Capitulo 44
Com o decorrer dos dias, e agora inevitavelmente meses, percebi que havia entrado em uma espécie de desligamento profundo e se me perguntassem o que eu fiz dos dias passados não saberia dizer exatamente com detalhes, pois tudo parece um borrão para mim.
Já não conseguia sentir mais nada, se não fosse a dor a única coisa a me companhar da saída de casa até a chegada da mesma quando o crepúsculo me cumprimentava na rua.
Eram dez da noite e eu estava indo embora com dois colegas da sala de aula. Eles estavam falando sobre alguma feira literária que começaria na cidade, mas aquelas vozes estavam muito distantes de mim para realmente saber ao certo, pois estava com eles apenas com meu corpo. Quando me despedi e saí da área coberta, comecei a caminhar sobre a grama em direção ao estacionamento e de repente senti algo na minha pele, e quando olhei, reconheci as gotas de chuva me molhando aos poucos e foi uma sensação tão diferente, porque depois de meses eu senti algo, eu senti a chuva.
Instintivamente o vento soprou e me arrepiei puxando a jaqueta para fechá-la. Já não parecia mais outono, o vento me dizia que o inverno estava próximo e eu tinha que me preparar para tal estação. Era ele, o inverno me cumprimentando, era só mais outra estação que teria de enfrentar sozinha, enfrentar sem... Ele.
Embora eu já me sentisse o próprio outono, senti o inverno me abraçando me dizendo que pertencia a ele.
Três meses. Faziam exatamente três meses em que me tornei outono após experimentar o melhor verão da minha vida.
As estações mudaram, exceto que apenas elas tiveram esse avanço, porque eu, eu nem sabia o que eu estava fazendo com a minha vida, nem tão pouco sabia para onde ir. Faltavam dois dias para viajar com os meus amigos e tudo que eu conseguia pensar era em qual a próxima distração que eu teria que arranjar a noite para conseguir dormir sem pensar no rosto dele ao fechar os olhos. Meus amigos estavam entusiasmados em viajar e eu modéstia a parte, interpretei muito bem meu papel de interesse mútuo. Augusto conversava comigo todos os dias, e essa sinceramente, era a melhor parte do meu dia.Com ele a ferida parecia não existir. Além de ser o meu sol particular, agora ele era o meu sal também, que rapidamente me fazia sentir melhor, e às vezes com muita sorte, quase conseguia me fazer esquecer completamente Thomas.
Quase.Thomas.
Essa palavra não era anunciada há muito tempo e meu estômago embrulhava nervoso quando citado por acidente na minha própria mente. Chegou finalmente o dia em que teríamos que embarcar. De súbito fiquei em um estado de entusiasmo tanto quanto aos que iriam comigo, mas por mais que eu adorasse Augusto e amasse conhecer lugares diferentes, fiquei imaginando que isso tudo poderia ter sido diferente, se ele não tivesse ido embora. Eu trocaria qualquer coisa por aquela felicidade e excitação que sentia só de ver o carro dele estacionando em frente à minha casa. Mas eu não poderia barganhar, não era algo que estivesse no mercado para negociar... E eu não era um produto tão atrativo para isto também. Quando ele ficou em silêncio ao perguntar se me amava, eu já sabia que não era uma grande coisa para discutir com ele e dizer: "Hey você não vai encontrar alguém como eu! Você sabe o que está perdendo?" porque tinha consciência de que não era grande coisa assim, e com certeza havia melhores pessoas do que eu para o cargo de namorada.
A única certeza que eu tinha, era que talvez nunca ninguém o amou tanto quanto eu. Mas isso não era o suficiente para ele talvez.
Durante o vôo, Augusto ficou me mostrando a sua play list no celular e ali rimos um pouco de algumas músicas e outras discutimos sobre o cantor que a cantava.
Chegamos finalmente na Bahia e nossa, ela era linda. Caminhávamos pelas ruas afobados em passos apressados sem reparar, pela vontade de conhecer o que haveria na próxima esquina. Tínhamos reservado dois quartos para ficarmos confortáveis e daí decidimos que eu e a Annie ficaríamos em um quarto e outros nossos dois amigos em outro. Sem perder tempo, fomos ao centro histórico da cidade e caminhamos até não aguentar mais, tirando fotos e degustando a comida local.
Na volta, chamamos um táxi e Augusto sentou ao meu lado o que era completamente normal, não fosse o seu braço por cima do meu ombro e o carinho que ele começou a fazer no meu cabelo. Aquilo era novo pra mim. Não recebia nenhum toque assim desde que...
Meu corpo gostou daquilo e pedia por mais, mas a minha mente sabia que o que ele queria era outra coisa. E eu estava quebrada. E coisas quebradas não funcionam como deveriam.
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Outono em mim
Romance" Eu adoro quando esquece teus olhos sobre os meus... " "Outono em mim" vem com todo sentimento que grita em nosso peito todos os dias, no sentido do outono que vem o vento e derruba todas folhas ao chão.. Que refletindo aos nossos sentimento tos, e...