A tempestade é aqui

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Capítulo 18

São nesses exatos momentos da vida que você percebe que se não fossem essas cenas de completa e surpreendente revira volta, viver seria muito insonso. Chovia, e era temporal. Eu não consegui enxergar isto vindo, mas era real. Essas chuvas inesperadas de verão são extremamente vis e torrenciais, mas às vezes é necessário colocar os pés na lama e sentir a chuva. Sentir cada gota tocando o corpo. Fechar os olhos e apenas se entregar aos sentidos, apenas para ter o prazer de pelo menos uma vez na vida não se importar se alguma coisa vai acontecer, se a roupa vai estragar, se um raio vai cair e te matar. Apenas se entregar ao prazer sinestésico e entender que pelo menos alguma coisa na vida você não vai conseguir controlar. E não ter o controle sobre tudo, é o que faz a viver ser tão atraente e eletrizante muitas vezes.

- Ué, está se vestindo de novo? Perguntou meu irmão confuso.
- Vou para a casa da Annie... - Eu não queria falar que iria com Thomas.
- Um... Ok então. Ele respondeu.

Vesti uma saia e uma blusinha e me olhei no espelho. Me senti nervosa. Sera que estava feio? Que besteira. Sempre andei com ele. Thomas conhece todas as minhas roupas e todos os meus piores looks que já me vesti antes. Pensei. Mas porquê estou preocupada agora? De repente ouvi uma buzina. Olhei na janela e era ele me esperando no carro.

Borrifei o meu D&G no pescoço e bati a porta atrás de mim. Olhei para o carro e vi sua silhueta pelo vidro escuro. Respirei e fui até o carro.

- Oi... Ele disse com meio sorriso.
- Oi...

Olhei para o display azul do rádio e percebi que estava sintonizado em uma rádio que eu simpatizava. Fiquei satisfeita com aquilo.

- Você gosta dessa rádio? A pergunta dele me assustou, era como se estivesse dentro da minha mente.
- Gosto sim, simpatizo muito com ela. Respondi um pouco em dúvida ainda se era muito fácil de me ler, ou se ele tinha poderes psíquicos.

Eu olhei para ele dirigindo, e depois fiquei perdida em meus pensamentos olhando para as luzes dos carros que passavam contra nós.

- O que foi? De repente ele perguntou.
- Nada, só... É estranho.
- O quê é estranho? Ele parecia confuso.
- Você e eu indo para a casa dela e chegando juntos...
- Como assim? Nada a ver...

Aquela ultima frase dele proferida rendeu uma boa parte da atenção dos meus nervos naquela hora. O que ele queria dizer com "nada a ver"? Era tipo um nada a ver, nós não temos nada a ver estar juntos ou "nada a ver" eles vão entender que estamos começando a sair juntos? Urgh ele me deixava louca e paranoica. Odiava parecer essas pessoas que ficam criando diálogos possíveis que nunca aconteceram na realidade.

Eu precisava esquecer aquilo. Thomas desligou o carro. Eu não tinha a menor ideia do que eu estava fazendo ali. Eu fiquei imóvel sentada no banco e ele tirou as chaves da ignição e me olhou.

- Vamos?
- Hmm ... Não tenho certeza se quero descer do carro...
- Ué! por quê? A Annie é nossa amiga!
- Você tem certeza que eu fui convidada?
- Sim... Podemos ir agora Bia?

Eu ainda não tinha certeza se queria entrar, mas abri a porta do carro e respirei o ar da rua. Tinha um ar fresco a noite. Provavelmente eu sentiria frio, pensei. Tentei ao máximo não pensar nas pessoas que estariam ali, mas no momento em que a porta se abriu e eu vi todos aqueles pares de olhos nos fitando, esqueci completamente do que vinha desde o caminho de casa trabalhando para evitar. De súbito senti calor em minhas maçãs do rosto e ninguém precisava me dizer que eu estava como um pimentão. Era lógico que Thomas não tinha avisado ninguém que eu iria lá. Estava na cara deles estampado.

Annie caminhou em minha direção e me abraçou acolhedoramente. Ao olhar melhor percebi que todos estavam em casais ali e inevitavelmente era como se fôssemos um também. No começo Thomas ficou ali comigo, mas percebemos que o grupo estava dividido entre homens e mulheres.

Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora