A chuva é uma maneira desesperada de beijar a terra

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Capítulo 32





"Foi naquele dia em que estávamos no aniversário do Ricardo que formou-se uma roda onde o Roberto disse que tocar violão era muito legal e que tinha um sonho que alguém formasse uma banda só de garotas...Daí a Annie estava junto na roda conosco e disse que tinha vontade de tocar violão como você, mas não aprendia porque estragaria as suas unhas. No mesmo instante te observei e você ergueu suas mãos, olhou suas unhas corroídas e deu de ombros. Depois você olhou para a Annie e disse: - Dane-se as unhas, tocar violão é mais legal... Vale à pena não ter unhas grandes para sentir o prazer de tocar.Eu sorri instantaneamente satisfeito com a sua resposta e foi ali que eu percebi que você era diferente das outras garotas e eu estava completamente apaixonado por você..."



Estávamos sentados com as pernas para fora no píer. Ele beijou a minha testa e olhou para o horizonte com o olhar distante depois de ter falado. Sentia uma coisa tão boa dentro de mim, ele contando quando descobriu que sentia algo por mim.



Havia uma vento gélido no píer e as nuvens se de deslocavam rapidamente no céu. Thomas percebeu meus leves arrepios na pele e me deu o seu moletom para vestir. Era a melhor coisa do mundo, estar abraçado na pessoa mais importante da sua vida dentro de um moletom quentinho e perfumado. Ele levantou-se inesperadamente e me deixou confusa ao caminhar em direção oposta à mim. Fiquei imaginando onde ele iria, mas resolvi aguardar. Deitei na madeira e fiquei observando os últimos raios de sol no mar e algumas tímidas estrelas aparecendo no firmamento.



Quando ele voltou, Thomas estava segurando um copo com uma bebida quente e me deu. Sentei novamente e me escorei nos seus ombros compartilhando aquela bebida gostosa.Enquanto olhava a fumaça saindo do copo enquanto ele bebia, fiquei acarinhando a barba mal feita dele que, em mim diga-se de passagem, tinha um efeito hipnotizador. Thomas devolveu o copo para mim novamente.



- O que é isso? - perguntei sentindo o gosto delicioso daquele líquido que nunca havia tomado antes.


- O nome é quentão, uma bebida típica da cidade feita à base de vinho, só que servida quente. É deliciosa né?


- É maravilhosa! Respondi cheirando a fumaça. Tinha cheiro de canela e vinho.



Aquele momento estava tão perfeito. Eu aconchegada no seu peito enquanto assistíamos o pôr do sol compartilhando aquela bebida quente. Que o frio seja lá fora, não aqui dentro do coração, pensei.



- Bia...?


- O quê?


- Eu te amo...


- E eu mais...


Segurei o seu rosto com as minhas mãos e o beijei lentamente.


- Eu quero passar a minha vida com você...


Thomas disse enquanto roçava a sua barba nas minha bochechas causando arrepios involuntários em toda a minha pele.


- Uma vida não seria o suficiente... Respondi.



Devolvi o carinho dando pequenos beijos em todo o seu pescoço fazendo um caminho até o seu queixo.



Quando cheguei a sua boca, mordi o seu lábio e brinquei até ele finalmente abrir as pálpebras. Aqueles olhos negros violentos penetravam em mim de uma maneira em que eu me sentia como se praticasse saltos nos penhascos para o mar e depois de penetrar na água, ficava flutuando entre o morro e o oceano violento me jogando contra as rochas.



Era como entrar naqueles mares negros sem ter a menor ideia do que se encontra em baixo e qual a dimensão da sua profundidade. São aqueles tipos de paisagem que nos causam medo e ao mesmo tempo curiosidade para criar adrenalina suficiente para se tornar um viciado em querer saber o que mais há em suas profundezas.



Nós sorrimos um para o outro abobalhados e enfim levantamos para ir embora. Era a primeira vez em que saíamos em público de mãos dadas, eu me sentia como se estivesse desfilando em uma passarela. Nunca me senti tão orgulhosa caminhando na rua. Porque era tão mais fácil uma vida com ele.



Pela primeira vez caminhei sem medo de tropeçar, sem medo dos olhares alheios. Minhas mãos sentiam-se seguras sobre o calor das dele, era fácil andar lado a lado, agora estávamos no mesmo passo, totalmente sincronizados.



Thomas era o meu equilíbrio particular.



Capítulo 32, Outono em mim



Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora