As folhas secas do outono que caíram de mim, fiz de confete para o nosso amor..

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Capítulo 56

A vida, muitas vezes nos presenteia de uma maneira que não temos como agradecê-la.

Da primeira vez em que eu e Thomas ficamos juntos, estávamos tão ocupados com o futuro, que colocavamos qualquer coisa a frente do nosso relacionamento porque erroneamente pensávamos que éramos fortes o suficiente, e que nada poderia acabar com o que tínhamos. Mas eu estava errada, Thomas estava errado. O amor precisa de cuidados, sempre precisa. Fomos imprudentes e prepotentes em relação a nós mesmos.  Amor precisa de atenção, de persistência. É como ter uma cacto, e achar que nunca precisa se preocupar em regá-lo porque ele aguenta muitos e muitos dias sem água. Mas toda planta precisa de água.

Agora eu vivia um dia de cada vez e era delicioso não se preocupar com o amanhã. Thomas decidiu largar a empresa que criamos (que foi o começo de todo o nosso fracasso no relacionamento) e agora tinha começado a estudar novamente o trompete, que era o instrumento que ele amava.

Ele começou a frequentar a minha casa de novo, mesmo que as caras dos meus pais não fossem as mais receptivas. Demoraria muito tempo ainda para a minha família confiar em Thomas. Nos primeiros dias ele ouviu vários sermões dos meus pais dizendo que estariam de olho nele. Eu achava que tinha interpretado muito bem o papel de que estava bem, mas agora vejo que todos viram e acompanharam a minha dor em todo esse tempo de luto, todo esse tempo de… Outono em mim. Thomas tinha hora e dia para ir na minha casa assim com tinha hora para ir embora também.

Nos primeiros dias, era tomada pelo medo de não vê-lo chegar, mas ele sempre aparecia na minha janela, para minha surpresa. Era como se estivesse esperando ele ir embora a qualquer momento. Eu estava tomada pelo trauma da ausência dele. Embora o amasse de corpo e alma, ainda não tinha certeza sobre quanto tempo ele iria ficar desta vez, mas prometi a mim mesma que aproveitaria ao máximo o tempo que estivesse junto dele.

Estava indo para a casa de Thomas pensando sobre todas essas coisas. Se eu iria me machucar de novo eu não tinha como saber, mas  de qualquer maneira viver já é um risco, pensei. E se fosse para me machucar, que fosse machucada por Thomas então.

— Oi… — eu disse ao ver aqueles olhos profundos me fitando ao bater na porta da casa de Thomas.

— Oi amor…

Thomas  me beijou levando consigo todo o bom senso que tinha comigo. Cada vez que  o beijava, perdia a razão das coisas e qualquer sinal vermelho de “pare” da minha consciência. Simplesmente não tinha o mode stop quando estava com ele. Digamos que minhas ações não eram confiáveis quando se tratava de… Thomas.  Eu estava viciada nele. E você sabe qual é a possibilidade de um viciado injetar ou ingerir a droga pela metade? Zero. Eu não conseguia parar, não fosse ele ter boas maneiras e se afastar de mim.

— Hummm, vamos subir amor? — ele me convidou afastando o seu corpo do meu e segurou a minha mão.

— Uhum… — falei não querendo soltar a boca dele. Thomas me puxou pela mão e subi para o quarto dele depois de meses. Havia algumas coisas novas sobre a mesa, um abajur novo e a aquarela estava junto aos seus pincéis. Mas algo muito peculiar me chamou a atenção na sua nova decoração; na parede havia uma roda de carro entortada pendurada.

— O que é isso? — perguntei instantaneamente que vi.

— Isso aí é uma das coisas mais importantes que já adquiri na vida… Se não fosse por essa roda, não estaríamos aqui hoje…

— Essa é a roda daquele dia?

— Sim… Tem valor sentimental…

De repente me senti tão amada naquele momento olhando para aquele pedaço de ferro na parede, era uma sensação inexplicável. As coisas finalmente pareciam estar dando certo, como se aquilo fosse o marco do nosso amor, de onde tudo tinha recomeçado. Abracei Thomas e o beijei suavemente enterrando depois a minha cabeça no seu peito. Ficamos assim por algum tempo. Eu não queria sair dali dos seus braços.

Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora