Outono em mim

Brisas de verão e suas surpresas

Capítulo 53

A vida é cheia de mudanças. Às vezes elas são dolorosas, outras vezes são lindas e, na
maioria das vezes, ambas as coisas.
- Smallville.

A melhor parte de eu ter chegado de viagem era ser véspera de final de semana. Dormi como um bebê na noite passada. Para falar a verdade, nem lembro quando dormi, eu
simplesmente apaguei e não lembrava de mais nada. Como Augusto já tinha me intimado para ir acampar com nossos amigos, passei o dia desfazendo minhas malas e recomeçando outra. Fui na garagem e peguei a barraca e outro equipamentos que eu
tinha e separei para levar, quando reparei já era noite e eu nem tinha percebido.
Tinha combinado com Augusto que ele me pegaria a noite para irmos lá, mas algo aconteceu e ele me ligou dizendo que iria se atrasar no seu trabalho, então eu disse a ele que iria com o carro do meu pai para adiantar as coisas e montar a barraca para que
não ficássemos sem lugar para dormir. A noite estava estrelada e havia um leve vento gélido de primavera, era tão confuso sair de um lugar onde estava começando o inverno e chegar no outro que estava começando o verão. As árvores estavam coloridas e a estrada estava tranquila para dirigir.
Coloquei meu shorts azul e uma regata branca para brindar a estação nova em que eu me encontrava, eu não sabia explicar, mas sentia que aos poucos eu estava saindo daquele outono em mim. Beijar Augusto foi como se tivesse libertado alguma parte aqui dentro e eu precisava seguir em frente, afinal, como ouvi uma vez, amar é uma escolha.
E eu estava disposta a amar Augusto, era o mais correto a fazer. Eu não me sentia completamente livre, mas definitivamente estava pronta para tentar. Abri as janelas do carro, liguei o rádio e cantei junto com a canção. Eu estava sozinha ali na estrada me divertindo com o meu rádio, sentia como se fosse uma folha voando pelo acaso.
Estava tudo impecavelmente perfeito, exceto a parte em que apareceu um cachorro no meio do asfalto subitamente. Foi tudo muito rápido. Tentei buzinar para ele sair, mas ele
não se mexeu e eu estava em uma velocidade muito alta para simplesmente frear o carro, então em um gesto de instinto, fui obrigada a desviar dele indo para o acostamento e tudo ficou um borrão. Eu estava tremendo. Sentia minhas mãos suarem e acelerava o carro, mas só fazia barulho de motor e não se movia. Tentei me acalmar.
Desci do carro e tudo estava um breu, então peguei minha lanterna e iluminei os pneus.
Uma das rodas da frente estava dentro de um enorme buraco e então eu percebi que era impossível tirar o carro dali. Eu não iria a lugar algum. Meu celular estava com a metade da bateria e para variar Augusto não atendia o telefone. Liguei para a
seguradora e o homem me deu a triste notícia de que demoraria no mínimo três horas até o guincho chegar onde eu estava. Comecei a sentir medo de estar ali sozinha, mas eu precisava controlar isso, afinal, tinha mais longas horas para ficar ali.

Peguei uma chave de roda e fiquei com ela na mão rezando para que ninguém resolvesse parar o carro. De repente achei ruim estar apenas de shorts. Entrei para dentro do carro e tranquei as portas. Lembrei que tinha um livro no porta luvas e comecei a ler.

Quando uma forte luz me ofuscou os olhos e me acordei. Consultei as horas, eram onze da noite. Tinha dormido ali e nem tinha percebido. Achei estranho, aquela luz
continuava refletindo no meu retrovisor diretamente nos meus olhos e decidi checar;
havia um carro se aproximando atrás do meu lentamente. O terror percorreu minhas veias de medo. A pessoa desceu do carro e se aproximava lentamente para onde eu
estava. Peguei a chave de roda e segurei fortemente e me preparei. O rapaz estava com uma lanterna e olhou o carro de longe e pude perceber que a pessoa também
estava acuada. Quando finalmente consegui ver o rosto fiquei tão espantada em ver o rosto de Thomas quanto ficaria se visse agora o Freddy Krueger.

- Bia?

- Thomas?

Ele se aproximou mais e eu abri a porta do carro.
- O que você está fazendo aqui? - fizemos a pergunta na mesma hora um para o outro.