Só o amor volta para brigar, para perdoar...

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Capítulo 54

- Carlos Drummond de Andrade (trecho, Toada do amor)

- Está com calor? Eu posso ligar o ar se quiser... - Thomas mal esperou eu falar e já estava fechando o vidro e ligando o ar.

- Obrigada. - não era por causa do calor que tinha aberto a janela, mas não quis falar nada.

- Então... - ele começou - ainda toca violino?

Lembrei do meu violino no canto do meu quarto todo empoeirado. Nunca mais tinha encostado nele desde o fim do nosso namoro. Eu não estava entendendo porque ele queria conversar, aliás, não conseguia compreender a normalidade dele comigo quando na realidade tivemos no passado tanto sentimento envolvido, tantos momentos, tantas
histórias. Eu ainda estava em choque por estar vivenciando isso. Ficava imaginando se em algum momento ele iria explicar alguma coisa como por exemplo, quando deixou de
me amar, ou se ele iria continuar assim como se nada nunca tivesse acontecido conosco.

- Não - respondi finalmente.

- Você não deveria ter parado...

- Pois é... Às vezes não é nós quem fazemos as escolhas da vida.

Senti Thomas me olhando sem prestar atenção na estrada como ele costumava fazer.

- Presta atenção!

- No quê?

- No trânsito, você está fazendo isso de novo!

- Calma, está tudo sobre controle...

- Sim, como tudo na sua vida...

- Você poderia por pelo menos um minuto ter uma conversa normal comigo? - ele desabafou.

- Por que? Eu nem sei se vou chegar ao acampamento.

- Como assim? Você acha que vou te fazer algum mal?

- Não, mas você muda de ideia muito rápido sabe? Vai que você não queira mais me dar carona...

Eu estava afiada com ele. Simplesmente não conseguia me controlar, as palavras estavam ali me engasgando, com vontade própria.

- O que você imagina Bia? Que nunca amei você? É disso do que se trata?Fiquei em silêncio.

- Eu te amei com todas as minhas forças.

- Você precisa se alimentar melhor então. - soltei uma risada espontânea.- Você me tratava mal, esperava que durasse quanto tempo?

- Claro, quando qualquer coisa parece mais importante que você, um dia tudo se esgota! - agora estávamos gritando um com o outro.

- Ah sim, foi você quem teve a ideia! Eu te disse que não teríamos todo o tempo para nós!

- Sim, só esqueceu de dizer a parte em que depois não teríamos NENHUM!
De repente ouvi uma freada e senti o cinto me segurar no peito. O carro estava parado e saía uma fumaça do capô.

- Bia? Você está bem? Senti as mãos de Thomas em mim levantando a minha cabeça. Tinha uma gota de sangue pingando na minha testa. Estava meia zonza.

- O que aconteceu? - perguntei.

- Eu não vi o buraco...

- Você está bem?

- Acho que bati a cabeça no vidro só...

- Meu deus, ainda bem que foi só isso, eu não saberia o que fazer se acontecesse alguma coisa com você...
- Acho que bati a cabeça no vidro só... - respondi colocando meu dedo no sangue.

Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora