Não lembro quando começou a primavera, mas sei que me sinto nela

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Capítulo 21

Ligo.
Não ligo!
Já sei, vou mandar uma mensagem...
Não, não vou mandar.
Sim!
Não.
Passei o meu dia encarando o celular em cima da mesa do escritório. Eu estava louca para conversar com Thomas como estávamos fazendo já a algumas semanas, mas eu não poderia fazer isso agora. Pelo menos não hoje. Eu precisava de mais algum tempo para processar tudo o que tinha acontecido e pensar, na verdade eu também precisava conversar com alguém. Dividir minhas dúvidas e indecisões. Meu coração queria dar pulos de alegria e colocar em todos outdoors que ele me amava; aliás pelo meu coração, eu já teria contado na mesma hora para todos, mas tinha sempre a razão me pinicando.
Eu lia na minha consciência um enorme e grosseio sinal vermelho apontando para a saída de emergência, indicando para fugir o mais rápido possível. Mas eu preferia sempre ouvir a primeira opção.
Meu celular finalmente tocou, mas era o Ricardo perguntando o que iríamos fazer para o aniversário da Annie. Ai meu Deus!! Esqueci completamente do aniversário da Annie!
"Hmm podemos quem sabe comprar um bolo e fazer uma surpresa na casa dela..." Respondi.
"Isso! Fechou! Por mim pode ser tbm, vou passar aí no sábado as 2 da tarde" ele escreveu na mensagem.
"Ok"
"Ok, bj"
Meu irmão mais novo, Arthur, passou a semana inteira me pedindo para levá-lo ao cinema porque era a estréia do Homem de Ferro III e ele adorava esse super herói, embora eu fosse fã e achasse mais legal o Batman, Super Homem e o Capitão América. Arthur não tinha nada a ver comigo definitivamente. Ele teimava comigo que o homem de ferro era mais legal porque era mais real, ele não tinha poderes, apenas usava o dinheiro e a tecnologia para ajudar as pessoas. Bom, de fato ele meio que tinha razão, mas sempre vou preferir os meus três heróis, pensei.
- Ok, ok... Você venceu. Se der tempo no sábado eu te levo no cinema...
- Sério? Aaa obrigada, obrigada! Meu irmão me abraçou extremamente feliz com o meu talvez.
- Mas é só se der... - alertei.
- Tá bom.. Eu sei... Não precisa ficar lembrando! Ele falou chateado novamente.
No fim fiquei com pena dele, mas se eu desse certeza, ele ficaria me infernizando o resto dos dias e o meu "sim" se tornaria um decreto, ou seja: minha forca.
Meu celular de repente vibrou.
"e aí?" dizia a mensagem de Thomas. Um calafrio percorreu por todo o meu corpo e subitamente me senti extremamente nervosa. E agora? O que eu faço?
"É aí" respondi de volta.
"Tudo bem?"
"Tudo... Só um pouco cansada da aula... E vc?"
"Tô bem tbm"
Detestava essas respostas curtas em uma conversa, mas hoje estava agradecida por elas.
"O quê está fazendo?" Perguntou ele.
"Hm nada de mais, só aqui atirada no sofá assistindo TV e vc?" Respondi. Acho que o mais sensato é agir normalmente e deixar o tempo trabalhar.
"Ah, tô aqui mexendo no sistema elétrico do mustang..."
"Hum"
Eu não sabia o que responder, eu estava muito preocupada com as decisões que eu tinha que tomar para falar sobre o Mustang dele.
"Ei, você não está afim de ir no shopping no sábado? É feriado..."
Quando ele disse que era feriado eu me lembrei imediatamente que era também aniversário da Annie e eu tinha dito que talvez levaria o Arthur no cinema.
O mais irônico sobre sair é que, quando você não tem nenhum compromisso, ninguém te convida para nada. Mas quando você já tem um compromisso, aparecem mais três convites para você sair. Na mesma hora e no mesmo dia... Bom, a parte de ir no shopping com o Thomas e levar o Arthur no cinema combinavam perfeitamente, tenho que admitir. Mas e a surpresa da Annie?
Comecei a refletir enquanto encarava o celular. Eu pedi mais tempo, não um isolamento de nós dois. Na verdade eu estava fazendo errado, eu precisava sair mais com Thomas sob qualquer desculpa para realmente descobrir se ele tinha sido sincero comigo naquela noite ou não. Só assim eu conseguiria decidir. Os nervos não estavam deixando eu pensar direito definitivamente. E o meu coração também.
"Hmm eu tinha mesmo que ir no shopping levar o meu irmão no cinema... Mas daí teria que ser sábado no final da tarde..." - respondi finalmente.
"Tá bom, daí você me liga para eu saber a hora de ir te buscar"
"Ok... Ótimo! Olha só, não quero ser rude, mas preciso ir dormir, hoje tive um dia bem exaustivo..." escrevi.
"Tudo bem então, boa noite a..."
"Quê?"
"Amiga"
"Hum, boa noite..."
Uau. Eu estava chocada de mais para responder a mensagem dele. Aquilo era um trocadilho? Eu nunca imaginei que um dia talvez ele pudesse estar escrevendo esse tipo de coisa para mim. Meu coração estava inflado, eu me sentia como naqueles filmes idiotas em que as meninas se jogam na cama suspirando. Ok, admito, eu estava exatamente assim. Eu queria mais dele, eu estava quase ignorando essa enorme placa de pare na minha mente. Só tinha se passado um dia e eu já estava querendo ignorar completamente o que tinha falado para ele sobre a história de tempo para pensar. O problema todo é esse, o coração não pensa, é imprudente, descuidado... Ele só quer amar, e amar pode ser um jogo muito perigoso, e potencialmente mortal.

Capítulo 21, Outono em mim

Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora