Capítulo 34: A Morada

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Era o céu mais límpido que Alice já vira. Quando abriu os olhos, aquele mundo azul a cobriu. Foi impossível conter o sorriso. Seu coração estava cheio de paz. Ela levantou sem dificuldade, vendo que se encontrava numa plantação de margaridas. Por mais que estivesse confusa, com sua aparição naquele lugar, depois das revelações, a beleza da plantação a hipnotizava. Deitada sobre as flores, tristeza, medo e frustações, tornaram-se apenas palavras. Ela levantou num pulo, estava completamente recuperada, mas sua mente lembrava perfeitamente de todos os acontecimentos anteriores.

Ao longe, avistou um precipício. A beleza natural daquele lugar era divina. Montanhas eram comtempladas, juntamente com a floresta, intocavelmente pura. Um verdadeiro pedacinho do paraíso. Quando Alice virou, viu algo não-natural, pela primeira vez. Uma construção, rodeada de um lindo jardim com as mais diversas flores. Seus cabelos esvoaçavam-se ao vento, quando esta correu em direção ao local, também percebeu que vestia um vestido branco até os joelhos, extremamente confortável.

Ao atravessar a plantação, viu pessoas, ao fundo, colhendo manualmente as lindas flores. Ela correu mais um pouco, até chegar na casa. Grande e feita de tijolos avermelhados, um grande gramado e cadeiras em forma de círculo. Para qualquer lugar que se olhasse, era visto grama ou plantações até estas se encontrarem com o céu.

Alice ficou sem reação, quando algumas pessoas começaram a aparecer, vindas de dentro da casa. Onze pessoas, entre homens e mulheres, a maior parte idosos, se aproximavam, sem dizer nada. A menina sentia-se uma idiota por ficar ali sem perguntar nada. As pessoas começaram a ocupar as cadeiras e Popper continuava muda. Quando finalmente todos sentaram, um lugar ficara vago. Uma mulher disse, em uma língua diferente que Alice compreendeu:

— Pode se sentar, criança. — Alice obedeceu, sem jeito. Todos os olhares se fixaram em Alice, esperando uma fala da menina. Depois de um silêncio de segundos, a garota finalmente falou.

— Que lugar é esse? Quem são vocês? O que aconteceu comigo? Eu sei falar nesta língua também?

— Quantas perguntas — disse um homem, rindo. — Vou deixar você recuperar o fôlego. — todos sorriram. Menos Popper.

— Então você é a heroína do momento.... nada de mais — disse uma mulher, com desdém. Aparentava ter 30 anos.

— Lúcia! — reprendeu a primeira mulher a falar. — Não ligue para ela, criança. Essa aí não toma jeito. — Lucia bufou. — Enfim, vou começar com as mais fáceis, tudo bem? Aqui onde você está é o paraíso dos heróis. Ichiro já te disse algo a respeito?

— Não, mas já li algo sobre. Oh Deus, eu morri mesmo.

— Bom, é o lugar onde os heróis repousam após a vida terrena. Então, deu para perceber quem somos, não é? — Alice confirmou, com a cabeça. — Somos todos os heróis antes de você, querida. E eu sou a primeira, por isso, líder dos demais. — Alice arregalou os olhos — Meu nome é Noemi. Como não temos muito tempo, não vou apresentar os outros, tirando a Lúcia, não é? — Alice sorriu. — Mas quando você for embora, te darei um presente em que conhecerá todos nós.

— Eu vou embora? Então eu não morri....

— É um pouco mais complicado que isso, criança. Vou explicar:

"Seu corpo, sua carne, morreu a partir do momento que levou o tiro, entretanto, como isso violaria as regras de um herói imortal, sua consciência não morreu. A situação em que você passou, de suas fases saírem de seu corpo terreno, nunca acontecera antes com nenhum outro herói. Isso fez com que houvesse um desequilibro, fazendo você ter alucinações. Basicamente, sua consciência se desprendeu de seu corpo, ficando inerte. Você não teria acesso a ela para voltar a vida. Existe uma, vamos chamar de: energia extra, que até então, desconhecíamos. Isto fez com que sua consciência não se perdesse. Conseguimos traze-la até aqui, para ai então, mandá-la de volta ao plano terreno. Você volta, com a fase branca, recuperando seu poder de rápida cura, e como o tempo lá não é o mesmo daqui, no plano terreno passou segundos, diferente da sua consciência que sente como dias, você poderá expelir a bala rapidamente, com pouca chance de haver algum tipo de complicação."

— Então eu não morri ainda? — Noemi confirmou. — E a outra vida que eu vi? Era tão real...Eles disseram que eu sou doente mental. Que sofri sequelas do acidente.

— É apenas uma alucinação, você não é doente. Tudo é real. — um alívio atravessou o corpo de Alice.

— Eu gostaria de dizer uma coisa, antes da moça partir. — disse um homem de meia idade. Todos concordaram — Sou o ultimo herói João de Portugal. Sofri tanto como você, Alice. Não confiava em mim mesmo e acabei abrindo mão de meus poderes, antes do grande mal chegar. Foi o meu maior erro. Você é minha sucessora e por isso, tenho o dever de te ajudar a não cair no mesmo destino que eu. Todos aqui presente, abdicaram de uma dádiva por interesses pessoais. Pense que se Noemi não tivesse voltado a ser mortal, nenhum de nós teria se tornado herói. E assim por diante. Não digo isso para você pensar apenas no seu sucessor e não em você, mas é algo que não tem volta. Pela primeira vez alguém poderia receber está missão e nunca abandoná-la. Eu teria feito isso.

— Besteira, quem quer viver para sempre? Sem amor, amigos e família? Vendo todos morrerem? — respondeu Lúcia, rindo.

— Olha quem diz, a que desistiu mais cedo. — disse João

— Eu estava apaixonada, prestes a casar.

— Já chega. Vocês estão confundindo ainda mais nossa heroína. — disse Noemi, apartando a provável discussão. — Entretanto, fizemos uma reunião, de pontos que poderiam ser ajudados em você, menina.

"Primeiro, a confiança de um herói tem que ser inabalável. Você tem um dom, faz parte de uma linhagem poderosa e pode mudar o mundo, se quiser. Apenas tenha bom senso e humildade para tal. Segundo, ouse. O mundo muda muito rápido, então você terá que ter criatividade para enfrentar seus desafios. Terceiro, cuide de quem cuidada de você, mas quem esteja vivo. E quarto, você tem poder de mudar o mundo, mas não tem poder sobre o destino de cada uma das pessoas. Elas viverão aquilo que está determinado. A sua influência nelas já está determinada."

Alice estava com lágrimas nos olhos, parecia que eles sabiam de tudo que a garota estava vivendo. Lógico que eles sabem.

— Quinto, heróis não choram. — disse Lúcia, sarcasticamente.

— Cala a boca, Lúcia. — todos emitiram em uma só voz e Lúcia fingiu não ouvir.

— É isso, devemos mandá-la agora, companheiros. — todos assentiram. — Alice, querida, venha até o centro do círculo, por favor. — a menina obedeceu. — Muito bem, faremos como combinamos agora! Alice, seu presente estará na sua casa.

— Obrigada. Não tenho palavras para agradecer tudo isso. Só mais uma coisa: isso é real?

— Se você está nos vendo, sentido esse lugar e tirando algo bom daqui, porque não seria real? — respondeu Noemi e deu um sorriso. Alice retribuiu. — Agora, menina, relaxe. Você voltará com a fase branca e conseguirá pegar seus poderes de volta, com isso... — Noemi fez surgir uma espécie de punhal brilhante, na mão de Alice. — Ataque no coração. — a menina assentiu.

— Vai dar certo mesmo? — perguntou Lúcia

— Tem que dar— respondeu João.

Todos fecharam os olhos, menos Alice, que se sentia cada vez mais relaxada. Os heróis se concentraram e começaram a dizer frases, que Alicie não compreendia, mas que se repetiam. Um calor começou a subir pelo corpo de Alice e logo após, dormência. Ela viu se formar uma luz em volta do seu corpo, em forma de elipse. Primeiro foi seus pés e pernas, começaram a ficar leves, depois o tronco e braços e por fim, pescoço e cabeça. Seu corpo todo estava leve, mas sua mente estava ali ainda. As frases desconexas começaram a fazer menos sentido, ficando cada vez menos claras e audíveis. Seus olhos começaram a fechar lentamente. Quando nenhum som mais era ouvido e seus olhos estavam completamente fechados, uma paz percorreu seu corpo e a cor branca foi a última coisa que viu.

// Nota da Autora\\

Oiii, capítulo postado cedo hoje :p Não se esqueçam de votar e comentar... a segunda parte está acabando e você ainda não fez isso? Que feiooo u.u Flw aae!

Miss PopperOnde histórias criam vida. Descubra agora