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Christopher Uckermann

— Você está péssimo — Beatrice disse ao me ver passando uma pomada no canto da boca.

— Se serve de consolo, os outros caras saíram tão machucados quanto eu — rebati. Quando me deparei com Alexander e Dominic Saviñon na porta do meu prédio na noite anterior, eu já sabia o que iria acontecer. Eles fizeram o que qualquer cara decente faria, então, a raiva que senti na hora da briga já tinha passado. Eles estavam defendendo a honra de Dulce, assim como eu defendi a de Beatrice.

— Eu tentei falar com a Dulce hoje, mas acho que ela mudou de número... Ela não vai mais querer ser minha amiga.

— Acredite, vai ser melhor assim — alertei.

Eu estava triste pela Bea, por mim, pela Dulce e por toda a situação. Minha vontade era encontrar Pablo e quebrar sua cara, mas então eu me lembrava que não fui enganado e que isso não iria resolver nada, pelo contrário, o mais certo era que o pai dele usaria sua influência para me colocar na cadeia. Por isso, simplesmente ia me obrigar a esquecer que algum dia conheci aquele babaca de merda.

— Bom, eu preciso ir, hoje eu tenho audição com uma representante do balé de Nova York; estou tão animada!

— Boa sorte, Bea — falei e nos abraçamos.

A mãe de Dulce tinha conseguido aquela audição e nos últimos dias minha irmã não falava de outra coisa. Pelo menos alguém estava feliz naquela casa.

Depois que ela saiu, eu me deitei no sofá e fiquei pensando em Dulce, na paixão que sentia por ela. Nós tínhamos terminado oficialmente, sabia que não teria volta, que ela nunca mais confiaria em mim de novo.

Dulce Maria Saviñon, não me queria mais em sua vida e eu não sabia explicar o quanto isso tinha me deixado desolado por dentro.

Como seria acompanhar sua vida de longe, vendo outros homens cortejando a mulher que foi minha de corpo, alma e coração?

A campainha tocou e me levantei para atender com uma tênue esperança de que fosse Dulce, mas quando abri a porta era Belinda, segurando uma sacola.

— Posso entrar? — ela perguntou baixinho.

Eu lhe dei passagem e esperei que falasse alguma coisa.

— Primeiro eu queria agradecer a carona de sábado e te devolver a sua jaqueta — disse e me entregou a sacola.

— Não precisa agradecer — rebati e aguardei, mas ela continuou calada, mordendo a bochecha por dentro em sinal de nervosismo.

Ergui uma sobrancelha, como que a incitando a falar, muito embora já tivesse alguma ideia do que Beli queria.

— Bom, todo mundo está falando que você e a Dulce terminaram, espero que não tenha sido por minha causa, mas se foi e você quiser que eu fale com ela...

— Nós terminamos definitivamente, então nada do que você disser vai fazer muito sentido agora.

— Eu não vim aqui para falar mal dela, apenas deixar claro que ela perdeu um cara muito legal — disse de forma um pouco acanhada e deu de ombros.

Belinda era uma garota linda, se fosse em outros tempos, eu certamente adoraria ser consolado por ela, mas depois de tudo eu não tinha cabeça para nada.

— Obrigado, Belinda — respondi simplesmente.

— Bom, eu já vou indo. Se precisar de qualquer coisa, basta me falar. E, mais uma vez, obrigada — ela disse e caminhou até a porta.

Assim que ela foi embora, eu voltei para o sofá e minutos depois Beatrice entrou chorando no apartamento e foi direto para o seu quarto.

Abri a porta que ela tinha batido e encontrei Bea deitada de bruços, agarrada a um travesseiro e chorando copiosamente.

— Ei, o que houve?

— A culpa é sua! — berrou, desesperada.

— Como assim, o que eu fiz agora?

Minha irmã me encarou com os olhos banhados de lágrimas.

— Eles cancelaram a audição e eu tenho certeza de que foi coisa da mãe da Dulce por causa do que você fez!

Droga!

A voz de Sanders dizendo: "eles podem arruinar a sua vida com uma simples ligação" soou em minha cabeça na mesma hora e fiquei sem reação.

— Eu vou resolver isso.

— Não, eu não quero! Vou desistir dessa merda de dança e cair no mundo real — berrou aos prantos.

Aproximei-me da cama e a abracei com força.

— Um dia, Bea, dinheiro não vai ser problema nas nossas vidas e você vai poder fazer tudo o que quiser. Eu juro — falei e fiquei abraçado com ela até que seu choro se acalmasse.

Por mais que amasse Dulce, eu jamais a perdoaria se ela estivesse se vingando de mim através da pessoa mais importante da minha vida. Minha irmã não merecia sofrer os efeitos colaterais da influência da família Saviñon.

Assim que Beatrice dormiu, eu peguei o carro e dirigi até a casa de Dulce, no entanto, os seguranças disseram que eu não tinha autorização para entrar.

Berrei seu nome do portão, mas eles afirmaram que ela não estava e alertaram que iriam chamar a polícia, então eu me obriguei a entrar no carro e ir embora.

No dia seguinte cheguei cedo à universidade, pois queria ter a chance de conversar com ela.

Assim que ela desceu do carro, eu esperei pacientemente que se aproximasse e só então apareci na sua frente. Dulce levou um susto e logo seus seguranças estavam se aproximando, mas ela fez um sinal para que eles parassem.

Já os alunos que se encontravam no corredor, pararam para escutar a conversa.

— Precisamos conversar — declarei.

— Não tenho nada para falar com você — rebateu e tentou passar por mim.

— Beatrice não tem culpa de nada, por que estão fazendo isso com ela?

— Eu não sei do que está falando, meus pais só não querem que eu me relacione mais com vocês, por isso eu troquei o número do telefone.

— E o que você quer, Dulce Maria? — questionei, bem ciente dos vários alunos ao nosso redor.

— Quero esquecer que um dia dei moral para um Zé Ninguém como você, aliás, eu não deveria esperar muito de alguém que teve um pai como o seu, só espero que não tenha o mesmo fim — respondeu, ríspida, me olhando dos pés à cabeça.

Olhares curiosos me fuzilaram, ao passo que outros riam da humilhação. Por mais que aquilo fosse verdade, que era bem provável que o caráter do meu pai estivesse impregnado no meu sangue, eu custava a acreditar que a minha doce Dulce tivesse sido tão cruel.

Eu queria dizer que suas palavras não me afetaram, mas elas me feriram profundamente e senti vontade de fazer o mesmo, entretanto, me contive, aquela batalha já tinha ido longe demais. Além disso, não precisava expor o que pensava dela na frente de todo mundo, assim como ela tinha feito, havia maneiras melhores de realizar uma vingança.



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