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Dulce Maria Saviñon

Apesar de toda a tensão da noite anterior, eu acordei mais cedo do que pretendia no sábado.

Após fazer minha higiene, vesti meu robe e me dirigi às escadas. Na metade dos degraus, um delicioso cheiro de café inundou meus sentidos.

Imediatamente estranhei o fato, uma vez que Annie não costumava acordar tão cedo, e a senhora Mensfil, que cuidava da limpeza e organização da casa, só trabalhava de segunda a sexta.

Terminei de descer as escadas, passei pela sala e quando entrei na cozinha deparei-me com meu pai acomodado à mesa, lendo o jornal, enquanto minha mãe despejava café na xícara dele.

— O que vocês estão fazendo aqui? — questionei, espantada com aquela visita repentina.

Calculei mentalmente as horas de voo de Nova York até a Inglaterra e concluí que eles tinham embarcado logo depois da ligação de Sanders.

— Também estamos felizes em te ver, filha — mamãe disse em seu tom mais irônico.

Ela estava usando um conjunto de tweed preto da Chanel, o pescoço e as orelhas estavam adornados por joias magníficas e seu cabelo estava preso em um coque frouxo e charmoso. Mamãe se mostrava impecável a qualquer hora do dia. Dava a impressão de que dormia em um cabide, pois não me lembrava de já tê-la visto despenteada ou desarrumada.

Aproximei-me dela e nos abraçamos. O perfume familiar me deu uma fisgada no peito, uma saudade de casa, das nossas conversas intermináveis e de toda a segurança que ela me fazia sentir.

— Como vai, papai? — perguntei enquanto ele me abraçava.

— Ótimo e curioso para escutar sua versão do que aconteceu ontem.

— Tenho direito a um advogado? — brinquei.

— O Sanders vai ficar de fora dessa vez — ele devolveu e sorrimos.

Meus pais sabiam da relação de cumplicidade que eu tinha com o meu chefe de segurança e de como ele sempre amenizava os acontecimentos para livrar a minha barra. Não que eu costumasse fazer coisas minimamente questionáveis para precisar de defesa.

— É simples. Eu vi uns caras batizando a bebida de uma menina, fiquei desconfiada com a situação e segui os meus instintos.

— Eu sei, filha, e sua atitude foi louvável, mas não deveria ter se envolvido pessoalmente nessa situação — papai declarou, colocando o jornal de lado.

— E por que não?

— Os quatro garotos que foram espancados estão no hospital, dois deles são de famílias influentes de Londres. Se a garota abrir um processo contra eles, você pode ser chamada como testemunha.

— Eu sei que vocês não gostam que nosso nome esteja envolvido em polêmicas, mas nesse caso eu deporia com o maior prazer, independente da influência que as famílias desses caras tiverem. Eles precisam pagar pelo que fizeram — falei, convicta.

— Ela é você todinha — papai disse, encarando minha mãe.

— Essa energia combativa é toda sua — mamãe rebateu.

— Eu ainda estou aqui — falei e os dois se voltaram para mim.

— Tudo bem, querida, nós entendemos que foi uma situação isolada, mas tente ficar longe dessas pessoas e de futuras confusões.

Assenti e comentei:

— Bom, se os caras estiverem no hospital, acredito que a garota e o irmão possam ter problemas e isso me preocupa, não sei qual a situação financeira deles.

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