Capítulo 49: O Último Herói

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Lentamente a garota abria os olhos e tentava entender onde estava. Deparou-se em uma espécie de carro, com um banco de dois assentos em sua frente. As janelas, em todas as direções, estavam cobertas por cortinas escuras, evitando a entrada do sol. Ela afastou uma, ao seu lado, e assustou-se, caindo para trás. Nesse momento, viu que estava com um vestido longuíssimo e quente. Era bege e todo fechado. Seus pulmões não estavam acostumados a serem prensados por espartilhos e só nessa hora que Alice percebeu que usava um. Voltou a olhar além da janela. Não haviam carros e sim carruagens puxadas por cavalos. Os prédios eram antigos e as mulheres usavam vestidos como o seu e os homens, termos e chapéus-coco.

— Estamos chegando, senhorita. — Alice assustou-se com a voz, com forte sotaque britânico, vinda de fora.

A carruagem parou e Alice voltou seu olhar para a rua. Estava diante de uma alfaiataria. Dois homens conversavam. 

— Meu Deus...

Peter era um deles. A carruagem voltou a andar e Popper a gritar.

— Para, para. Quero descer!
— Mas ainda não...
— Para essa droga! — Os cavalos pararam de andar e Alice pulou do carro. Com dificuldade, correu em direção a alfaiataria. 

— Não quero saber o porquê disso. Quero que conserte. E ponto. — disse o cliente, de costas para Alice. — Que absurdo. Tão caro e estragado. — Atrás do balcão, Peter desviou seu olhar para Alice, que se escondeu no mesmo momento.

— Desculpe-me, Sr. Tesla eu...

— Amanhã virei buscar novamente. — disse e foi embora. O rapaz desapareceu pela porta traseira e, depois de alguns minutos, estava com outro homem mais velho. Começaram a discutir e logo Peter saiu correndo da loja.

A garota tirou os sapatos para conseguir alcançar os passos de Peter. Depois de alguns minutos, ele entra em um bar, seguido por Popper. A garota fica escondida, observando-o.

— O que aconteceu agora, Peter? — perguntou uma mulher limpando o balcão.
— Briguei com meu pai. Um cliente idiota.
— Clientes são todos iguais.... Nada pessoal. — Eles riram — Vamos lá, pegue um pouco de rum.

Alice decide sair do local. Quando abre a porta, já é noite e uma fina camada de neve cai sobre o chão.

— Mas o quê?

Sem entender, a garota calça seus sapatos e continua andando, encolhida pelo frio. Tremendo, ouve vozes e decide virar à esquerda. Peter estava lá novamente, caminhando com outro homem.

— Essa linhagem é tão antiga quanto o conceito de Deus. — disse o homem.
—Mas por que eu? O que eu tenho de diferente? — indagou Peter, tremendo pelo frio.
— A escolha é aleatória e arbitraria. Os filhos dos grandes senhores caminham sobre a terra em todos os cantos.
— Eu não entendo. Não lembro de nada. Meu Deus...Não lembro nem o meu...
— É Peter. Peter Lewis. 

— Este é meu nome? — O homem concordou com a cabeça. 

Alice parou no meio da rua vazia e iluminada com lampiões. 

— E-ele. Ele é um...
—Ei, senhorita. Precisa de ajuda? — gritou Peter em sua frente. 

Popper sacode a cabeça negação e sai correndo, tropeçando entre a neve e seus próprios pés. Entra em beco escuro e continua a andar. Conforme avança, o clima vai melhorando. Sentia sua pele quente, queimando com a luz do sol. Não estava mais na cidade e sim em um mar de árvores. Altas árvores. Vozes encheram o local de vida.

Um casal saiu correndo na frente de Alice. Sorrindo e rindo, os dois iam pulando e beijando-se pelas árvores.

— Você é completamente maluco! — disse a garota loira. — Como pude me apaixonar por alguém assim?
— As melhores são malucas, sabia? — respondeu Peter, beijando a mão da moça.
— O que direi a papai quando souberes que me casarei com um rapaz que soube de seu nome a menos de um ano? — Eles riram.
— Diga que passamos a vida todo tentando nos conhecer. E que apenas estou um pouco atrasado nisso. — O casal recomeçou a rir e a correr. Logo a frente havia um campo aberto.

Miss PopperOnde histórias criam vida. Descubra agora