No dia dos namorados, como em outras datas comemorativas, sempre haverá aquela pessoa que odeia ou simplesmente ignora o dia, por estar sozinha. Isso quando conseguem, já que é só sair na rua que você é fuzilado de anúncios, casais melosos, músicas e tudo mais que se pode imaginar que possa ser estilizado pelo dia dos namorados. Você fica para baixo a cada rosa vendida, a cada beijo e ursinho de pelúcia. Era exatamente assim, que Alice se sentia.
Fazia mais de um ano que se tornara heroína. As coisas não tinham mudado muito. As lutas eram menos frequentes, a cidade andava pacífica. Só alguns ladrões enchiam o saco às vezes. Alice trabalhava em uma livraria a poucos meses, e seu interesse por literatura se torvava mais intenso.
No prédio em que morava e, especialmente, na livraria, fez algumas amizades. Seus vizinhos não gostavam muito de papo. Na livraria, Alice tinha até clientes exclusivos. Sempre pediam sugestões de livros a ela e está, adorava passar horas conversando sobre as novidades literárias.
Naquele dia dos namorados, apesar de tudo, sentia-se infeliz e sozinha. Estava em casa, jogada no sofá, pensando. Como eu queria que ele estivesse aqui... Pensava em Ichiro e como tudo podia ter sido diferente se ela tivesse aberto mãos de seus poderes. Ele escrevera alguns e-mails para ela, contando de sua nova vida e como estava se readaptando bem. A saudade só aumentava a cada novo correio.
Ainda era tarde, Alice fazia de tudo, mas parecia que as horas não passavam e o tédio só crescia. Ela ouviu música, limpou o quarto, cozinhou, cozinhou ouvindo música, assistiu tv, dormiu, leu, observou a cidade do terraço, dormiu de novo e acabou jogada no sofá pensando em seu amor impossível. Certa que ninguém a chamaria para sair, decidiu ir ao lugar que mais gostava no mundo inteiro (apesar de nunca ter saído da Califórnia): Os Oota. O restaurante dos pais de Ichiro, era o lugar predileto de Alice, pois se sentia em casa. Era a família dela também.
Assim que saiu de seu apartamento, o fuzilamento, do começo do capítulo, bombardeou em seu cérebro. Ignorando as investidas da tristeza, ela seguiu rumo ao restaurante quase do outro lado da cidade. Chegando, foi recebida com muitos sorrisos por Anna Oota.
—Que saudade de você. - disse Sra. Oota, beijando Alice no rosto. — Vem, sente-se. Vamos botar o papo em dia. - Realmente Alice não ia ao Os Oota há algum tempo, sempre com a desculpa de estar ocupada.
Elas conversaram algum tempo. Falaram sobre: a livraria, o apartamento de Alice, o restaurante e...Ichiro. Era inevitável ir ao Os Oota sem falar dele
—Sabe, senhora Oota, depois que ele foi embora, tudo mudou...
—Mas você tem que entender, querida, que ele cumpriu a tarefa. Ele a treinou e você desenvolveu seus poderes... —disse, calmamente. —Deus, quem eu to querendo enganar? Desculpe-me, filha. —acariciou o rosto de Alice. — Você sabe realmente porque ele foi embora. —Alice assentiu.
— Por mais que eu não queira aceitar, eu sei que foi a coisa certa. Se ele ficasse, eu não estaria ajudando Los Angeles, não estaria fazendo o meu papel de heroína, que prometi. Mas é tão difícil... — uma lágrima brotou em seus olhos — é tão difícil ver todo mundo feliz, amando e sendo amado e eu não.
— Mas ele te ama.
—Mas não está aqui comigo e é isso que importa. —a essa altura, várias lágrimas escorriam pelo seu rosto.
—Você vai ficar bem, amor. Tudo vai ficar bem. — disse Anna, abraçando-a.
Mil toneladas de tristeza, parecia ter desaparecido da mente de Alice. Desabafando com Anna, sentiu-se bem mais leve e, querendo ou não, mais feliz. Desde que Ichiro foi embora, ela sabia o motivo real, mas era difícil admitir, principalmente na frente da mulher que a ajudara todo esse tempo. Chegando em casa, caiu no sofá e deu um suspiro alto. Bem melhor. Esticou o braço, tateando sem olhar, a procura do controle remoto. Ligou a tv. Óbvio. No primeiro canal, um especial do dia dos namorados. No segundo: o filme Titanic. No próximo, um anúncio de descontos de roupas por causa da data. E nos seguintes: a mesma ladainha.
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Miss Popper
AdventureDividido em três partes, a narrativa conta a história de Alice, uma adolescente normal com seus sonhos e medos que descobre, após perder a memória em um acidente de carro, que faz parte de uma linhagem de heróis, criados com o propósito de combater...