Não é errado deixar-se abraçar pelo outono quando souber a hora, deixe-o partir!

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Final

Após algumas semanas de Augusto me beijar e descobrir desastrosamente que eu tinha voltado com Thomas ao me ver com a camiseta dele, nunca mais ele falou comigo. Embora ele ter toda a razão sobre estar bravo, mesmo assim continuei tentando conversar, e de tanto insistir, finalmente Augusto começou a responder algumas das milhares de mensagens que eu deixava, mas com respostas frias e distantes.

Eu sabia que não tinha o direito da amizade dele, mas eu precisava. E já estava satisfeita pelo simples fato de ele ter voltado a falar comigo, então não estava em posição de exigir algo mais.
Thomas passava mais tempo comigo agora e eu havia abdicado de algumas coisas para ficar mais tempo com ele também.
Descobri que só o amor não era o suficiente para fazer alguém ficar. A gente tem que regar, cuidar do nosso jardim, tirar as folhas secas, as ervas daninhas que vão se formando ao longo do tempo. Não basta só gostar das plantas. Cuidávamos de tantas coisas e esquecemos de nós mesmos na nossa relação. Caímos no erro de subestimarmos o que sentíamos um pelo outro achando que tudo poderia ficar na frente porque éramos fortes o suficiente para aguentar. Mas dessa vez eu iria fazer diferente. Eu não estava disposta a cometer o mesmo delito.
- Sabia que você fica linda com esse olhar profundo lendo? - Thomas me disse deitado com a cabeça no meu colo enquanto eu lia "O cemitério de Praga".

Baixei o livro para para fitá-lo. Ele estava com aquele sorriso de tirar o fôlego. Thomas fez carinho no meu rosto e eu perdi totalmente a concentração na leitura. Eu já não conseguia pensar em outra coisa a não ser a sua mão em mim e não demorou muito para eu atirar o livro para o lado e começar a beijá-lo como se não houvesse amanhã. Eu estava vivendo de uma forma tão rara e pura que às vezes me pegava sorrindo sozinha querendo esconder de todos esse mundo particular feliz para que ninguém descobrisse a nossa pequena bolha e que, consequentemente fosse destruída. Com ele era nós contra o mundo.

Ele tinha mudado, eu tinha mudado. Agora éramos mais maduros em relação a tudo, mais transparentes e abertos a melhorar cada coisa que incomodava um ao outro. Se existe conto de fadas, eu poderia muito bem dizer que estava vivendo um moderno.
Após finalmente Thomas conseguir se desvencilhar de mim, enfim fui dormir na minha doce e macia cama. Agora dormir era uma coisa fácil, leve, prazerosa. Quando me vinha o último pensamento antes de dormir, era a lembrança que chegava do último beijo trocado com ele, o toque da sua pele na minha, o cheiro arrebatador que eu sentia quando estava nos seus braços... Em questão de minutos tudo se apagava.
No outro dia quando acordei, vi da janela alguns tímidos raios de sol atrás de densas nuvens escondendo aquele enorme astro de fogo; era melhor levar um guarda chuva para o trabalho definitivamente, pensei.
Achei estranho Thomas não mandar uma mensagem de bom dia para mim, mas tentei ignorar, afinal, nem sempre ele teria tempo para escrever no celular na hora do seu trabalho. Fiquei um pouco ansiosa e acabei mandando pela tarde uma mensagem para ele dizendo que sentia a falta dele e tudo o que ele me respondeu foi " oi amor, precisamos conversar, eu te pego aí na saída"

De súbito senti meu corpo inteiro paralisar. Uma mistura de calor e frio tomaram o meu corpo e minhas pernas amoleceram. Eu não aguentaria uma outra vez. Não suportaria reviver tudo aquilo. No fundo eu sabia que havia esse risco, mas não estava preparada para esse dia caso ele chegasse. Mas era inegável que isso estava acontecendo e agora cada parte de mim parecia estar em colapso. Fui para o banheiro da empresa e sentei no vaso e fechei os olhos. Respirei tentando prestar atenção só no som dos meus pulmões. Eu precisava ficar calma. Ele não tinha falado nada de mais, são só traumas, pensei. Tomei coragem e voltei a trabalhar.
Me despedi dos meus colegas do trabalho e logo não demorou muito a apontar na rua uma camioneta preta com vidros escuros. Era ele. Era ele junto com todas as respostas que agora eram cruciais para um coração aflito por umas meras palavras lidas em uma frase.

Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora