Capítulo 43: A Desconstrução de Alice

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Os primeiros raios invadiam a cidade, mas na estação abandonada todos já estavam bem acordados. Não tiveram nem cuidado com os furgões, que foram largados na rua. Não havia pessoas suficientes para carregar os feridos. Popper foi a primeira a descer e chamar os outros. Lutava com ameaça de cair em lágrimas, mas aquele não era o momento e nem o lugar.

Vários soldados vieram até eles para ajudar os feridos, levando todos à enfermaria. Os remédios, curativos e tudo referente a medicação eram insuficientes para tantas pessoas. O penúltimo tumulto tinha acabado com quase todo o estoque.

A enfermeira chefe desmaiara quando avistou seu marido sem vida. Alicia foi socorrida por soldados.

Alice não conseguia respirar. Ao lado de Apanhador, estava Sulivan desmaiado. Em outra ala, Ichiro, inconsolado, era atendido.

A garota segurava-se o máximo possível, mas para todos os lados que olhava, via tristeza, dor e raiva. Era um dos piores cenários que já vira. De vinte pessoas, cinco morreram, quatro desapareceram e dez estavam feridos, três gravemente. Ela era a única que não sofrera e por ela, seu melhor amigo havia morrido.

Alice correu até a saída da estação e se viu sozinha. Num grito de dor e desespero, liberou todo seu sentimento. Dobrou os joelhos entre a terra e as folhas secas, apertando seus cabelos, chorava. Por todos. E por mais vez se sentir culpada. O amanhecer iluminava seu rosto vermelho. Secava seu rosto com o braço, quando a chamaram.

Sulivan estava morto.

Ela abaixou a cabeça, de costas para o soldado.

— Você assume agora, Popper.

Sulivan e Tyron mortos. Ela quem assumiria a resistência e deveria falar com todos.

Todo resistentes olhavam a moça. Com rosto jovem, mas com um olhar maduro, ela retornava a visão. No palco improvisado, não conseguia emitir qualquer som. O café da manhã fora substituído pelo luto e pela dor. Vários olhos vermelhos se atentaram quando a garota começou a falar.

— Não sei como começar... — disse, olhando para o chão. Alguns segundos depois, continuou e olhou para a plateia. — Hoje perdemos dez pessoas. Entre mortos e desaparecidos. Sulivan e Tyron foram os percussores deste local. Deram suas vidas por nós. Para que tivéssemos chances nesse governo, para que conquistássemos nossa liberdade novamente. Sem eles, a maior parte de nós estaria morta ou sendo obrigada a concordar com esse totalitarismo. Mas tivemos a sorte de sermos acolhidos. Aqui, nesta grande família. Hoje, fomos separados novamente. Eles deram suas vidas de novo. Os documentos eram de grande importância para nossa caminhada em direção a democracia, mas não mais importantes que nossos líderes. Suas marcas e dizeres nunca serão esquecidos e, quando estivermos balançando nossa bandeira nas ruas, no dia da queda, vamos lembrar e celebrar nossos amigos que se foram hoje. — Palmas e gritos ecoaram pela sala. A emoção era geral. As lágrimas voltaram a cair. Alice olhou para Ichiro e este acenou com a cabeça. — Obrigada a todos — gritou, descendo do palco.

No dia seguinte, o jornal Today estampava o rosto da anti-heroína número um. Após os enterros, Alice viu algumas pessoas lendo um dossiê completo de Popper.

"Falsa Deusa: a vida completa da inimiga número um mundial - Edição Especial"

— Eles estão putos com a invasão da Liga Sunchan. — comentou um soldado, com Popper.

— Estão falando tudo sobre você aqui. — disse outro. Ele entregou o jornal a Alice, que começou a ler.

"Editorial: Qualquer um que se oponha ao Estado e ao governo Geral é considerado inimigo da sociedade. PG Vaz em 09/13/2017.

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