Outono em mim

Será que o tempo está ao nosso favor

Capítulo 25

A tua voz era melhor que o som da chuva no inverno. É verdade que o caminho seria mais curto e mais cômodo se não fosse a montanha; mas a montanha existe e é preciso seguir viagem!

- Os sofrimentos do jovem Werther

A felicidade é algo tão maravilhoso que você poderia passar anos sentindo-se triste, mas se provar apenas alguns minutos de felicidade, é como se nada além dela tivesse acontecido antes, e a felicidade é tão nobre que ela nunca deixa de partilhar, pelo contrário, ela adora companhia. Nada como uma boa noite de sono. Aquele dia em que você acorda repentinamente e fica se espreguiçando na cama, aproveitando ao máximo o conforto dela. Não tem hora, nada que deixe os primeiros minutos daquele dia pesado. Era a melhor coisa do mundo, acordar em uma cama extremamente macia com um edredom e você sentir-se deslizar no lençol. Eu sentia como se a cama estivesse me abraçando, e eu a abracei de volta, apertei meus braços no travesseiro e fiquei mais um pouco curtindo aqueles minutos de se espreguiçar deitada, aquela suave despedida do sono. Finalmente decidi consultar as horas, eram 9:15 da manhã. Enquanto permanecia ali olhando para a janela, tinha vontade sorrir, finalmente era sábado, o dia em que eu iria viajar com Thomas. Na noite passada ele tinha me perguntado sobre o que deveria levar, e eu sugeri que levasse roupas frescas, mas que separasse pelo menos um moletom. Combinamos que ele passaria aqui perto da hora do meio dia então eu tinha toda a manhã para mim, pois meus pais já haviam ido para lá. Thomas se atrasou e eu comecei a me preocupar. Será que ele vem? Várias pensamentos começaram a surgir supondo coisas que eu não queria ouvir. Ouvi um barulho de motor e corri para a janela da frente da casa, era ele. Soltei o ar aliviada. Ele estava inegavelmente lindo. Tive que retomar a postura antes de abrir a porta. Thomas estava vestindo uma camisa xadrez em tons de verde com uma calça jeans azul desbotada combinada com seu All Star bege. E a sua barba estava feita. Em partes fiquei um pouco frustrada, mas ao mesmo tempo feliz, pois assim era menos perigoso de uma tentativa impulsiva de agarrar ele dentro do carro em movimento. Eu precisava pensar também na nossa segurança. Segurei a vontade de rir dos meus pensamentos malucos e abri a porta para ele.

- Oi? Porque você está rindo? - ele pareceu confuso.
- Oi... Ah nada, uma piada que estava escutando da rádio... - menti. Thomas se aproximou para me cumprimentar e me beijou suavemente no rosto. Seus lábios pegaram uma pontinha dos meus. Meu corpo inteiro tremeu desejando por mais. Ele liberou o espaço e recuou para uma distância amigável. Aquela sensação de estar sozinha com ele na minha casa por um segundo me deixou tensa.
- Tudo pronto?
- Só estava esperando por você... - eu disse.
E pelo seu beijo, e que você me agarrasse agora, por exemplo.
- Então vamos! Thomas estava radiante. Sem delongas, ele pediu minha mala e colocou na parte de trás do meu banco e sorria para mim como se eu tivesse falado alguma piada. Eu nunca havia visto o seu semblante assim, tão iluminado. Ele sorria, eu sorria. Era como se estivéssemos sincronizados. Entrei finalmente na camioneta e observei o dia, o céu estava límpido e a temperatura amena. Thomas deu a partida e acarinhou minha mão.
- Vamos? Ele perguntou. Eu sorri e disse - Vamos!
- Desculpa a demora, estava lavando o carro... Thomas começou. Tinha notado realmente que tinha algo estranho no carro, mas não conseguia identificar o que era, mas agora estava claro: não tinha o cheiro dele. A camioneta cheirava a uma espécie de cheiro de bala, era doce, enjoativo. Hoje eu não estaria intoxicada do cheiro dele, por um momento aquilo me chateou, mas era melhor assim.
- É eu reparei... Está com um cheiro diferente - comentei.
- Ah sim. Daqui a pouco sai infelizmente... Você quer dizer felizmente, no caso. Pensei. Thomas começou a mexer em um pen drive que estava no meio do carro e ligou o rádio.
- Eu separei umas musicas para nós irmos ouvindo, espero que goste... Ele parecia nervoso pela minha aprovação então eu sorri e disse para ele dar o play logo. Thomas ficou me observando enquanto a música começava a tocar.

"I wanna know have you ever seen the rain..."

- Você está de brincadeira? Falei para ele eufórica.
- O quê? É ruim?
- Está brincando? Eu adoro Creedence! Não poderia haver trilha sonora melhor para uma viagem!

Ele suavizou sua testa e pareceu aliviado - Sério? Você gostou mesmo? Nossa eu adoro eles também! Nós rimos e continuamos a viagem. Chegamos lá um pouco cansados então entramos nos quartos e se jogamos na cama. Eu iria ficar em um quarto separado dele, mas eu ainda não tinha falado com a minha família para saber o número do meu quarto, então fui para o dele. Eu deitei na cama e ele fez o mesmo. Ficamos um do lado do outro, houve um silêncio. Ele fechou os olhos e assim ficou. A minha vontade era de beijá-lo todo, mas ele tinha pedido mais tempo, eu tinha que respeitar isso. A vontade tinha de ser recíproca. Resolvi me distrair, então peguei meu celular, eu precisava pensar em outra coisa desesperadamente. Ele de repente se virou de lado e começou a observar o que eu estava fazendo.

- O quê você está fazendo? Ele perguntou.
- Ah... Só passando o tempo mesmo... Aquele silêncio estava me matando.
- Tenho um jogo aqui muito legal... - resolvi mostrar um jogo para ele que costumava jogar quando tinha tempo livre. Ficamos lado a lado de bruços em cima da cama. Comecei a sentir um calor, minhas pernas tremiam e a minha barriga parecia ter uma banda tocando tambores lá. Meus nervos estavam todos a flor da pele. Ele tentou jogar e perdeu.
-Urgh! Thomas deu um tapa no colcha e depois sorriu para mim. Ficamos assim por alguns minutos. Eu perdi completamente a noção do que estava fazendo, quando vi, minha boca estava se inclinado para a dele...

Capítulo 25, Outono em mim