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Dulce Maria Saviñon

Passei a semana toda nervosa, imaginando milhões de situações que poderiam acontecer durante o aniversário do meu pai, mas resolvi deixar as coisas nas mãos de Deus e da minha mãe, que estava empenhada em me ajudar, no entanto, eu ainda estava muito apreensiva.

Quando a sexta-feira chegou, fiz uma pequena mala e Sanders me levou para o rancho de Christopher. Nós iríamos de helicóptero até Houston e de lá seu jato nos levaria para Nova York.

Eu já tinha avisado que não entraria na casa, mas ao descer do carro meu salto fino quebrou e eu não tinha nenhum outro sapato alto na mala, pois estava indo para casa e jamais imaginaria que aquele imprevisto aconteceria.

Lembrei do meu closet recheado de roupas e calçados, mas desanimei ao lembrar que Belinda estava ali e que se entrasse, talvez tivesse que encontrar com ela, no entanto, não tinha como viajar descalça e muito menos com o salto quebrado.

— O que foi, linda? — Christopher perguntou ao sair de casa e ver minha expressão desolada.

Apontei para o salto quebrado.

— Bom, como sei que você não vai entrar, eu entro lá e pego outra para você.

— Obrigada, amor — falei e lhe dei um beijo. — Ui! — exclamei quando ele me pegou no colo e me carregou até a casa.

— Espere aqui enquanto eu busco um sapato novo para a minha Cinderela — brincou, acomodando-me nas cadeiras que ficavam na varanda.

Fiquei mexendo no celular enquanto esperava. Alguns segundos depois a porta se abriu e achei estranho, já que pelas minhas contas não daria tempo nem de ele ter chegado no quarto.

— Dulce Maria  Saviñon, quanto tempo! — Belinda disse e eu levantei a cabeça.

Ela usava uma camisola preta com robe por cima, e apesar de visivelmente mais magra, ela estava muito bonita, com o rosto maquiado e os cabelos bem tratados.

Talvez a maquiagem tivesse dado o efeito desejado, pois ela não parecia tão doente quanto o que Christopher falava.

— Como vai, Belinda? — falei sem muito entusiasmo.

— Não tão bem quanto você, que finalmente conseguiu fisgar meu marido — acusou.

— Ex-marido — rebati.

— Sim, porque eu pedi o divórcio, não ele.

Engoli em seco ao escutar suas palavras, sem saber se aquilo era verdade ou mais uma das suas provocações.

— Olha, Belinda, eu não quero brigar — falei e me levantei.

— Mesmo que esteja com ele agora, você perdeu — continuou como se eu não tivesse falado nada. — O dinheiro de vocês dois juntos não compra o tempo que ele ficou comigo — concluiu com ar vitorioso.

— Não importa, as coisas foram como tiveram que ser — falei para não entrar em um embate, ainda que, no fundo, eu soubesse que ela tinha razão.

— Eu não me importo que você fique com as migalhas do que sobrou de Christopher, sabe por quê? Porque mesmo quando eu morrer, vou ser lembrada como a primeira esposa, a mãe do primeiro filho, a mulher que ele namorou desde a época da universidade.

— Já chega, Belinda — Christopher bradou antes mesmo de parar ao lado dela.

Fiquei firme para não desabar diante da sua provocação, mas por dentro suas palavras tinham passado direto pela defesa da Dulce Maria  adulta e bem resolvida e tinha acertado em cheio no coração da Dulce Maria  jovem, aquela que ainda lutava para superar tudo que tinha acontecido no passado.

— Só estava falando umas verdades para essa destruidora de lares — Belinda continuou.

— Não fale asneiras, nosso lar já estava destruído antes mesmo de começar — Christopher disse sem qualquer hesitação.

— Venha, Belinda, está na hora dos seus remédios — uma mulher vestida de enfermeira avisou, segurando-a pelo braço.

— Eu tenho que ir, boa viagem para vocês — Belinda disse e entrou em casa. Christopher se abaixou na minha frente e me encarou com olhar determinado.

— Eu não sei o que ela te falou antes de eu chegar, mas quero que saiba que você é a mulher da minha vida, aquela com quem quero ficar, e diferente do que ela pensa, um minuto ao seu lado vale mais do que todo o tempo que passei atormentado ao lado dela. Eu te amo, Dulce Maria Saviñon, não deixe que ninguém a faça acreditar no contrário.

Sorri, entre lágrimas, pois aquilo era tudo que eu precisava escutar naquele momento.

— Eu também te amo — falei e nos beijamos.

Depois disso se afastou para me calçar o par de sandálias que ele tinha levado.

— Prontinho, a Cinderela já pode voar com seu príncipe — ele brincou e caminhamos de mãos dadas até o helicóptero, que nos esperava no gramado.

Belinda tinha colocado o dedo em uma ferida antiga, mas Christopher assoprou amor onde doía e me deixou ainda mais segura de seus sentimentos por mim. Agora só faltava minha família aprovar o nosso relacionamento; quando isso acontecesse, eu finalmente poderia ter esperanças de que daquela vez as coisas dariam certo.

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