Mas a gente nunca sabe de que lado a chuva vem

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Capítulo 36

"E agora? Marco a letra A ou a letra D? Bom, como dizem por aí, na dúvida marca a C."

Não estava com cabeça para realizar o teste hoje à noite. Tudo que eu conseguia pensar era nele. Faltavam 2 dias para o dia dos namorados e eu ainda não tinha comprado um presente para Thomas. Os últimos dias foram melhores com ele, consegui conversar mais, surgiu um breve intervalo cujo conseguimos ter tempo para nós e deixarmos as outras coisas de lado, as que não tem importância. Passamos a noite de domingo inteirinha juntos, apenas eu e ele. Era surreal aquilo. Eu estava explodindo de felicidade por não ter Bruno por perto por pelo menos uma noite.Mas como sempre, para mim, uma noite nunca era o suficiente quando se tratava de Thomas.

Ele tinha começado um curso de aperfeiçoamento em mecânica avançada e eu estudava as noites. Faziam 3 dias que não o via depois daquela noite. Os meus beijos para ele, eram somente por texto. Era a coisa mais frustrante do mundo. Como estávamos a véspera do dia dos namorados, resolvi usar a ausência dele a meu favor. Liguei para Annie.

- Annie?

- Oi!

- Estava pensando em ir no shopping, está afim? Preciso de ajuda para comprar um presente para o dia dos namorados...

- Claro! Eu tinha que ir também!

- Ok então, pode ser amanhã as 8?

- Por mim está ótimo...

- OK, tchau!

Para Thomas supostamente eu estaria estudando, afinal, ele não precisava saber disso. Quando abri a porta para receber Annie, dou de cara com dois rostos, e um deles possuía barba.

- Oi Bia!

- Augusto?

Eu estava tão chocada que mal percebi o seu abraço apertado em mim.

- Como vai?

- Eu? Huh, estou... Bem?

Fiz sinal para Annie e ela fez uma careta indicando que eu estava neurótica de mais. Como se não bastasse a distância entre mim e Thomas, sair com Augusto definitivamente não nos aproximaria mais. Thomas nunca disse em voz alta que sentia ciúme, mas ele sempre deixou claro que não gostava de Augusto.

Caminhamos pelo shopping inteiro até cada um achar o que estava procurando e quando sentamos na praça de alimentação estávamos exaustos. Pedimos comida grega e nos deliciamos com a refeição exótica porém, como todos na vida contemporânea, Augusto queria tirar uma foto dos pratos (que eram muito bem decorados diga-se de passagem) conosco para colocar na sua timeline do seu perfil. Foi nesse momento em que o pânico tombou conta de mim.

- Não! Vociferei na mesma hora.

Após algumas pessoas timidamente olhar para mim, percebi que minha voz tinha saído mais alto do que pretendia .

- O quê? Perguntou Annie confusa.

- Huh, é que... Thomas não sabe é eu estou aqui e... Bem, preferia que continuasse assim...

Eles continuaram me olhando sem entender.

- É que eu não quero que ele saiba que estou comprando o presente dele... Falei uma meia verdade. Até porque, não consigo nem imaginar a cena dele sabendo que sai com Augusto sem ao menos tê-lo convidado.

- Huh... Ok então...Augusto guardou o seu celular silenciosamente e sorriu. Eu adorava isso nele. Poderíamos estar em uma tempestade e ainda sim, acho que ele estaria naquela calma, naquela paz, naquele sorriso que nunca vi alguém tirar. Acabei comprando algo que não era bem o que eu queria, mas que seria útil. Desejava algo sentimental e que fizesse algum sentido para nós, mas nada encontrei nas lojas então, acabei comprando dois blusões para ele, afinal, o outono já estava mostrando os seus primeiros sinais e logo, ele teria de usar.

- Oi amor...

- Oi, como você está?

- Eu estou bem, e você?

- Nem tanto...

- Ué por quê?

- Sinto a sua falta.

- Eu também sinto a sua, mas você sabe, essa semana está difícil...

- É... Eu sei... O que vamos fazer na quarta?

- Na quarta?

- É... Dia dos namorados lembra?

Por um minuto senti o meu corpo todo gelar. Thomas havia esquecido o dia dos namorados? Que tipo de namorado esquece o seu primeiro dia dos namorados com um relacionamento que acabara de acontecer? Eu fiquei petrificada no telefone. - Só estou te perguntando porque tenho aula e caso precise faltar, devo avisar ao motorista que me leva a universidade... - tentei disfarçar a minha pergunta, mas agora eu já tinha medo de receber a resposta.

Nunca formulei uma pergunta com tanto medo da sua resposta antes. Era aterrorizador.

- Ah sim... Você tem aula, é verdade... O problema é que eu vou ter prova no meu curso também nesse dia... - ele disse parecendo um pouco chateado.

- Oh, não! Então você deve ir fazer a sua prova! Não se preocupa, e só uma data...

- Tem certeza?

- Tenho sim, a sua prova é mais importante. Assim como a empresa, o trabalho, o tempo comigo dividido com Bruno...

- É por isso que eu te amo...

- Eu te amo mais...

- Boa noite Bia...

- Boa noite...

Eu desliguei extremamente chateada com o que acabara de ouvir, mas eu tinha que ser razoável. Era preciso maturidade em uma hora dessas. Poderíamos marcar qualquer dia para sair ou fazer algo juntos, mas uma prova não era tão fácil de refazer assim, até porque implicaria em atestados e algo do gênero que não teríamos.

A primeira aflição chegou no meu peito violentamente de forma que mal pude perceber ela chegando. Eu que achei que nesse dia poderíamos esquentar um pouco mais as coisas, afinal, era o primeiro dia dos namorados que estávamos juntos e seria uma ótima data para algo mais profundo... Mas agora de todas as coisas que poderia acontecer nessa dia, o que restava dele era esperar passar.

Capítulo 36, Outono em mim



Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora