Nublou-se então no meu coração

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Capítulo 20

Há algo peculiar sobre os dias nublados. É aquele dia em que você acorda e olha para o céu e não sabe que roupa vestir e que sempre acaba errando o look, porque acha que vai fazer sol, mas chove e vice versa.

Uma decisão tão pequena, mas com uma consequência crucial para o resto do dia.

Eu estava passando por um dia nublado na minha vida também, onde eu tinha que tomar decisões sobre algo que eu poderia apenas supor que seria o mais correto e melhor para mim.

São 4:30 da manhã e eu não consegui dormir. Estou exatamente a 2 horas me virando de um lado para o outro e tentando ao menos parar de pensar, mas é impossível, toda vez que fecho os olhos, me vem flashes da noite passada com Thomas.

Eu estava finamente seguindo em frente, meu trabalho estava maravilhoso, a faculdade. Meus amigos... Tudo estava se encaixando perfeitamente. Eu estava feliz. E apesar de ter esse sentimento tão profundo e intenso por Thomas, só existia uma única pessoa que era capaz de me fazer esquecê-lo enquanto estava com ele, Augusto. Era fácil estar com ele.

Já com Thomas... Era complicado.

Eu nunca conseguia saber o seu próximo movimento, era difícil prever se eu estaria no próximo capítulo da sua vida e se por acaso tivesse, por quanto tempo continuaria. Augusto sabia exatamente o que queria, Thomas por outro lado, nunca soube.

Por minutos sob uma enxurrada de pensamentos, a cólera tomava conta de mim quando começava a pensar do por quê daquilo tudo.

Agora que estava tudo bem, ele vem bagunçar a minha vida, remexer no meu coração doído. Ele não tinha esse direito. Ele não tinha o direito de solicitar o meu coração quando ele simplesmente manteve distância por todo esse tempo porque quis ou seja lá qual for o seu motivo.

Por muito tempo desejei ser o lar dele, e agora que eu estava seguindo em frente, era como se dissesse: "toma aí meu coração, faz o que quiser", e agora que eu tinha ele na palma das minhas mãos, eu não sabia o que fazer com isso. Ele esperou de mais. A vida é tão injusta.

Quando ele disse que me amava, eu queria desesperadamente dizer sim e beijá-lo, mas eu senti alguma coisa junto desse sentimento também: as lembranças da dor, do sofrimento, da tristeza e a pior: a dúvida.

Fico pensando se ele realmente estaria falando a verdade ou simplesmente não suportava o fato de estar sendo deixado para trás e eu estar finalmente feliz seguindo em frente com uma vida, modéstia parte, desejável para qualquer um.

Aquela angústia tomava conta de mim naquela noite e era impossível ignorar os últimos acontecimentos.

"Eu te amo" foi o que ele disse.

E essas três palavras fez meu mundo virar de cabeça para baixo. Se ergue de repente diante de mim o terrível e temido impasse. Arriscar tudo o que eu tinha para viver um grande amor e correr o risco de quebrar meu coração de novo, ou continuar a minha vida invejável e feliz, mas com aquela nuvem sempre na cabeça ao deitar minha cabeça no final do dia no travesseiro me dizendo no ouvido "e se..."

Independente da decisão que eu fosse tomar, nenhuma era fácil. Fiquei me perguntando se ele gostava mesmo de mim ou da ideia de gostar de mim...

No fundo eu estava com raiva, por tudo o que aconteceu. Por todos os momentos e chances que ele teve de dizer alguma coisa e nunca fez, por todo sofrimento causado que poderia ser poupado... E o tempo? O quê a gente faz com o tempo?

Foi perdido, não volta mais. Eu estava cansada dessa história. Eu só queria dormir um pouco para não pensar. Para quem sabe... Adiar mais um pouco esse assunto complicado. Mas ao mesmo tempo, meu coração pulava no peito só de pensar que isso era real, estava realmente acontecendo, ele tinha acabado de declarar com a sua grave voz o seu amor por mim e isso não poderia ser ignorado.

O despertador finalmente tocou. Desliguei ele e me sentei na cama, dali conseguia ver pela janela o céu e estava nublado de novo. Abri as portas do meu armário e de novo, me vi em um outro impasse, não sabia qual roupa colocar. Decisões, decisões...

O mais engraçado e irônico sobre escolhas, é que mesmo você optando por não fazer nenhuma, o simples ato de não escolher, também já é uma escolha.

Será que eu devo ligar para ele hoje, ou ele vai me ligar? Eu não sabia o quer fazer, afinal, foi eu quem pediu para esperar mais um pouco. Mas e esse pouco, quanto tempo deveria durar? Eu estava lentamente perdendo o juízo nesses meus monólogos em meus pensamentos. Eu deveria falar com a Annie, desabafar com alguém. Mas se eu falar para ela, eu vou ser alvo de mais uma bomba de perguntas. De qualquer jeito, depois daquela noite em que chegamos juntos lá na casa dela, nós somos com certeza o tópico principal de qualquer tipo de conversa que poderia ter hipoteticamente.

Enquanto me questionava sobre inúmeras perguntas, a que permanecia sobretudo era se eu deveria preparar um café para a visita dele, ou a minha vida para ser um lar.

Capítulo 20, Outono em mim

Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora