Transando Com A Morte

Capítulo 43

ELICHA ANGEL
Washington - Seattle

Uma semana depois...

Nach Kyler simplesmente sumiu.

Desde o dia em que fui drogada por Harley Morgan, minha ex melhor amiga, ele não apareceu na minha casa, nem na escola ou qualquer outro lugar que eu frequentava. O que é estranho, porque, no hospital, ele parecia não querer me soltar.

E agora eu estou... me sentindo péssima. Depois de tudo que aconteceu comigo, ele deveria estar ao meu lado. Eu queria dizer que sinto falta dele. Mas ele simplesmente desapareceu sem dar nenhuma notícia.

Nem sua mãe sabe me dizer aonde ele está.

Acrescentando que as Srta's Ampbell conseguiram colocar a família Morgan no chinelo com o caso, o que eu não consegui acreditar quando me contaram, pois os Morgan's são uns filhos da puta de ricos, e sempre ganham causas, independente de qual for o assunto.

Os pais da Harley são abusivos e medíocres, está na cara que eles só participam das missas para passar essa imagem de "santinhos", porém, eles estão longe de ser assim!

Mas é claro que com o poder que eles tem, elas conseguiram fazer apenas com que Harley fosse transferida para outra escola.

Ainda foi pouco, ela deveria ser expulsa para nunca ser mais aceita em nenhum lugar.

Mesmo assim, não vou reclamar, graças ao senhor, eu não irei precisar encarar aquela cara de coitada dela pelo resto do ano.

Os rumores rodaram por Seattle, porém a família Morgan conseguiu abafar o caso com alguns subornos. É claro.

O dinheiro compra tudo.

— Você tá parecendo aqueles nóias malucos quando a onda bate - Nick diz, caindo na gargalhada.

Eu o olho totalmente desinteressada enquanto os resto da turma também ri.

Scott, Addy, Logan e Megan.

Provavelmente ele disse isso porque eu estava parada olhando para um ponto específico da sala enquanto diversas coisas passavam pela minha cabeça.

Que engraçadinho, Nick, parabéns!

— Não liga pra ele amiga, você está incrível! - uma das gêmeas diz. — Só não pense demais.

Eu apenas faço que sim com a cabeça.

É meu aniversário, olha que surpresa!

E eu nem estou tão feliz assim como eu estava há alguns dias atrás. O qual era o momento mais esperado por mim, agora estava sendo o mais angustiante.

— Vamos! Vamos, querida! Chega de pensar, Já estamos muito atrasadas. - Kyla sai da cozinha vindo em nossa direção.

Ela estava linda. O vestido dourado era longo e justo ao seu corpo e os cabelos loiros caíram sobre o ombro com maestria. Ela estava deslumbrante. 

— E o Nach? - Eu ainda insistia em perguntar sobre ele.

Idiota.

É claro que ele não vai aparecer.

Ele não se importa com você.

— Ah, Eli, não pense nisso agora. Vamos! Os convidados estão no jardim, e todos querem ver a aniversariante mais linda da noite! - Ela sorri, mas o sorriso não alcança os olhos.

Eu sinto uma pontada de frustração, mas respiro fundo, tentando afastar a sensação. Claro que ela desviaria o assunto. Todo mundo está me tratando como se eu fosse feita de vidro ultimamente, e Kyla não seria diferente.

Enquanto ela me pega pela mão e me puxa para fora da sala, Nick e os outros me acompanham. O som de música ao vivo começa a preencher o ar conforme nos aproximamos do jardim.

As luzes penduradas entre as árvores criavam um efeito mágico, e as mesas de vidro cheias de arranjos dourados brilhavam sob a iluminação. Era um cenário digno de um conto de fadas. Eu deveria me sentir especial, deveria estar aproveitando cada segundo disso, mas o peso no meu peito não deixava.

O jardim estava lotado de convidados, alguns familiares, amigos e até pessoas que eu mal conhecia. Todos bem-vestidos, segurando taças de champanhe e conversando como se a vida fosse perfeita.

— Olhem quem chegou! - Kyla anuncia com entusiasmo, e todas as atenções se voltam para mim.

Eu sorrio automaticamente, mesmo que a última coisa que eu quisesse fazer fosse sorrir. Meus olhos vagam pelo espaço, quase por reflexo, procurando por ele. Mesmo sabendo que ele não estaria ali, uma parte de mim ainda esperava.

Mas é claro que Nach Kyler não está entre os convidados.

.

NACH KYLER
Washington - Seattle

Eu cometi um erro.

Eu sei.

Eu deveria ter ido atrás da Angel e conversado com ela, como uma pessoa madura faz. Eu deveria ter explicado tudo, contado o que estava acontecendo, mas não consegui.

E agora, aqui estou, vivendo o inferno que prometi a mim mesmo que nunca faria parte.

Quando pedi ao meu pai para esmagar os Morgan no caso contra a Angel, sabia que haveria um preço. Ele não faz nada de graça, nunca fez. O acordo era simples: quando eu terminasse o ensino médio, assumiria os negócios da família. Nada antes disso.

Mas, nós sabemos como as coisas são.

Meu pai nunca espera. Ele sempre quer tudo para ontem. Assim que o caso foi resolvido — graças a ele, claro —, ele me puxou direto para dentro do esquema.

"Considere isso um treinamento antecipado", foi o que ele disse com aquele sorriso presunçoso, como se estivesse fazendo um favor.

E agora, minha vida é isso.

Acordo antes do sol nascer e, em vez de ir para a escola como qualquer pessoa normal, estou aqui, afundado até o pescoço em dinheiro sujo, drogas e toda a sujeira que ele chama de "negócios". Contando pacotes de notas, checando carregamentos e visitando fornecedores que te olham como se estivessem prontos para cravar uma faca nas suas costas.

Eu deveria estar estudando para as provas finais, participando dos treinos da Holf, vivendo minha vida, indo atrás da Angel e tentando consertar as coisas.

Mas, em vez disso, estou jogando esse jogo podre, me tornando tudo o que eu sempre jurei que nunca seria.

Pior de tudo, meu pai está feliz. Ele olha para mim como se finalmente eu fosse digno de ser chamado de filho dele. Para ele, o que estou fazendo é "ser homem", é "assumir responsabilidades".

Para mim, é um buraco do qual não sei se vou sair.

E Angel...

Eu penso nela todos os dias. Toda maldita manhã, acordo com a imagem dela na minha cabeça. E, à noite, quando encosto a cabeça no travesseiro, tudo que consigo ouvir é a risada dela.

Mas não posso ir até ela. Não posso arrastar Angel para esse mundo. Ela merece mais, muito mais do que o caos que me cerca agora.

Talvez, no fundo, seja melhor assim. Talvez seja melhor que ela me odeie por ter sumido, porque, se soubesse o que estou fazendo, o que estou me tornando, ela nunca me perdoaria.

E eu não a culparia por isso.