Noites de verão

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Capítulo 15

"Sempre que está ventando me acontece alguma coisa ..."
- Ana Terra
- Surpresa!! Todos gritaram o meu nome e eu fiquei em um misto de espanto e felicidade. Foi uma das melhores sensações da vida que eu já tive. Sentir-se importante para as pessoas.

2 dias antes
Se eu soubesse que psicologia reversa funcionaria tão bem em Thomas, já o teria feito. Inexplicavelmente após eu começar a ignorá-lo, dias depois ele começou a me procurar e mandar mensagens com frequência.
Inacreditavelmente as coisas estavam lentamente tomando formas, e estão parecendo ser bonitas. Estou percebendo um calorzinho emanado por ele e desta vez eu estou sentindo que não é eu que estou alimentando a fogueira para não morrermos de frio, eu sinto ele querendo também sobreviver... Querendo se manter aquecido, vivo ao meu lado.
Annie me disse que ela estava indo devagar com o seu ex e me explicou toda história e blá blá blá. Enquanto ela falava, comecei a pensar e refletir sobre isso. Quando é amor, nada que a pessoa possa fazer de ruim pode ser mais forte do que o que se sente, isso eu aprendi com ela.
Faltavam exatamente 2 dias para o meu aniversário e eu não sabia o que fazer com essa data. Eu não queria ficar em casa, pois me sentia muito depressiva após uma terrível experiência de ter passado meu aniversário sozinha. Então provavelmente eu iria convidar alguns amigos para comer fora.
Fiquei pensando se Thomas lembraria do meu aniversário. Quer dizer, não que ele tenha que saber, mas foi um pensamento que me ocorreu quando me lembrei da ocasião.
Quando cheguei em casa, recebi a mensagem da Annie convidando para ir em um evento que estava acontecendo na praça da cidade, e ao que parece, era uma feira relacionada à cultura.
Ao chegar lá, havia muitos amigos nossos e é claro, Thomas. Ele sempre chegava atrasado, acompanhado do Rafael, mas chegava. Aquela visão dos dois juntos sempre me incomodava. Acho que talvez no fundo eu sentia que o Rafael, seu amigo inseparável tinha um pouco de parcela de culpa entre eu e Thomas não nos acertar, afinal, todo garoto normal sai sozinho ou dá uma carona para alguém que lhe desperte um mínimo de interesse, mas com o Thomas isso era bem limitado se tratando do seu carro com um só lugar disponível, sendo que era sempre ocupado pelo melhor amigo. Achei estranho ele ter chegado com o carro dos pais dele e não o seu, mas esqueci depois.
Na feira havia muitos livros a venda, apresentações de teatro e música. Estava espetacular aquela noite.
Após rodearmos o lugar de um lado ao outro, sentamos nos bancos e começamos a conversar. Alguns foram embora na medida em que o tempo ia passando até que ficamos em torno de 5 ou 6 pessoas. Foi quando Thomas teve a incrível ideia de sair dali e ir para algum lugar aberto 24 horas para comer. Ele adorava isso.
- Ei pessoal, vocês não estão afim de ir comer alguma coisa no Mac?
Não era preciso insistir muito. Todos eram fã de comidas não saudáveis ali. De repente eu fiquei nervosa com a situação.
- Você vem? Ele perguntou.
- Não sei, eu não avisei ninguém e não tenho como voltar...
- Mas eu te levo em casa...
Pensei por alguns minutos e todos começaram a me convencer a ir.
- Tudo bem então... Só me deixem fazer uma ligação. - Eu não sabia exatamente o que estava fazendo, mas liguei para a minha mãe e avisei que iria para outro lugar. Até não posso reclamar dos meus pais, eles nunca foram de ficar me ligando de meia em meia hora. Amava isso neles.
- Pronto! - respondi- Podemos ir!
À noite estava muito estranha, ninguém quis sentar no banco da frente, então claro eu ocupei o lugar dali. De repente me dei conta que talvez fosse por isso que ele não tinha vindo com a sua camionete de dois lugares, mas sim com a dos seus pais que era cabine dupla.
Sentamos naqueles bancos estofados e eu fiquei na mesa para guardar o lugar. Depois chegou a Helena e se sentou comigo.
- O que você vai querer? De repente ouvi uma voz ao meu lado. Era ele me perguntando em pé o que eu queria comer. Quê? Como assim? Pensa rápido!
- O quê? Errr... Pode ser um MC flurry mesmo...
Eu estava completamente perdida na situação. Thomas estava me oferendo alguma coisa? Oferencendo pagar minha comida? Quando é que isso começou a acontecer que eu não reparei? Eu estava completamente confusa, mas por sorte eu amava o sorvete do Mac e respondi rápido.
- Você se acostuma com o tempo - de repente Helena começou a falar- Eu também não me sinto bem do Jonas pagar a conta, mas para não magoar o ego masculino... Esses namorados...
- Oh, não! Mas eu... nós somos só... Eu estava completamente embaraçada naquela hora porque no final das contas eu nem sabia o que dizer às pessoas. Eu não sabia o que éramos. Já não sabia mais o que estávamos fazendo.
- Por enquanto... Helena disse sorrindo para mim.
Será? Será que isso está realmente acontecendo? São dias de Alice, só pode.
Estávamos parecendo um casal definitivamente, porque ele me trouxe o sorvete e sentou-se ao meu lado.
Ele ficou com as mãos para cima da mesa e de repente eu vi os seus machucados. Ele seguiu o meu olhar e disse - É feia né?
- O quê? Perguntei confusa.
- Minhas mãos são feias né? Toda machucada, dura e com uma verruga..
Foi então que eu reparei que havia uma pequena verruga em um de seus dedos, quase imperceptível.
- Não... Eu não acho. São mãos de uma pessoa que trabalha. - eu fiz leves círculos com meu dedo sobre as suas marcas e rachaduras nas mãos e continuei- parece alguém que valoriza as coisas, que tem experiência e história. Alguém que não depende de ninguém...
Ele ficou me olhando por alguns segundos e sorriu. Acho que no fundo ele estava mesmo preocupado sobre o que eu achava das suas mãos.
Eu fui para casa aquele dia com muitas dúvidas na minha cabeça. Era a primeira vez que ele estava demonstrando em público a sua suposta intenção por mim.
No caminho de volta ele falou algumas coisas com duplo sentido e eu respondia igualmente. Era estranho estar falando de um assunto sabendo que na verdade estávamos falando de outro. Era como aqueles jogos medievais que os jogadores tinham muita educação e trivialidade, e suas lutas pareciam mais como uma dança.
- Mas e se o Bruno gosta mesmo dela? E se ele se arrependeu por ter sido um babaca antes? Thomas estava falando do relacionamento de Annie e Bruno que eles estavam aparentemente se entendendo de novo.
- Acho que dessa vez, ele deveria pensar bem para não machucá-la de novo... Acho que ela não iria aguentar outra partida. Havia um certo rancor na minha voz sem querer quando respondi.
- Ele vai pensar, te prometo.
Eu olhei bem nos olhos dele e desci do carro.
- Boa noite, disse a ele.
- Boa noite.
São tantas dúvidas, tantas decepções que vinham toda hora me lembrar, mas ao mesmo tempo meu coração queria se encher de felicidade.
Em tempos de Alice, talvez hoje eu vá me dar o luxo de dormir feliz. Talvez só hoje eu me dê esse presente antecipado de aniversário e que eu receba do amanhã o que eu tenho que receber do amanhã, porque hoje eu me nego a mandar a felicidade para fora do meu coração.
(Continua)

Capítulo 15, Outono em mim

Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora