa garota - minha mãe se vira para o fogão, mexendo nas panelas, com aquela expressão de desaprovação clássica dela.

— O que foi? - Nach me olha sério, as covinhas desaparecendo de seu rosto quando percebe que algo está errado.

— Megan acabou de me mandar uma mensagem... - começo, sentindo meu coração acelerar. — Parece que nós dois somos o assunto da escola.

Ele franze o cenho, largando o garfo no prato.

— Como assim "o assunto"? O que estão dizendo? - ele se aproxima pegando o celular que entrego a ele.

— Não sei ao certo ainda, mas... - olho para o celular de novo, minhas mãos tremendo um pouco. — É Seattle, Nach. As coisas se espalham rápido. E sabe como as fofocas são na nossa escola. Um minuto somos os traídos, no outro...

— Estão dizendo que ficamos juntos? - ele completa, os olhos fixos nos meus. Há um misto de preocupação e algo mais que eu não consigo identificar.

Minha mãe, alheia à nossa conversa, continua mexendo nas panelas, cantarolando baixinho. Não é como se eu pudesse contar isso para ela — pelo menos, não ainda.

Transando Com A MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora