Fez-se outono em mim

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Capítulo 40



"Repara que o outono é mais estação da alma do que da natureza..."



- Friedrich Nietzsche.





- Você tem razão.



- Como assim? - perguntei confusa.



- Sobre tocar na orquestra. É diferente de qualquer outra coisa que já experimentei. É... Especial, emocionante é... Inexplicável.



- Eu sei... Não tem uma escala que eu não sinta isso também... - E pensar que você nunca iria tocar.... Seu bobo!Nós sorrimos um para o outro enquanto estávamos nos deslocando para a casa de Annie após uma apresentação da orquestra. Ficamos lá até altas horas da noite e enquanto conversava com as garotas, ouvi Bruno convidando Rafael para ver como funcionava o nosso trabalho. Na mesma hora ouvi eles combinando que iriam dormir na casa de Thomas, o que me deu uma certa irritação. Eu não gostava de vê-los juntos porque eu sabia que um influenciava fortemente o outro e vice versa. E Thomas era um cara muito influenciado pelos amigos. Enquanto eu ouvia atentamente a conversa deles, disfarçava fingindo prestar atenção na conversa das meninas sobre algum besteirol feminino.



- Vamos embora Bia? Thomas me convidou. Eu aceitei e me despedi de todos. No caminho, ele me contou que o Bruno e o Rafael iriam dormir na sua casa.



- Hum legal. Faz tempo que vocês não ficam juntos mesmo... Tentei ser a pessoa mais compreensível do mundo, mas eu estava chateada. O tempo que tínhamos era totalmente escasso e o único tempinho que sobrava para ficarmos juntos era agora indo para a minha casa, mas ele estava ali, fazendo planos com os seus amigos para uma festa do pijama para mostrar como era os processos de pintura.



- Eles estão indo para lá agora, quer ir também? O quê? Agora? Isso quer dizer que não vamos ficar juntos mesmo nem um pouquinho?? Só pode ser brincadeira - pensei. - Não. - falei duramente, mais do que pretendia.



- Por quê? Tem certeza? - Sim, não vai adiantar nada eu estar lá mesmo. Senti pela minha visão periférica ele me olhando. Permanecemos em silêncio. Se ele preferia os amigos tudo bem. Já tinha trezentos elefantes na nossa relação mesmo, o que era mais dois amigos? Ele parou o carro e eu tomada pela decepção misturada a raiva beijei-o rapidamente. Ele ficou surpreso com a minha reação de ter tirado os meus lábios tão depressa dos seus e abriu os olhos para me olhar. Foi então que ele entendeu que eu estava brava. Sai do carro sem dizer nada e ele ficou parado ali por alguns segundos. Quando fechei a porta de casa olhei para a rua e vi ele arrancando o carro em uma velocidade que nunca tinha visto antes. - Isso, para ir para os amigos daí você acelera né! Mas quando é pra vir na minha casa sempre demora! - pensei - pois fiquei com eles!



Me joguei na cama tentando dormir, mas tudo era em vão. Ficava imaginando o que eles estariam fazendo, se por acaso ele estaria falando da nossa relação para eles. Eu não queria que isso acontecesse, afinal, que conselhos bons poderiam dar? Cada um tinha um histórico terrível para relacionamentos. Aquilo foi comendo os meus nervos. A noite passou lentamente sobre os meus olhos, quando meu corpo estava vencido pelo cansaço de tanto meus músculos estarem contraídos, enfim dormi. Mas logo o despertador tocou e era hora de ir para o serviço. Naquela noite não tive aula e Thomas foi para a minha casa. Ainda estava brava por ele ter escolhido os seus amigos á mim no dia anterior, e permaneci em silêncio, embora eu tenha sentido ele distante também. Thomas chegou com dor de cabeça na minha casa e eu, mesmo irritada com ele, peguei um remédio e dei para ele tomar. Sentei ao seu lado na sala e ele ficou com a cabeça inclinada no sofá de olhos fechados. Decidi apagar a luz para ele ficar mais confortável, ouvi dizer que era bom para quem está dor de cabeça, e permaneci ali em silêncio assistindo TV. Estava dando um clipe de música que eu gostava e comecei a cantar baixinho. Ele ficou me olhando por um tempo e fechou os olhos de novo. Eu não entendi, mas permaneci ali cantando até terminar a música. De repente eu não consegui mais aguentar e coloquei a minha cabeça no peito dele.

Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora