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Dulce Maria Saviñon

— E a Bea? — questionei ao passar pela porta do apartamento de Christopher.

Como não pudemos ficar mais tempo juntos na noite anterior, ele me convidou para passar o sábado em sua casa.

— Deve estar na aula de dança.

— Ela dança?

— Sim, desde os dois anos, acho que é única coisa que ela faz sem arrumar briga — comentou, depois pegou a minha mão e me levou até o sofá, sentando-se ao seu lado.

Enquanto ele pegava o controle da tv, eu fiquei admirando o perfil de seu rosto. Cada traço parecia ter sido desenhado, não tinha um ângulo ou côncavo fora do lugar.

— O que foi? — perguntou depois de sintonizar em um aplicativo de música.

— Eu sei que alguém já deve ter falado isso, mas você é impressionantemente bonito — admiti.

Christopher ficou me encarando com um semblante misterioso.

— Você também é linda — devolveu.

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, meu cenho franziu ao escutar a música Take My Breath Away preencher a sala. Ele diminuiu um pouco o som e eu o fitei.

— E depois meu chocolate que é horrível — brinquei.

— Com o tempo você vai se acostumar com o meu gosto peculiar para músicas — apontou e senti um frio na barriga.

Será que ele queria dizer que passaríamos muito tempo juntos? Que ele estar se formando em poucos meses não seria motivo para uma separação?

Nessas horas eu gostaria de ter a experiência da minha mãe para conseguir ler nas entrelinhas.

— Gosto peculiar? — zombei.

— As músicas dessa época realmente tocavam o coração das pessoas, não e como essas baboseiras que ganham o Grammy atualmente.

— Espero que no meio disso que você diz serem baboseiras não esteja o nome da Taylor Swift — falei séria.

— Bom, eu sou obrigado a escutar diariamente, mas ainda não sei o que vocês viram nessa menina.

Lembrei-me da camiseta que Bea estava usando no dia da fatídica festa e a conversa fez sentido.

— A Taylor é incrível! Ano que vem ela vai fazer uma turnê eu já estou me preparando para ir.

Ele balançou a cabeça como quem estava achando aquilo muito fora da sua realidade. E devia ser mesmo para alguém que, tão novo, havia se tornado o provedor da casa.

— Tudo bem, eu acredito em você. Agora vem cá — disse, puxando-me para o seu colo e me beijando.

Sempre que nossas bocas se tocavam, eu sentia uma deliciosa onda passeando pelo meu corpo. Seus beijos, juntamente com a carícia de suas mãos, iam despertando desejo em lugares que antes me eram desconhecidos.

Christopher parecia ter um mapa do meu corpo, pois sabia exatamente onde tocar para me deixar completamente entregue.

Ao sentir sua mão entrando por dentro da minha blusa, eu soube o caminho que ele iria fazer e me forcei a relaxar no afã de sentir seus dedos deslizando e arrepiando cada centímetro de pele tocavam.

Senti sua ereção pressionando a braguilha de sua calça e soltei um gemido de satisfação, feliz por saber que Christopher também me desejava, embora ainda não sentisse uma real vontade de me entregar a ele.

Por mais atraída que eu me sentisse, as vozes da razão, principalmente a da minha mãe, me alertavam sobre a possibilidade de me entregar a alguém que me descartaria sem nenhum remorso quando conseguisse o que queria.

Eu estava apegada demais a ele, para aceitar que isso tudo acabasse tão repentinamente, por isso me afastei com intuito de baixar a temperatura dos nossos corpos.

— Mais uma vez, não vou me desculpar por isso — ele falou ao ver o estado em que nos encontrávamos.

— Não precisa, mas eu queria uma água, ficou quente aqui — brinquei e ele me ofereceu um sorriso fraco antes de se levantar e ir até a cozinha.

Fechei os olhos e respirei fundo para me recompor. Não sabia se era a melodia sofrida das músicas dos anos 1990, a presença poderosa dele que parecia tomar conta de tudo ou resquícios daqueles beijos ardentes, mas eu sentia uma espécie de energia vital percorrendo o meu ventre e todo aquele clima de romance me deixava ainda mais envolvida.

— Aqui está a sua água — disse, pegando-me de surpresa. Bebi o líquido em pequenos goles, os olhos fixos nos dele.

— Bom, acho melhor eu ir — falei, deixando o copo em cima da mesa de centro.

— Você acabou de chegar — rebateu.

— Eu sei, Christopher, mas toda vez que você me beija as coisas saem de controle — falei e mordisquei meu lábio inferior. — Eu ainda não estou preparada para ir além, então...

Minhas palavras se perderam, pois aquele era um assunto delicado. Ele se aproximou e me puxou pela cintura.

— Por mais linda e gostosa que você seja — começou, deslizando o polegar pelo meu rosto —, eu prometo que vou respeitar o seu tempo — falou e voltou a me beijar.

Foi só sentir sua boca na minha, seu cheiro incomparável, o toque das mãos em minhas costas para eu virar gelatina em seus braços outra vez.

Após um longo beijo, nós voltamos para o sofá e Christopher me falou um pouco sobre sua vida, mas não a dele especificamente. Tive a impressão de que ele sempre jogava o foco da conversa em Bea e desviava de perguntas referentes a si próprio.

Ele já tinha dado indícios de que não tivera uma boa relação com o pai e do nada surgiu a ideia de pedir ao Sanders que descobrisse o motivo.

Seria um ato, no mínimo, censurável da minha parte, mas eu sentia que só conseguiria me entregar por inteiro se soubesse o que ele não tinha a intenção de compartilhar.

[...]

No dia seguinte, eu estava fazendo alguns trabalhos no escritório que ficava na parte térrea da casa, quando escutei uma batida na porta.

— Queria falar comigo? — Sanders perguntou. Concordei e apontei para a cadeira a minha frente.

— Eu sei que você já investigou a vida de Christopher e aparentemente não encontrou nada, mas eu gostaria de uma investigação mais minuciosa — declarei.

— O que quer saber? — ele questionou.

— Tudo, desde a roupa que ele usou pra sair da maternidade, até a última garota que ele iludiu na universidade.

Sanders deu um sorriso de canto e assentiu.

— Vou providenciar e apresento o dossiê assim que meus agentes concluírem a investigação.

— Perfeito.

Ele se despediu e saiu do escritório.

Sabia que aquela investigação poderia ser um jato de água fria no fogo da paixão que eu estava sentindo, mas era melhor descobrir tudo de uma vez do que ficar fazendo suposições e me iludindo com alguém que talvez não estivesse na mesma sintonia que eu.

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