A gente nunca sabe quando vai ver um arco-íris.

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Capítulo 9

Quando vi os primeiros sinais de movimentos no corpo do Thomas querendo acordar, me virei e fechei os olhos de novo. Minutos depois ele se levantou e eu ouvi o som dele calçando os tenis. Ele caminhou alguns passos e parou de repente. Presumi que estivesse na porta. Ele ficou parado uns minutos. Fiquei pensando o que ele estaria fazendo parado ali, mas nada coerente me veio à mente. Ouvi passos de novo.

Ele havia ido embora.

Depois daquela noite eu já sabia que nunca haveria um "nós" para eu e o Thomas, mas eu agradeci a vida por ter me dado aquele pequeno gesto de felicidade. O acaso me proporcionou de dormir ao lado dele, sentir a sua respiração quente no meu rosto, o seu toque, o seu estonteante cheiro... O pulsar das veias transmitidas a mim. Esse era o encerramento que a vida estava me dando para seguir em frente finalmente e eu estava grata por isso. Com o coração incrivelmente doído, mas agradecido.

Nunca mais vi o Thomas depois daquele dia.

Comecei a sair mais, rir mais, me permitir mais. Annie conhecia uma lista enorme de pessoas e isso foi bom, cada final de semana eu conhecia alguém. Os dias eram uma loucura, durante o dia trabalhava, a noite estudava, e nos finais de semana saía com os amigos e participava dos ensaios e consertos da orquestra. Depois daquela noite nunca mais vi Thomas nem nos ensaios da orquestra, mas umas semanas para cá, ele tem ido. Me senti desconfortável nas primeiras vezes, mas depois me acostumei. Sempre sentia aquela pequena fisgada no peito, mas depois passava. Já tinham se passado meses desde a última vez em que nos falamos.

- Por quê? Você gosta de alguém? Augusto me perguntou.
- "Por quê? Você gosta de alguém?" Perguntou Thomas para mim.
- Digamos que eu goste dessa pessoa, mas ela não se decide se quer minha amizade ou algo mais...- Ponderei cuidadosamente o que dizer a ele depois de alguns minutos.
- Hum. Mas e se essa pessoa não sabe o que está sentindo? Ele continuou.
- Eu acho que... Acho que não sei. Eu não sabia o que responder na hora.
- Bia?
- Bia?

Senti um toque no meu braço e era como se tivesse voltado todo aquele barulho do bar. Foi então que percebi Augusto tocando no meu braço e me chamando.

- Alô Marte? A Bia está aí? Augusto começou a rir de mim enquanto eu tentava voltar àquela lancheria em que estávamos supostamente conversando antes de eu ter esse "coma" de lembranças.
- Oi? Desculpa! Ai meu Deus, sou muito distraída! Me desculpe! Tentei rapidamente lembrar sobre o que estávamos conversando. Após alguns segundos recordei que estávamos falando sobre corações partidos e de repente Augusto me veio com essa pergunta que me remeteu a esse mar de lembranças.
- Desculpa, acho que isso foi rude da minha parte... Augusto disse desconsertado.

Demorei tanto para responder, que ele ficou envergonhado com o que tinha perguntado. Coitado, pensei.

- Não, não! Não foi rude nada! Sim... Amava muito alguém... - Por um segundo minha mente vagueou absorta nesses pensamentos.- Mas isso é passado. Enfim respondi.
- Sinto muito que não deu certo - Ele disse.
- De qualquer forma, nem tinha começado... - Sorri e mudei de assunto.

Augusto era um cara alegre, para cima, tinha ância de viver. Conheci ele em uma dessas saídas nos finais de semana com a Annie e ficamos amigos. Ele adorava atividades ao ar livre como correr, andar de bicicleta, tomar banho de cachoeira e etc. Era muito bom e fácil estar com ele, gostava de pensar que ele era o meu sol particular... Augusto era magro, tinha o cabelo liso e um sorriso contagiante. Gostava de arte, música, e comidas saudáveis (o que me irritava bastante, pois ele fazia cara feia quando eu tomava refri e comia batatas fritas) coisas que eu não vivia sem. Descobri nele também uma pessoa que adorava fazer uma aventura, e isso me deixava cada vez mais empolgada de tê-lo perto de mim.

Os dias, as semanas estavam passando rápido de mais. O trabalho, o estudo e as minhas saídas com ele pareciam um borrão e eu estava gostando disso, da forma em que a minha vida estava ficando. As coisas finalmente estava se encaixando. Eu estava... Feliz?

Augusto me convidou para ir em um museu em outra cidade e eu aceitei é claro. Se tem coisa que eu adoro, é ir em museus! Ele jamais teria errado.

Fomos a uma apresentação de arte, lá havia pinturas lindíssimas, cada qual mais bonita que a outra, e era impossível não se deslumbrar... Passamos a tarde lá olhando cuidadosamente cada quadro e descobrindo os enormes salões vazios do prédio.

Depois caminhamos em direção ao cais para admirar o pôr do sol sob o mar e valeu cada passo, porque era lindo de mais. Sentamos na grama e eu encostei minha cabeça no ombro dele admirando aquele espetáculo natural gratuito.

Quando os últimos raios de calor se despediram de nós, eu comecei a ficar com frio por conta do vento que vinha do oceano. Augusto percebeu eu tremendo e me abraçou. Naquele instante eu percebi que estava pouco a pouco necessitando mais e mais dele. Senti uma coisa boa, leve. Eu estava feliz.

Saímos de lá e fomos direto para uma festa surpresa de um amigo em um salão de festas próximo a minha casa. Quando entramos, estava tudo escuro por motivos óbvios. Foi engraçado porque entramos batendo uns nos outros e ele me puxava pela mão me guiando em algum lugar para ficarmos.

Augusto estava com um braço dele em cima dos meus ombros e ele me fazia cócegas e, consequentemente quando eu ria, ele tapava a minha boca e dizia no meu ouvido para não rir. Quando a luz se acendeu, todos gritamos em uníssono "surpresa!!!" E então eu sorri novamente para Augusto. Foi quando vi naquele mesmo ângulo aqueles olhos negros me fitando de longe e ficando totalmente sem jeito quando eles se encontraram com os meus.

- Thomas
- Desculpa? Augusto imediatamente perguntou.
- Oi? Que? Nada...
- Mas você disse algo... Ele insistiu.
- Tristônhas! Eu disse que aquelas me meninas parecem tristônhas! Indiquei qualquer menina que me pareceu pela frente. Ele pareceu confuso, mas não contestou.

Por um momento senti uma espécie de nervosismo misturado a embaraço por ter o braço de Augusto sobre os meus ombros na frente do Thomas, mas depois pensei: dane-se. Ele fez a escolha dele, afinal, não escolher também é uma escolha. E eu estava gostando da minha vida como ela estava agora... De alguma forma eu sei que Augusto estava se tornando muito importante para mim, ele me fazia bem, me fazia leve... Estava sempre ao meu lado me apoiando, me dando força, me fazendo sorrir e eu adorava os abraços dele. Augusto extraia a melhor parte de mim quando eu estava com ele.

Em minutos esqueci que Thomas estava ali e minha atenção voltou para Augusto de novo. Ele estava contando algumas piadas, e volta e meia pegava o meu cabelo e colocava atrás da minha orelha, ou mexia em mim. Aqueles gestos em público me deixaram um pouco envergonhada, afinal, era a nossa primeira aparição juntos. Saímos de lá rindo com outros amigos que também estavam a pé e Augusto me levou até em casa, o que era totalmente desnecessário, pois era a duas quadras do lugar onde estávamos. Quando ele me deu tchau, ele segurou a minha mão e me abraçou. Eu senti ele cheirando o meu pescoço, e aquilo me arrepiou da cabeça aos pés. Ficamos tanto tempo assim em silêncioy que pude ouvir as batidas do coração dele. Era tão bom estar dentro do abraço de Augusto. Era quente, aconchegante. Depois de meses sofrendo por alguém que não sabia o que sentia, encontrei alguém que tinha tanta certeza, que estava me contagiando pelo seu próprio sentimento de amor. E de repente tudo o que eu precisava estava ali, dentro do abraço dele. Eu estava pouco a pouco ficando viciada nele.

Capítulo 9, Outono em mim

Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora