Foi a lua nova que trouxe a primeira?

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Capítulo 16

1 dia antes

É injusto ficar sempre sofrendo por antecipação. Mas é no mínimo loucura também achar que se jogando em um abismo você não vai se machucar. Talvez uma das definições sobre amar seja isso, correr riscos. Se jogar em uma grande talvez.

E eu estava inevitavelmente nessa toada. Eu não sabia se era na próxima cena em que eu iria morrer, mas estava muito feliz a cada uma em que continuei viva.

Os horários de Augusto não fechavam com o meu então cada dia que passava ficávamos mais distantes. Aquilo me chateava a cada dia, mas às vezes a gente tem que aceitar que o mundo vai girando e por mais que tenhamos amigos, cada um está em um passo diferente um do outro, e por isso nem sempre vamos nos topar no mesmo lugar.

Mandei um convite a ele para ir no restaurante Buona pasta para comermos uma pizza no meu aniversário amanhã e ele respondeu rapidamente confirmando presença. Eu sorri olhando para o computador.

E assim eu fiz para todos os meus amigos, exceto por um: Thomas. Eu fiquei na dúvida se o ato de convidar ele iria parecer muito o tipo "ei vamos sair" mas a verdade é que eu queria muito ele lá. Então mandei uma mensagem extremamente formal à ele dizendo:

Olá,
Amanhã estarei comemorando o meu aniversário no restaurante Buona pasta às 9:30 da noite, conto com sua presença!

Escrevi como se fosse um texto copiado e colado para todos amigos, exceto que não. Ele era o único a ter recebido o convite daquela maneira.

E para minha não surpresa, ele não respondeu como sempre. Um dia quer, noutro não quer. Uma hora dessas ainda mando ele longe, pensei. Tentei esquecer esse assunto e fui dormir, afinal, nada que um sono não fizesse esquecer o que a mente insistia em lembrar.

Acordei pela manhã sendo abraçada pelos meus pais e meus irmãos todos me apertando e aproveitando o máximo do momento, já que eu não era de muitos beijos e abraços. Eu costumava dizer que meu aniversário era o dia da vingança por todos os beijos e abraços que não dava neles, e eles usavam até o último minuto desse dia.

Cheguei no trabalho e fui recebida com um pequeno bolo e todos cantando parabéns. Foi tão bonitinho... Eu estava muito feliz. Mas uma coisa estava me incomodando, meus amigos. Nenhum deles tinha me mandado sequer alguma mensagem. No final da tarde eu já estava contando as horas para ir embora e sempre com aquele pensamento martelando minha mente sobre eles.

Vim caminhando pela rua sentindo aquela suave brisa fresca, ventos de abril. Aqueles dias típicos de noites fresquinhas beirando ao frio. A vida estava tão bonita naquele ângulo, o balançar das árvores, as folhas bem verdinhas, as nuvens passando depressa e mudando o tempo todo de imagens abstratas. Aquele friozinho do vento batendo no rosto e ao mesmo tempo o sol confortando os pêlos dos braços. Fui atravessar a rua e um carro parou para eu passar. Percebi então que ainda existia gentileza no mundo e que a vida tem muitos lados bonitos quando queremos realmente ver. São pequenos milagres que vão nos dando esperança de seguir em frente.

Olhei para a minha casa, estava do mesmo jeito. Fiquei procurando as minhas chaves, eu nunca sei onde as coloquei. Quando finalmente abri a porta, achei estranho minha casa nunca fica com todas as luzes apagadas. Tateei até o interruptor e quando liguei

- Surpresa!!!!

Todos falaram em uníssono e eu percebi que havia muitas pessoas ali naquela sala. Primeiramente estava me recuperando do susto até perceber do que se tratava, muitos vieram me abraçar e eu mal consegui me situar sobre o que acabara de ocorrer. Augusto me abraçou e me rodopiou e depois me entregou uma sacola com um bilhete sorrindo como sempre, o meu sol particular. O perfume dele era extremamente bom, mas eu estava tão feliz por vê-lo! Fazia muito tempo que não nos víamos.

- Você!! Me enganou direitinho!
- Claro né! Por isso chamamos isso de surpresa! Augusto sorria e me abraçava de lado apertando meus ombros enquanto outros tentavam conversar comigo.A Annie veio me abraçar com aquele sorriso de criança que fez alguma travessura. Eu olhei nos olhos dela e sorri - obrigada - foi o que eu disse e ela me abraçou.
- Essa noite é só sobre você... ela disse no meu ouvido. Eu não entendi o que ela queria dizer até que quando abri meus olhos que ainda estavam fechados do abraço dela vi ele. Thomas me olhando no canto da sala. De súbito senti um calafrio até as pontas dos pés e soltei o abraço de Annie. A medida em que ele vinha se aproximando de mim, comecei a sentir uma espécie de mal estar e tremuras no corpo.
- Oi. Ele disse
- Oi. Respondi.

Ele chegou mais perto e me abraçou. Naqueles breves segundos o tempo parou. Tudo que eu conseguia sentir era o seu peito encostado no meu, seus braços envoltos no meu corpo, o seu rosto roçando a sua barba mal feita nas minhas bochechas.

- Parabéns, Bia...

Aquela voz grave em meus ouvidos me arrepiou todos pêlos do meu corpo e eu queria desesperadamente mais daquela voz no meu ouvido.

Depois que ele me soltou, cocei o nariz e senti o cheiro dele em mim. Era a melhor coisa que já me tinha acontecido.

Fui dar atenção para todos e agradecer a cada um que estava ali participando e de alguma forma mostrando em um simples gesto o carinho que sentem por mim. As horas foram passando e no final ficaram poucos sentados na sala. Thomas estava na varanda com o Rafael conversando. Eu me aproximei deles e o Rafael de repente disse que tinha que pegar uma bebida.

- Você sabia de tudo né...
- O tempo todo... Ele sorriu.
- Não achei que se importasse, respondi sinceramente.
- Impossível.

Ele colocou as mãos na madeira e olhou para o céu. Eu segui o olhar dele e fiquei olhando também. Tinha umas poucas nuvens no céu, mas a lua nova não estava se importando para elas querendo fazer cortina ao seu espetáculo solo.

- Obrigada. Foi tudo o que eu disse.

Naquela noite ninguém iria se render.

Capítulo 16, Outono em mim

Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora