A primeira gota

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Capítulo 38



Estas alegrias violentas, têm fins violentos...



- Shakespeare



Ouço o tic-tac do relógio. Consulto as horas, são 7:30 A.M. Passou-se um dia, e outro, e outro. Silêncio.



É só eu e o relógio aqui no meu quarto, o barulho dele me dizendo quanto tempo fazia que eu não via Thomas. Cada segundo que ele tilintava no ponteiro era um intervalo que aumentava da distância que se fez naquela semana entre nós.



Após nós dois estarmos com compromissos no dia dos namorados, eu esperava que no mínimo, no outro dia eu o veria, mas não foi o que aconteceu. Conversávamos no telefone e no fundo tinha a esperança de ouvir na ligação ele dizendo "hey vamos sair hoje à noite ou ficar aí mesmo na sua casa, me espera aí que eu estou chegando" ou até mesmo tinha essa esperança de ouvir um bater na porta e ser surpreendida ao ver o rosto dele, mas... Nada disso aconteceu, nem um sinal dessas palavras saírem da boca de Thomas enquanto falávamos no celular, nem muito menos uma aparição dele na minha janela. Era apenas eu e o sons dos ponteiros.



Detestava ser dessas garotas sentimentais e me odiava por me sentir tão chateada com isso, afinal, era só uma data besta que colocaram para ganhar dinheiro. Mas porquê doía toda vez que me lembrava?



Eu estava me arrastando por dias rabugentamente em todos lugares que tive de sair, mas para a minha sorte o sábado finalmente tinha chegado. Perdi o sono pela madrugada e fiquei me virando de um lado para o outro na cama até que cai no sono novamente. Acordei sendo recepcionada calorosamente pela cólicas. Levantei-me, tomei banho e pus uma calça de plush e uma blusinha de manga curta. Imediatamente fui a cozinha procurar algum remédio que pudesse conter aquela dor indesejada e enquanto isso comecei a sentir mais frio que o esperado. Definitivamente o outono estava dando as suas caras, pensei. Subi as escadas e peguei um moletom velho para vestir. Fiz um chá para me aquecer e sentei no sofá segurando com as duas mãos a caneca para me esquentar. Liguei a televisão e depois de tomar o chá deitei no sofá em posição fetal. Estava trocando de canal quando vi que estava começando um filme, li a sinopse e me chamou a atenção por ser com a atriz Ane Haltway, e o nome não poderia ser mais irônico: amor e outras drogas.



De repente senti algo descendo sobre as minhas bochechas e percebi que estava chorando. Eu estava sozinha em casa e agradecida por não compartilhar dessa situação desconfortável de me derramar em lágrimas por causa de um filme. Será que era por causa do filme? Por um momento ponderei sobre isso, a minha mente vagava em um zilhão de coisas ao mesmo tempo. Assistir filmes românticos onde provavelmente a personagem principal iria morrer não ajudava em nada a minha TPM e a minha situação atual com Thomas. Mas eu não vi o final para saber se ela morreria ou se eles ficariam juntos porque alguém bateu na porta e eu ligeiramente enxuguei o meu rosto que estava molhado de lágrimas.



- Thomas?



- Oi Bia... Ele me beijou e ficamos assim na porta, e enquanto nos beijávamos sentia um pouco do sal das minhas lágrimas que pegaram nos seus lábios enquanto ele me beijava. Eu o abracei fortemente e ficamos assim por algum tempo. Silêncio. Eu sentia as batidas do coração dele junto ao meu. Eu queria ficar para sempre ali. Saudade, essa era a palavra. Um sentimento que vai te consumindo até a sua vida significar apenas isso.



Fiquei pensando se aquela garota do filme iria morrer. Eu não saberia explicar se eram os meus sentimentos à flor da pele, se era o filme ou apenas a nossa relação, mas me senti tão triste ao pensar que isso algum dia poderia terminar. Só de pensar na possibilidade fez-se um novo nó na minha garganta e eu contive a vontade de chorar novamente.

Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora