Capítulo 34
"A felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar. Voa tão leve, mas tem a vida breve. Precisa que haja vento sem parar."
- Vinícius de Moraes
Eu estava na frente do computador com uma pilha de papéis para resolver. Abri a gaveta da minha mesa e por sorte tinha uma cartela de remédio. Eu tinha essa mania de ter chocolates,remédios e creme para as mãos na minha gaveta e bem, embora nenhuma das coisas que carregava combinassem uma com a outra, todas tinham a sua utilidade.
Thomas eu eu nos víamos diariamente e conversávamos sobre a nossa "empresa" o tempo todo. Juntamente conosco passava também Bruno todas as noites na casa de Thomas projetando desenhos e projetos futuros. Eu nem lembrava mais o que era namorar. Os dias eram exaustivos e eu estava à beira do stress no trabalho.
Thomas me buscou no serviço nesse dia de enxaqueca violenta, mas por sorte ou generosidade da vida, quando chegou a noite ela tinha me dado trégua.
- Oi...
- Oi amor...
Ele beijou-me brevemente e continuou dirigindo para a sua casa. Acabei contando a ele sobre os meus problemas na empresa e não me dei conta de que estava só reclamando. Eu estava totalmente envenenada pelo cansaço e irritação de um dia estressante. Thomas permanecia em silêncio e às vezes concordava com alguma coisa e outra. Me senti culpada por desabar tudo em cima dele e até pensei em pedir desculpas, mas daí surgiu-me um pensamento: e não é para isso que servem relacionamentos? Um suportando a carga do outro? A vida corrida que eu estava levando tornou-se pesada de mais, e eu precisava dividir o peso com alguém.
Nas noites em que ficávamos juntos (e quando me refiro a juntos, leia-se com Bruno também) tinha esses breves momentos em que eu tentava beijá-lo enquanto trabalhávamos nos pedidos dos novos clientes, mas ele estava focado de mais para me devolver o carinho. Em outras vezes quando estava distraída, ele vinha me abraçar e beijar meu pescoço, mas e eu não dava atenção, completamente desapercebida aos poucos momentos de carícia que estávamos tendo.
Nos finais de semana era pior, íamos até a madrugada trabalhando e depois Thomas tinha que levar o Bruno e eu em casa. Sim, ele ainda não tinha comprado nem um jegue que fosse para sua locomoção. E lá íamos todos exprimidos dentro da pequena cabine.
- A gente tem que ficar mais tempo juntos...
Eu disse em uma dessas noites enquanto deixávamos Bruno na sua casa de madrugada.Eu estava tentando dar um toque a ele que precisávamos observar mais o nosso relacionamento.
- Mas a gente passa as noites juntos!
Ele claramente não entendeu o que eu queria dizer. Eu bufei.
- Sim, mas precisamos de um tempo pra nós, sem o Bruno, sem a empresa, sem falar de negócios...
- Hum... Entendi. Seu semblante suavizou e agora ele parecia estar entendendo sobre o que eu estava querendo dizer.
- Mas Bia, você vai ter que entender que tendo um negócio para cuidar, vamos passar mais tempo focado nisso, não vamos ter o mesmo tempo de antes...
- Eu sei, mas...
Ele ficou me olhando em silêncio.
- É, deixa pra lá...
Resolvi silenciar, ele não entenderia. Thomas tinha razão em relação ao tempo que teria de ser dividido, era totalmente compreensível. O que não era tão compreensível era dar mais importância a um negócio que poderia nem dar certo em frente a um relacionamento. Porque você sabe, uma relação é como uma planta, você tem que regar, tirar as ervas daninhas que vão se criando, tem que deixar ela florir, arrancar as folhas... É preciso de manutenção e cuidado constante.
Precisávamos de um tempo só para nós, para sair, ver um filme, caminhar de mãos dadas, conversar sobre algo aleatório, ter alguns minutos para sentir o gosto um do outro.
Nem lembrava mais de como era sentir-se quente em meio aos seus beijos. Bruno estava sempre conosco. Eu já me sentia em um relacionamento á três. Só que não por vontade própria. Eu não queria dividir meu relacionamento com Thomas com ninguém. Desejava muito que a empresa desse certo, mas acima de tudo, desejava que o meu namoro desse mais certo ainda. Eu queria noites de filme e pipoca no sofá como qualquer casal de namorados faz. Era pedir muito?
- Você está muito reclamona nesses últimos dias... - ele disse de repente.
- Me desculpa, deve ser o cansaço...
Permanecemos em silêncio.
- Acho que é o stress do trabalho. - menti olhando o assoalho do carro. Bom, não era totalmente uma mentira, eu estava estressada devido a tantas atividades que estava fazendo ao mesmo tempo, mas o que estava me incomodando mesmo era a falta de tempo que tinha com ele.
Thomas puxou o meu rosto e beijou-me. A urgência dos meus lábios chegaram alucinados ao encontro dos dele com força violenta. Em segundos senti o meu corpo todo pegar fogo. Era como se abster de carne tentando virar vegetariano por um determinado tempo e depois de desistir, finalmente ter a sua primeira refeição após muito tempo de jejum daquela comida.
Corri minhas mãos por dentro da sua camiseta nas costas dele fazendo um mapa nas curvas dos seus músculos, sentindo o hálito quente dele no meu pescoço. Eu adorava sentir a pele dele arrepiada, a sua respiração ofegante, o silêncio sendo quebrado apenas pela nossa respiração dentro daquela camioneta. De repente tudo estava bem de novo e parecia que nada tinha acontecido antes. Todos os meus medos, cessaram ali, em questão de um toque.
Mas no fundo, bem no fundinho do meu peito, eu sentia que tinha alguma cosia errada. Havia leves tremores de preocupação no meu subconsciente que eu estava me negando a observar.
Era como uma criança que é ingênua o suficiente para entrar em um lago e achar que não tem buracos ou alguma parte bem funda. Sempre há buracos. E eles podem te matar se não souber nadar.
Capítulo 34, Outono em mim
VOCÊ ESTÁ LENDO
Outono em mim
Romance" Eu adoro quando esquece teus olhos sobre os meus... " "Outono em mim" vem com todo sentimento que grita em nosso peito todos os dias, no sentido do outono que vem o vento e derruba todas folhas ao chão.. Que refletindo aos nossos sentimento tos, e...