Outono em mim

Será que foi o vento que te trouxe?

Capítulo 19

Duas palavras gigantescas:
"Sinto muito"
- A menina que roubava livros

Você espera tanto por uma determinada coisa e quando finalmente isso acontece, parece que tem algo errado. Tudo parece uma mentira. Eu jamais poderia prever que isso estava vindo. Eu tinha sido acertada e não tinha a menor ideia do que me atingia.

- Eu te amo. Foi o que ele disse.

Nunca imaginei que três palavras em uma sentença iriam mudar a minha vida para sempre. Mas aparentemente as coisas mais importantes acontecem quando estamos distraídos. A vida tem dessas artimanhas, adora nos pregar uma peça para nos dizer que é ela quem manda, e que o óbvio não é o seu lema.

Eu senti um formigamento no meu corpo inteiro e minhas pernas começaram a tremer sem a minha permissão. Ainda bem que estava escuro dentro do carro, pensei. Sem querer, não sei se por nervosismo ou sarcasmo, soltei uma risada baixinha e não consegui disfarçar minha incredulidade após ele dizer que me amava.

- Você não acredita em mim? Ele disse confuso.
- Dificilmente... Respondi.
Soltei uma outra risada. Ok, isso tinha que parar. Thomas endureceu o seu rosto e depois suavizou.
- Olha eu... Eu sei. É difícil acreditar, mas eu te amo de verdade... E se você quem sabe me perdoar... - ele parou por um momento e continuou - ...Eu estarei aqui, leve o tempo que levar, vou estar aqui esperando por você... Sei que eu não te mereço, mas se você me der uma chance, eu prometo, nunca mais eu vou fazer você chorar...

Cada palavra era surreal de mais para um único dia, um único momento. Eu nunca conseguia prever o próximo passo de Thomas e aquilo me deixava louca. Eu não sabia o que fazer. Não saberia dizer se eu estava feliz ou triste. No fundo, eu estava muito chateada. Por tudo que aconteceu, por todo esse tempo ele ter esse sentimento e fazer nós passarmos por tudo isso. Por fazer eu ter passado por tudo isso sem a mínima necessidade.

De repente percebi que ele estava esperando uma resposta minha.
Eu pensei cautelosamente em cada palavra que iria dizer.

- Acho que deveríamos esperar um pouco...

Olhei para as minhas mãos, eu estava suando. Arrastei elas na minha roupa e sequei rapidamente.

- Você me machucou muito no passado, e isso tudo é muito para mim agora.

Ele me observava e parecia prestar atenção em cada palavra que eu disse naquela hora. Ficamos em silêncio por um instante. Thomas olhou para mim e disse - Você não sabe como eu fico feliz em ouvir isso...

Eu fiquei sem entender e ele continuou me olhando em silêncio com um meio sorriso que eu pude perceber através das luzes dos postes.

- Eu não tenho pressa... Thomas disse.

Eram quase 2 horas da manhã e eu estava ali, dentro daquele carro ouvindo coisas que eu tinha esperando por muito tempo, mas que agora, pareciam mais uma peripécia que a vida tinha me colocado.

- Bom eu... Eu acho que vou indo... Está tarde e... Enfim...

Eu não sabia o que fazer ou falar exatamente, porque na realidade eu estava entorpecida. Aquilo tudo era uma utopia sem igual. Acho que estou dormindo e não acordei ainda, e sei que daqui a pouco vou acordar feliz, e impetuosamente ficar decepcionada porque estava apenas dormindo. No fundo eu sabia que aquilo não era real. Não poderia ser.

- Boa noite. Enfim consegui dizer.
- Boa noite...
Eu abri a porta do carro e sai rapidamente.
- Bia...?
Eu voltei e me abaixei na janela no carro para poder o seu rosto.
- Eu não vou a lugar algum... Fica com Deus.

Com Deus eu sempre estou, pensei. Agora com você... Já são outros quinhentos. A bipolaridade de Thomas me assustava e nem sempre eu conseguia fôlego para estar no mesmo passo que ele.

Estar com ele era como tomar banho em um lago; você não tem como saber a profundidade dele, a não ser entrar e entrar, e quanto mais você entra, mais riscos corre de se afogar. E eu precisava desesperadamente aprender a nadar para continuar naquelas águas escuras, na qual eu não conseguia enxergar um palmo abaixo.

Capítulo 19, Outono em mim