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Dulce Maria Saviñon

— Acho que são as minhas roupas — comentei com Annie enquanto caminhávamos pelo campus e recebia aqueles mesmos olhares.

— Tem outras garotas que se vestem assim, principalmente as que fazem direito, então eu acho que tem mais a ver com o seu sobrenome mesmo. As pessoas têm curiosidade de saber mais sobre sua vida, afinal, você faz parte de uma família poderosa e mundialmente conhecida. De qualquer forma, esse interesse deve acabar logo, só estão assim porque a palestra é muito recente.

— Tomara — desejei e continuamos caminhando.

Havia outros filhos de ricos e famosos na universidade, mas eu sentia que tinha uma parcela especial da atenção das pessoas. Desconfiava que, depois de verem a expansividade de minha mãe, esse meu jeito fechado estivesse chamando a atenção.

Por causa da minha criação e principalmente das investigações que eram feitas a respeito de todas as pessoas que entravam em minha vida, eu fui perdendo a vontade de fazer novas amizades, tinha receio de que o perfil da pessoa não passasse pelo crivo do nosso sistema de segurança e eu tivesse que dispensá-la. Seria ridículo, por isso preferia me privar.

Ao chegar no auditório onde aconteceria a primeira aula, nós nos acomodamos no lugar de sempre. Apesar de fazermos cursos diferentes, tínhamos algumas aulas básicas juntas.

— Eu acho esse professor um charme — ela cochichou.

— Eu jamais ficaria com qualquer professor, pensa o escândalo que seria — comentei.

— Você é muito certinha, Dulce Maria — zombou e eu dei de ombros.

— Sou, sim, e pretendo continuar sendo — devolvi e voltamos nossa atenção para o professor que ensinava uma de minhas matérias preferidas.

A manhã passou voando e aproveitamos o intervalo entre as aulas para ir ao refeitório. Compramos algo quente para beber e nos acomodamos à única mesa disponível.

Estávamos na metade da nossa bebida quando o celular de Annie tocou. Após uma leve careta, ela disse que era sua mãe e pediu licença, pois a conversa seria longa.

Sozinha, passei o olhar pelo local e identifiquei vários grupinhos de alunos distraídos com suas próprias conversas.

Em Oxford havia poucas fraternidades e elas eram bem definidas pelo estilo dos alunos. Como em outras universidades, havia a das "Patricinhas", formada em sua maioria por garotas ricas e bem-nascidas, que davam festas primorosas com direito a convite e lugar marcado na mesa. O mesmo acontecia com a fraternidade dos "Mauricinhos", cheia de rapazes que se achavam a melhor criação do universo.

Em contrapartida a esse mundo glamouroso, existia a fraternidade dos "baderneiros", ou seja, os idiotas que gostavam de provocar garotas como eu até que perdêssemos a paciência. As festas dessa fraternidade aconteciam em qualquer dia da semana, regadas a álcool, sexo, drogas e, claro, muita diversão.

Por insistência de Belinda, eu acabei me tornando uma "irmã honorária" da fraternidade das patricinhas, uma vez que não poderia morar junto com elas na sororidade. A consequência disso foi receber dezenas de convites para festas que foram educadamente recusados até então.

Deixei minha avaliação de lado e girei a cabeça para ver se Annie estava voltando, mas me deparei com um rapaz que me deixou impressionada.

Ele usava uma camiseta preta com uma jaqueta de couro da mesma cor por cima, as pernas longas estavam cobertas por um jeans casual, mas foi seu rosto que me deixou impressionada.

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