Como a maioria dos sofrimentos, esse começou com uma aparente felicidade

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Capítulo 46

- A menina que roubava livros
Uma breve nota mental sobre os últimos dias que vivi, e que agora me veio à tona
olhando para Augusto, enquanto ele dormia descansado no meu ombro no avião: ele
era que nem a Bahia: quente, acolhedor e apaixonantemente feliz.

Eu e meus amigos nos despedimos daquela cidade maravilhosa e estávamos tão
exaustos que acabamos todos dormindo no vôo. Quando despertei e vi Augusto ao meu lado, dormindo com o rosto suave como se estivesse em um lugar muito bonito, me veio à lembrança da noite passada onde ele tinha me beijado de forma muito sutil segundos antes de se deitar na cama pensando que eu estava dormindo, quando na verdade eu ainda estava com o sono leve e acabei despertando com o toque da boca dele na minha.

Augusto continuava sendo Augusto, sempre carinhoso, gentil e com aqueles olhos que
sorriam para mim de uma forma que me dava uma força, sei lá. Era como se aquilo não tivesse existido. Ele passou o dia todo conversando comigo e sempre com alguma desculpa para encostar em mim. Embora eu achasse que ele falava de mais às vezes,
eu sabia que aquilo era uma maneira de prolongar o tempo comigo. Eu estava
machucada e vazia, mas não era estúpida.
Me doía não ter o poder de me encher de Augusto quando na verdade sabia que ele era o cara certo para mim. Mas eu estava cheia de Thomas ainda, e não tinha descoberto uma forma de conseguir seguir em frente. Eu sabia que ele não iria voltar. No fundo, naquela noite em que chorei no seu peito sem ele perceber e depois o beijei, senti que aquele seria o nosso último afeto trocado. Não sei explicar, eu simplesmente sabia.

- E aí Bia! Ficou com ele? - de repente Annie interrompeu meus pensamentos
quando estávamos dentro do carro saindo do aeroporto após ter nos despedido dos
meninos que iriam no outro carro.

- O quê? - perguntei instantaneamente mesmo tendo entendido a pergunta.- O
Augusto sua boba! Não se faça de desentendida! Impossível não ver, ele não
desgrudava de você e claro... Vocês dormiram juntos...

- Ah sim, o Augusto... Não! Você está louca!

- Ele está apaixonado por você!

- Não... Ele não sabe o que é isso. Se soubesse seria um coitado... Não estaria rindo daquele jeito, pensei.

- Bia escuta o que eu estou dizendo, ele só quer você! Quando você sai, ele fala de ti
o tempo inteiro! Precisa ver como ele ficou feliz só de ter se deitado contigo nesses
dias...

- Não Annie, ele acha que quer e você s acha que ele gosta. Augusto só está atraído
sexualmente por mim e nada mais. Pode acontecer com qualquer outra mulher, a
diferença é que só tinha eu nesses dias...

- Dá uma chance para ele...

- Annie... - suspirei - acho que eu não tenho nada a oferecer... Eu sou só mais uma
coisa quebrada sem conserto.

- Pare de bobagem!

Eu fiquei em silêncio. Não adiantaria explicar para ela, percebi que ninguém entenderia, muito menos Annie. Ninguém entende os nós que vão se criando com o tempo, das dores... Da saudade de uma coisa que nunca foi sua, mas que se teve a oportunidade de sentir o gosto e a sensação de ter possuído. Troquei de assunto e comecei a falar sobre a viagem, perguntando a ela qual o lugar que mais tinha gostado e assim ela se distraiu do assunto. Augusto continuava me mandando mensagens e conversávamos sempre que eu tinha tempo, e quando ele não me ligava, sentia falta. Ele era a única coisa que me distraía do meu mundo sombrio.

Quando chegou o final de semana, Augusto veio na minha casa e decidimos caminhar
para dar uma volta na rua. Ele me contou sobre a sua semana de trabalho após a
viagem e gostava também de mostrar a importância das coisas que ele executava na sua empresa. Às vezes me pegava rindo dele secretamente pelo seu jeito que parecia que iria mudar o mundo. A esperança dele me comovia. Caminhamos até chegar em um lago que havia por perto e contornamos lentamente conversando e ele maravilhado com a vista do lago me disse que deveríamos vir mais vezes ali correr e se exercitar.

Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora