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Dulce Maria Saviñon

DIAS DEPOIS...

"Christopher e Belinda estão namorando".

A notícia dada por Annie na última semana de aula tirou o meu chão, me virou do avesso, deixou um nó permanente instalado na minha garganta. Mas nada se comparava ao barulho interno do meu coração se partindo em milhões de pedacinhos.

Eu tinha pensado naquilo tantas vezes, que quando a notícia se espalhou pela universidade, minha única reação foi fugir. Liguei para os meus pais e avisei que passaria as férias na casa deles; não queria correr o risco de ver o casal de pombinhos de mãos dadas pela cidade.

Christopher nunca me amou ou jamais teria pedido Belinda em namoro. Ele sabia o quanto aquilo iria me magoar e mesmo assim não se importou. E mesmo sabendo que ele tinha feito de propósito, para se vingar do vexame que o fiz passar na frente da universidade inteira, doeu muito.

Eu estava arrependida por ter sido tão cruel, por tê-lo humilhado e colocado o dedo em uma ferida que eu sabia que iria sangrar, só que eu estava cega de ódio, querendo que sentisse um pouco da dor que me causou com seus planos e mentiras, contudo, nunca imaginei que ele pudesse descer tão baixo.

Namorar a Belinda tinha sido a última pá de terra que faltava para enterrar nosso relacionamento.

Naquele momento eu estava deitada no colo do meu pai, enquanto ele afagava os meus cabelos e escutava o meu choro contido, intercalado com silêncios dolorosos.

Em algum momento eu iria atrás dos conselhos práticos da minha mãe para sair do fundo do poço, mas naquele momento eu só precisava da calmaria do meu pai e da forma leve como ele encarava os problemas.

— Uma vez eu li em um dos livros da mamãe, que quando essas coisas acontecem, tem que doer como nunca para não doer nunca mais, só que eu acho que isso não se aplica a mim, eu me sinto vazia — falei e funguei o nariz.

— Eu sei que parece terrível agora, mas vai passar.

Suspirei e limpei uma lágrima que escorreu pelo meu rosto, antes que ela molhasse a calça do papai.

Ficamos em silêncio por mais um tempo, até que eu me levantei e o encarei.

— O Alex já sabe que o Christopher está com a Belinda? — questionei.

— Sabe, mas eu pedi que ele não fizesse nada a respeito.

Assenti e abracei os joelhos.

— Fez bem. Por mais canalha que Christopher tenha sido, eu não quero que ninguém faça nada com ele, a vida vai se encarregar de dar o troco.

— Por mim, ele teria levado outra boa surra, mas já que você pediu para deixar o infeliz em paz, eu vou respeitar.

Que tipo de idiota eu era, para continuar amando um cara que tinha me humilhado daquela maneira?

"Você também o humilhou!", uma voz acusou, mas eu ignorei.

— Sabe, filha, quando sua mãe me disse que estava grávida de gêmeos e que um dos bebês seria uma menina, eu fiquei levemente preocupado — ele começou a falar.

— Preocupado? — perguntei, virando-me de frente para ele.

— Sim, hoje eu sou um homem de família, mas antigamente não era muito diferente de Christopher Uckermann ou de qualquer um dos rapazes da nossa família – exceto o Harry, claro. Por isso eu fiquei pensando em uma forma de te proteger de canalhas como ele — relevou e afagou os meus cabelos.

Sorri para ele.

— Eu tive uma conversa sincera com os meus amigos, mas o conselho mais sábio e valioso eu ganhei da minha mãe.

— E o que foi que ela disse? — questionei.

— Que eu deveria falar desde cedo o quanto eu te amo, porque se não falasse, alguém iria falar e você provavelmente iria acreditar.

Mal ele tinha completado a frase e meus lábios começaram a tremer, enquanto lágrimas desciam pelo meu rosto.

— Bom, eu sempre falei o quanto te amo e demonstrei isso sempre que pude, você sabe o que é ser amada de verdade e a partir de agora não vai aceitar menos que isso — declarou.

Sentei-me em seu colo e voltei a chorar.

— Obrigada, papai, eu precisava escutar isso.

— Essa foi sua primeira decepção e eu queria que fosse a última, mas como não vai ser, eu te peço que não deixe de acreditar no amor nem que existem pessoas por quem valem a pena lutar — aconselhou.

Assenti e ainda fiquei em seu colo por mais alguns minutos, depois me levantei e fui para o meu quarto pensar nas coisas que meu pai disse.

Eu não conseguia imaginar ninguém no lugar de Christopher, tudo foi tão intenso, que a única coisa que eu pensava naquele momento era em me recuperar para conseguir terminar o meu curso.

Minha sorte era que ele não estaria na universidade no ano seguinte, e já que aquele maldito plano não foi para frente, minha humilhação não seria tão grande, de modo que não teria que aguentar olhares julgadores quando retornasse às aulas.

Isso, entretanto, não mudava o fato de que eu me sentia completamente perdida, vazia, sem forças para nada. Era como se aquele homem tivesse levado tudo que havia de bom dentro de mim. Era tão avassaladora, que parecia doer na alma.

Sabia que estava sofrendo por causa das lembranças e dos momentos que passamos juntos, mas principalmente pelas coisas que não iríamos viver.

Christopher não me convidaria mais para tomar café no meio da tarde, ou me levaria em seus lugares preferidos de Oxford. Ele não falaria o quanto me amava ou me olharia como se eu fosse a porra do seu mundo. Não haveria mais beijos, nem noites onde eu arderia de paixão em seus braços. Eu não comeria mais o meu chocolate preferido esticada no sofá verde do apartamento dele, enquanto escutávamos músicas dos anos 90...

Um soluço involuntário escapou da minha garganta e tapei a boca com a mão, pois não queria que o meu pai escutasse.

Do nada, eu comecei a tremer e logo notei que era de frio. Deitei-me na cama, puxei uma manta sobre o meu corpo fiquei ali, perdida em uma dimensão que era só minha, cheia de dor e sofrimento.

Como eu faria para sair daquele confinamento emocional?

Respirei fundo e comecei a pensar em como seria minha vida a partir dali.

O ano seguinte seria uma tela em branco, sem cor, sem vida, esperando para ser preenchida e por mais que eu tivesse a esperança de me agarrar a alguma coisa que fizesse sentido, tinha certeza de que nunca mais seria a mesma.

Ele despertou tantos sentimentos e quebrou tantas coisas, que eu não entendia mais onde começava ou terminava a minha dor.

Christopher Uckermann tinha sido meu primeiro amor, minha primeira transa e o primeiro homem que tinha conseguido ultrapassar todas as barreiras que eu havia construído e sentia que nunca mais amaria alguém com tanta intensidade ou entregaria meu coração sem reservas outra vez.

Ele entrou, fez um estrago daqueles, mas deixou uma lição: às vezes, o homem que te faz acreditar em contos de fadas é o mesmo que te enche de traumas e medo de amar de novo.

Era nisso que eu tinha que me apegar para encontrar a mola no fundo do poço.

Seria difícil superar todo aquele sofrimento e sufocar aquela garota boazinha que acreditou nas mentiras de um homem sem coração, mas eu tinha certeza de que minha antiga versão precisava morrer para uma nova Dulce Maria renascer.

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