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Dulce Maria Saviñon

OXFORD, DOMINGO À NOITE

O voo de Nova York para a Inglaterra foi tranquilo, Beatrice dormiu a maior parte do tempo, já eu, não consegui pregar o olho. Estava me sentindo um caco, não tinha comido e nem dormido direito desde a hora em que soube que Christopher estava com a Belinda e que teria ido embora com ela.

Ele retornou minhas ligações e mensagens no domingo, mas recusei as chamadas e enviei apenas uma mensagem dizendo que conversaríamos quando eu chegasse. Tinha decidido aceitar o conselho de minha mãe de conversar com ele pessoalmente, olhando em seus olhos.

Por causa da minha recusa em conversar, Christopher acabou pedindo para que Beatrice falasse comigo, então tive que revelar a verdade para ela. Vi em seus olhos como ficou decepcionada com a notícia, mas não falou mal do irmão, apenas disse para eu ter calma e conversar assim que chegasse, pois certamente ele teria uma boa justificativa.

Chegamos em Oxford no final da tarde de domingo e quando Sanders estacionou o carro em frente ao prédio de Christopher para deixar Beatrice, eu pensei em não entrar, em colocar mais distância entre os acontecimentos, mas eu era imediatista demais para remoer aquele caos interno por mais um dia.

Sanders levou a mala de Beatrice e assim que chegamos em frente à porta do apartamento eu senti que meus batimentos foram aumentando e isso não tinha nada a ver com a minha falta de preparo físico para subir dois lances de escada.

Beatrice abriu a porta e finalmente eu vi o motivo da minha inquietação quando Christopher surgiu na sala usando jeans, blusa de gola alta preta e seu olhar penetrante de sempre sobre mim.

— Bom, eu vou para o meu quarto para vocês conversarem — Bea disse e me deu um abraço.

Ela o abraçou no caminho, mas pelo franzir de cenho vi que ele percebeu que ela também estava chateada.

— Dulce, eu não sei que tipo de fofoca chegou até você, mas...

— Sem rodeios, Christopher, eu só quero a verdade — declarei.

— Eu e os outros voluntários fomos ao pub depois do evento, a Belinda bebeu demais, perdeu as chaves do carro e eu lhe dei uma carona, essa foi toda a verdade.

— Por que não pediu a uma das amigas dela que a levasse para casa?

— Depois da briga entre vocês as pessoas se afastaram dela, a única que sobrou foi a Gwen, mas ela estava em Londres, e os alunos que trabalharam como voluntários no evento não tinham carro, então eu fiz o que achei certo. Se minha irmã estivesse bêbada por aí, eu gostaria que alguém a ajudasse — explicou.

— Tudo bem, mas eu liguei mil vezes e você não atendeu.

— Dulce, eu cheguei em casa morto, tomei um banho e apaguei, quando acordei havia dezenas de ligações no meu celular e depois você não quis falar comigo, mas juro que essa é toda a verdade.

Meu coração queria acreditar, a história dele fazia total sentido e mesmo assim a razão ainda estava dando as cartas.

— Você sabia de tudo que rolou entre nós duas e mesmo assim foi para um pub com ela e depois ainda ofereceu carona. Imagino que suas intenções foram as melhores, mas eu vou virar motivo de piada.

— É com isso que está preocupada? — questionou com tom julgador.

— Quer saber? Esquece, Christopher, a gente se fala outro dia — falei e fui virando as costas, mas ele me alcançou e segurou levemente o meu braço.

— Espera, vamos resolver logo as coisas, eu não quero brigar — declarou.

— Nem eu, mas diante de tudo o que aconteceu eu preciso pensar.

— Pensar no que? Não aconteceu nada entre mim e a Belinda, foi apenas uma carona.

— Mas tinha que ser ela? — desabafei, demonstrando que a pessoa em questão era o cerne da minha indignação.

— Eu sei o quanto está chateada com ela e jamais te magoaria assim.

— Quero muito acreditar nisso, Christopher, por isso mesmo preciso de um tempo.

— Está você está terminando comigo? — questionou, atônito.

— Que eu saiba, você nunca oficializou nada, então não tem o que terminar — devolvi.

— Se é assim, não sei por que está tão chateada.

Tinha certeza de que meus olhos eram similares a duas adagas naquele momento, pois sua expressão se tornou arrependida e ele passou as mãos no cabelo nervosamente.

— Olha, eu sei que você tem razão, mas garanto que nem passou pela minha cabeça fazer algo com ela. Eu estou com você, não existe outra pessoa — declarou e eu engoli em seco.

Era exatamente isso que eu queria escutar e, mesmo assim, não me sentia feliz ou satisfeita.

— Podemos conversar na quarta? Acho que estarei mais calma até lá, no momento eu estou cansada demais para raciocinar — ponderei.

— Tudo bem, eu posso esperar até lá.

Christopher me abraçou apertado, mas antes que sua boca conseguisse chegar à minha, eu me esquivei e me afastei do seu toque, cheiro e tudo que pudesse enfraquecer minha determinação e me fazer voltar atrás daquela decisão.

Além disso, queria escutar com detalhes a versão da Annie e ver o que as pessoas estavam falando sobre o assunto, para só então tomar uma decisão.

Cheguei em casa e agradeci mentalmente por minha amiga não estar, queria ficar sozinha e lamber as feridas sem opiniões ou olhares de julgamento.

Enchi a banheira, mergulhei nela e fiquei pensando na vida por algumas horas. Aqueles últimos acontecimentos tinham me desestabilizado. Eu nunca tinha me apaixonado daquela maneira, sofria só de imaginar que teria que deixá-lo, mas também não poderia aceitar que ele ficasse dando moral para Belinda ou qualquer outra garota toda vez que eu virasse as costas.

Suspirei, cansada, e pedi a Deus que acalmasse meu coração e ajudasse a tomar uma decisão que me deixasse em paz.

[...]

Christopher Uckermann

— Sério que caiu nesse papo furado de: estou bêbada e perdi as minhas chaves? — Beatrice acusou na segunda de manhã.

Não bastasse toda a merda que estava acontecendo eu ainda tinha que aturar seu julgamento.

— Eu fiz o que era certo, não pensei nas consequências, ela era só uma garota precisando de ajuda — declarei enquanto bebia meu café.

— Juro que eu acredito em você, mas a Dulce vai virar chacota por causa da sua boa ação — continuou.

— Preferia que eu tivesse deixado a garota sozinha e bêbada em um bar cheio de homens loucos para levá-la para casa? — declarei e Beatrice estremeceu.

— Desculpa, Christopher, você tem razão, mas a Dulce ficou muito mal lá em Nova York, ainda mais quando você não atendeu.

Nosso fim de semana ocorreu uma sucessão de desencontros de informações e equívocos que poderiam custar um relacionamento que mal tinha começado.

— Pela primeira vez eu estou gostando de verdade de uma garota, Bea, mas se ela não confia em mim, não tem por que ficarmos juntos — falei para encerrar o assunto, peguei as minhas coisas e fui para a universidade.

Eu teria duas provas na parte da manhã e uma reunião na firma à tarde. Um dia cheio de coisas para resolver seria perfeito para manter a cabeça ocupada.

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