O outono é uma estação que ninguém quer sentir sozinho

98 2 0
                                    

TCapítulo 48

Decidi que já que não poderia ter amor na minha vida, que eutivesse então aventura,
uma novidade, algo que fosse me fazer sentir...Viva.
Los Angeles. Após muito tempo procurando o lugar para ir, decidi que iria para LA,
porque no final das contas quando não se tem para quem voltar, ir, não se torna
exatamente um problema.
Chega uma hora que simplesmente você tem que ir embora, esquecer um pouco das
suas origens, mudar de casa, aprender a conhecer a si mesmo, ter um tempo somente com a própria alma para descobrir o que fazer depois. E eu estava disposta a nunca mais voltar a minha cidade que só me lembrava coisas que eu precisava
desesperadamente esquecer. Não culpo propriamente a cidade, mas as pessoas que
me envolvi nela. Apesar de ela ser pequena, me trouxe grandes tristezas. E eu tinha
que arrumar um jeito de acabar com essa dor. Eu sabia que ir para outro lugar não iria mudar nada aqui dentro, nesse caos do seio, mas precisava de um tempo de toda a
minha vida... E saindo da minha cidade eu teria uma nova vida, ou pelo menos uma
rotina bem diferente de antes. Eu precisava disso.

Comecei a procurar dia após dia meticulosamente cada coisa, o lugar, o tempo e até mesmo a estação do ano que seria melhor para mim. Escolhi claro, o verão. Já que eu estava em um eterno outono em mim, que pelo menos fora do meu corpo fosse calor para equilibrar. No começo achei que não teria coragem de fazer isso, mas fui amadurecendo a ideia e aos poucos todos foram acreditando também que não era da boca pra fora. Eu amava Thomas, mas eu me amava mais ainda e para o meu próprio
bem, precisava dar um tempo dessa vida, vendo ele a cada esquina e pior: nos ensaios da orquestra e eventos em que tínhamos que tocar. Uma das coisas que mais amava
no mundo era tocar, me fazia sentir viva, vibrante, feliz. Mas agora era pesado ter que ir no ensaio, cada vez em que diziam a palavra "orquestra" na minha casa, era sinônimo de sofrimento pra mim agora.

- Você vai mesmo para LA? - perguntou Augusto.

- Vou! Eu já disse!

- Eu sei, eu só não consigo... Acreditar...

- São só seis meses... Passa rapidinho -
tentei ser otimista.

- Isso se você voltar...

- Eu vou voltar seu bobinho... - baguncei o cabelo dele e sorri.

Ele tinha razão. Eu não tinha a menor intenção de voltar. Não pelo menos agora no estado emocional em que me encontrava. Augusto me convidou para fazermos uma
trilha na grande fenda dos cânions que ficava distante da nossa cidade e teríamos que passar o final de semana lá. Eu topei, afinal, eu estava procurando por aventura e coisas novas a todo momento para que eu não tivesse tempo de pensar... Nele. E na
maioria das vezes funcionava.

Passei os dias estudando para as provas finais e me distrai com tantas coisas que
precisava fazer no decorrer da semana e quando vi, já estava no final de semana
marcado com Augusto para ir fazer a trilha.

- Pronta? - disse ele ao abrir a porta da minha casa e encontre ele com uma mochila nas costas.

- Sempre!

Chegamos no lugar combinado da excursão e entramos no ônibus. Todos estavam
muito animados cantando e ocando violão e nós entramos no clima também. Quando
me dei por conta, já tínhamos chegado ao hostel rústico em forma de cabanas. Como
estávamos em um hostel conhecemos várias pessoas e eu adorei a essa experiência
nova. No primeiro dia, o guia nos deu sérias instruções sobre a trilha e os perigos que
iríamos encontrar e confesso que fiquei com medo, mas decidi enfrentar e sentir a
adrenalina, afinal, era isso que estava me mantendo viva.
A noite chegou e todos nós nos reunimos fazendo uma fogueira e um dos garotos que
estavam ali começou a tocar violão e a tocar. Eu me sentei no chão juntamente com
Augusto e ele ficou com o seu braço por cima do meu ombro. No começo me senti
desconfortável com a situação, embora ninguém nos conhecesse, nós sabíamos que
não éramos nada um para o outro. Eu não tinha nada a oferecer para ele e cada parte
em que ele me tocava doía saber que eu não conseguia me entregar da mesma forma
que ele se entregava puramente a mim. Thomas havia ido embora e levado a melhor
parte de mim, a melhor versão que eu tinha me formado. E agora eu estava aqui
tentando juntar os pedaços para ficar inteira para alguém novamente. Os garotos
estavam distribuindo bebidas e eu peguei um copo com vodka e eu tomei uma, depois
Augusto estava tomando vinho e eu peguei dele e roubei para mim.

- Hey! Vai com calma aí... - ele disse tentando tirar o copo da minha mão.

- Eu estou calma. - eu comecei a gargalhar muito alto e todos ficaram me olhando e eu francamente não saberia explicar o porquê de eu estar rindo. Eu só não conseguia parar.
Tomei mais algumas doses de outras bebidas e perdi a conta e a noção do tempo.
Comecei a sentir um sono arrebatador e tenho a leve impressão que dormi ali sentada
em algum lugar. Senti o meu corpo flutuar de repente, mas não entendi. Deveria ser o álcool, pensei.

Senti um ar quente vindo no meu rosto e consegui ouvir uma expiração forte e abri os olhos instintivamente, foi quando percebi que Augusto estava me carregando no colo para algum lugar. Ele movimentava a sua cabeça e eu sentia ele cheirando o meu
pescoço, e com a sua mão no meu cabelo, acarinhava gentilmente como se fosse me
colocar para dormir. E foi isso o que ele fez. Augusto me colocou na cama delicadamente e tirou minha sapatilha dos pés e deitou ao meu lado continuando a
acarinhar a minha cabeça como se tivesse me fazendo dormir. Abri meus olhos e
comecei a olhar a boca dele carnuda e aquela barba levemente crescida provocante e sensual juntados aquelas mãos que acariciavam o meu cabelo e quando percebi,estava beijando-o ferozmente. Comecei a descobrir o seu corpo com as minhas mãos penetrando por dentro da sua camisa e sentindo as suas costas se arrepiarem
conforme eu ia deslizando.

- Bia... - Augusto estava tentando falar alguma coisa, mas eu não entendia o que
era. Eu não queria conversar, ele falava de mais. Achei a beirada da sua camiseta e
tentei puxar para cima, eu precisa tirá-la assim como eu queria tirar a minha blusa, mas tinha alguma coisa impedindo. Ele tirou a língua dele da minha repentinamente e eu abri meus olhos para ver o que tinha acontecido.

- Bia... Para...

- O que foi? Não me quer também? - eu disse brava.

Outro da lista, pensei. Eu não era capaz nem de fazer alguém transar comigo? Será
que eu não conseguia atrair nenhum pouquinho um homem? Nem apenas para isso eu
conseguia fazer. Incrível.

- Bia... Não é isso...

- O que é? Eu não te atraio? Ou... você é gay? - não sei porque estava tão
agressiva, mas não conseguia me sentir culpada.

- Você está bêbada Bia, vem cá...

- E daí? Não é só isso que vocês querem mesmo? Só prazer? Eu quero te dar.

Eu falei isso? Eu não conseguia pensar no que eu estava falando, era como se eu
estivesse sem filtro, mas não conseguia sentir um mínimo de arrependimento por isso.
Augusto me abraçou acarinhando o meu rosto e eu fiquei ali, nos braços dele. De
repente tudo ficou como um borrão na noite passada.

Capitulo 48 Outono em mim.

Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora