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Dulce Maria Saviñon

Sentei-me no banco traseiro da SUV de Christopher e permaneci em silêncio, enquanto seu motorista dirigia pelas ruas de Sun Valley. Aos poucos a paisagem urbana foi ficando para trás e pegamos uma estrada asfaltada que levava ao interior.

A propriedade estava toda iluminada e havia alguns seguranças caminhando pelo gramado. O motorista estacionou o carro e depois abriu a porta para mim, desci e senti o ar frio tocando minha pele.

Apesar de termos tido um dia ensolarado e gostoso, as temperaturas estavam baixas.

— Siga-me, por favor — ele disse depois que entramos em sua casa, passamos pela sala e seguimos por um longo corredor, depois outro e outro até que ele abriu uma porta e entramos.

A primeira coisa que vi foi um quarto infantil, decorado com tons pasteis e aquilo apertou meu peito.

Ele tinha um filho? Um filho com Belinda?

Engoli a vontade de fazer perguntas e avistei uma moça com uniforme branco, lendo uma revista.

— Boa noite, senhor Uckermann — ela disse e endireitou o corpo para ficar em pé.

— Boa noite, Ester, deixe-nos a sós, por favor — ele ordenou e a babá assentiu.

Quando Christopher saiu da minha frente, eu finalmente avistei uma criança no canto do quarto, brincando com alguns carrinhos.

Ele estava usando um pijama azul com estampa de foguete e quando se virou, meu coração se apertou: ele era perfeito. Tinha cabelos castanhos, olhos esverdeados e lembrava muito mais a Christopher do que a Belinda, apenas os olhos eram parecidos com os dela.

— Você teve um filho — comentei com os olhos fixos na criança.

— Sim, esse é o Leo.

Aproximei-me de onde o menino estava e o encarei.

— Oi, Leo — falei e lhe ofereci um sorriso, mas ele continuou me olhando sem demonstrar nenhuma reação.

— Ele tem espectro autista, o que era chamado antigamente de Síndrome de Asperger.

— Ele não fala? — perguntei.

— Não, mas estamos trabalhando nisso, pois os especialistas já explicaram que ele não fala porque não quer — Christopher explicou.

— Ele é lindo. Espero que com as terapias corretas ele possa se desenvolver como qualquer outra criança — argumentei.

— Ele vai — Christopher garantiu, como qualquer pai que acredita em seu filho.

Leo atravessou o quarto, parou bem pertinho de mim e puxou o lenço azul que estava amarrado na alça da minha bolsa.

— Ele tem algumas manias, uma delas é colecionar coisas da cor azul.

Christopher apontou para uma prateleira cheia de diferentes objetos, mas todos da mesma cor.

Coloquei a bolsa no chão, desamarrei o lenço e o entreguei a ele. Um leve sorriso apareceu no cantinho da sua boca, como se tivesse ficado feliz de ter conseguido o que queria.

Leo então caminhou com o lenço pelo quarto e o deixou na estante junto com os outros objetos.

— Uma formiga carregadeira de coisas azuis — Christopher completou.

— Christopher, você tem um filho lindo, mas isso não justifica nada, apenas que você destruiu seu casamento e que esse anjo vai crescer sem ter os pais juntos — argumentei.

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