Nunca imaginei que o vento doía

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Capítulo 41




"There's a possibility..."



"There's a possibility..."




Ao som de Lykke Li eu estava no meu quarto debruçada na minha cama tentando inutilmente dormir em uma tentativa desesperada de esquecer, pensando que tudo que tinha acontecido não passava de um pesadelo e que quando acordasse tudo voltaria ao normal. Daqui a pouco o meu celular vai vibrar e eu vou falar com ele, pensei. Era como se a qualquer momento ele fosse bater na minha porta e nós nos beijaríamos calorosamente e riríamos por alguma coisa besta na TV, ou então, eu ouviria o barulho do carro dele estacionar e buzinar a qualquer minuto e eu bateria a porta atrás de mim correndo para sairmos.



Os galhos das árvores balançavam em atrito uns com os outros formando barulhos fantasmagóricos na rua, fazendo também com que as sombras parecessem ter vida sob as luzes dos postes. Estava frio o suficiente para eu querer me agasalhar um pouco mais. Abri a gaveta do meu roupeiro e pus um par de meias e um moletom velho para me agasalhar melhor, mas nada conseguia me deixar aquecida, eu estava tremendo. Acho que eram os nervos, pensei. Na casa havia ainda o perfume dele e os ecos da minha solidão batendo de uma lado para o outro. Eu conseguia ouvir a minha própria respiração pesada no quarto. Eu não queria chorar, porque no fundo sabia que se eu estivesse chorando é porque isso queria dizer que era real, e eu queria me manter assim a todo custo enquanto aguentasse. Só queria pensar que era um vento ruim, uma frente fria apenas passando na minha vida e que logo o sol voltaria, aquele vento iria cessar, o calor iria voltar. Mas o verão se tinha passado e agora inegavelmente era outono, e estações são dadas apenas uma vez ao ano. Não existe verão o ano todo. Não na minha cidade pelo menos. Não na minha... Vida.



Apenas queria dormir por anos e acordar somente quando tudo isso voltasse ao normal. Ficava imaginando quando eu saísse com os meus amigos e quando eles me vissem chegando sozinha, me perguntariam onde estaria o Thomas e eu não saberia o que dizer. Comecei a sentir um desespero, um nó na garganta, meu corpo tremia por inteiro como se a qualquer momento fosse morrer ou entrar em colapso. Onde ele estaria? Trabalhando? Em casa? Saindo com os seus amigos? Ou talvez ainda, saindo com outra...?



Não estou conseguindo respirar. Será que...? Não. Ele não é assim. Não iria estar com outra tão rápido, pensei. Fiquei imaginando em todas as vezes em que as pessoas me perguntariam dele e inegavelmente eu teria que dizer que tinha acabado. Acabou. É engraçado como 6 letras podem mudar a sua vida. Agora éramos completos estranhos novamente. Ele não me devia satisfação. Eu não poderia mais perguntar sobre o seu dia. Eu não tinha mais esse direito. No primeiro instante, pensei em uma medida desesperada: ir na sua casa e pedir para voltar e dizer que eu não conseguiria viver sem ele, que mudaria o que ele não gostava, que faria de tudo para que desse certo, mas a Annie não deixou, ela disse que era estúpido, eu tinha que deixar ir. Ela foi a primeira a saber depois de minha mãe que obviamente não precisava dizer, mães tem esse extinto cruel de saber as coisas antes de qualquer palavra ser anunciada.



- Deixar ir. Você não precisa disso. - a voz dela batia e rebatia em minha mente. Deixar ir. Como deixar ir alguém tão importante da sua vida?



Depois de que levantei essa hipótese em voz alta, de ir lá e implorar para que ele reconsiderasse, era como se a realidade tivesse entrado como uma faca no meu estômago. Quis vomitar. Eu estava a ponto de fazer a última humilhação de que sempre desprezei: mendigar amor. Nunca estive tão aliviada em falar isso em voz alta para Annie, assim ela me impediu de fazer a maior burrada da minha vida. Era tão estranho pensar que agora eu não saberia mais dizer se ele estava bem ou em que lugar estaria. Era estranho saber que já eram quase meia noite e ainda o celular não tinha tocado.



Deitei na cama e fiquei olhando para o teto. A música acabou e eu senti arrepios por estar destapada então puxei o edredom para mim. Fiquei imóvel ali esperando que algo acontecesse. Senti a primeira gota de chuva caindo, mas era estranho, ela estava quente e eu não conseguia ouvir barulho nenhum de chuva escorrendo pelo telhado ou na janela. Senti uma coceira no meu rosto e percebi que estava com o rosto completamente molhado, foi quando despertei. Eu tinha caído no sono. Ainda imóvel, abri meus olhos e mal conseguia enxergar o teto, tudo estava um borrão.



E naquele silêncio fiquei, encarando o teto deixando as lágrimas caírem até encostar no meu travesseiro. A medida em que caía, sentia meu travesseiro molhado e ficando gelado, me causando arrepios de frio. Era real. Eu sentia cada gota descendo pelo meu rosto. Chorar desta vez foi tão natural quanto o cair em um sono, mal pude sentir. Mas aquela água salgada estava ali para me lembrar que o telefone não iria tocar. Ninguém buzinaria lá na rua. A campainha não iria tocar e eu nunca mais sentiria o toque dos lábios dele. Aquele corpo nunca seria posse minha e eu nunca habitaria nele. A realidade chegava a cada gota quente que rolava na minha pele. Mas agora não eram mais gotas, era um rio de lágrimas. Mal conseguia conter com as mãos, então desisti. Apenas fiquei ali, imobilizada sentindo a dor de algo que nunca iria ter, completamente incapaz de me mover daquela cama, sentindo uma dor tão forte que parecia ser física. Era como se alguém tivesse cravado uma faca no meu peito e a cada flash de lembrança que chegava parecia como se estivesse girando aquela faca naquele buraco, cortando um pouco mais, sangrando um pouco mais. A dor era a única coisa que me fazia acreditar que era real, que eu tivera passado breves momentos de felicidade com ele, sentindo o seu gosto, compartilhando as risadas mais felizes da minha vida. A dor era a única coisa que agora eu tinha dele.



Capítulo 41, Outono em mim



Outono em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora