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Dulce Maria Saviñon

— Vocês o que?! — Annie exclamou, eufórica, quando falei para ela o que tinha acontecido.

Já estava em Nova York, mais precisamente no laboratório de restauração da galeria, e aproveitei que os funcionários já tinham ido embora para confidenciar como tinha sido minha viagem ao Texas.

— Isso mesmo, o infeliz me beijou e eu correspondi.

— Uau, isso está ficando cada vez melhor.

— Annie, pelo amor de Deus, o cara é casado, pior ainda, casado com a Belinda — esbravejei.

— Eu sempre achei esse casamento esquisito. Eles não aparecem juntos em lugar algum, ninguém sabe da vida pessoal deles, é como se ele quisesse a esconder do mundo, mas não se separam — comentou enquanto caminhava até a área do café que ficava no canto do laboratório.

Lembrei da época em que fiquei sabendo sobre o noivado deles, através de uma nota no jornal. Na foto, ele estava usando um terno sem gravata, ela, um vestido creme. Enquanto ela exibia um sorriso de extrema felicidade, a expressão dele era contida e misteriosa. Christopher sendo Christopher.

Naquele dia eu não chorei, pois a expressão de infelicidade dele fez meu bobo coração começar a achar que se tratava de um noivado forçado, o que significava que em algum momento ele iria desistir.

Eu não o queria de volta, mas também não queria que ele se casasse com ela, então, mesmo à distância eu torci contra aquele relacionamento. Se Beli se tornasse a senhora Uckermann, seria uma espécie de triunfo sobre mim.

De nada adiantou, os dois se casaram em uma cerimônia íntima no mesmo mês em que noivaram. Meses depois, quando as notícias de traições começaram a pipocar nas rodas sociais, eu cheguei à conclusão de que não ter ficado com ele tinha sido um livramento.

Se ele era infiel com ela, certamente seria comigo, então tive que aceitar que Deus tinha coisa bem melhor reservada para mim.

— O cara é casado, estou me sentindo péssima — admiti e guardei a peça que estava analisando.

— E qual a graça de ficar com um cara solteiro? Fique com ele e estrague as próximas gerações desse infeliz — brincou e nós gargalhamos.

Pessoas próximas ao casal Uckermann comentavam que Belinda teve uma sucessão de abortos, mas até onde eu sabia, eles não tinham filhos, Entretanto, a ausência dela naquela casa e a forma como ele me beijou, me fez acreditar que talvez o casamento deles não estivesse tão bem assim, ou talvez fosse apenas a velha Dulce cultivando aquele grãozinho de esperança.

— Já me conformei que perdemos esse contrato, mas na primeira oportunidade eu vou dar o troco — declarei.

— Como eu disse, essa história de vocês ainda vai render. A Belinda que se cuide, sinto cheiro de divórcio no ar — brincou e bebeu um gole de café.

— Não fale besteira, Annie — rebati.

— Dulce, naquela época ele não tinha como lutar contra os seguranças, dinheiro e a influência que seus pais tinham sobre você. Ele foi um canalha, te magoou, vocês brigaram, terminaram, ele começou a namorar a Belinda e você mudou de universidade para dar conta de terminar o curso. Tudo aconteceu como tinha que ser, mas agora se ele te quiser de verdade, ninguém vai poder impedir.

Senti um arrepio ao escutar as palavras da minha amiga.

Ela estava certa em muitos pontos, mas eu não queria pensar nessa possibilidade, pois tinha certeza de que meu coração havia aprendido a lição e não cairia na conversa daquele forasteiro novamente.

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